WWF: terras indígenas são fundamentais para proteção de onças-pintadas
Na Amazônia, as terras indígenas são o principal reduto para proteção e conservação das onças-pintadas, aponta estudo
atualizado
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As terras indígenas demarcadas são a chave para proteção da onça-pintada, um dos principais símbolos da fauna brasileira. Entre as 447 terras protegidas na Amazônia, 330 são as reservas dos povos originários consideradas como santuários para preservação do felino, segundo aponta uma pesquisa publicada na revista científica Nature, nesta quarta-feira (15/2).
O estudo contou com a participação de pesquisadores da organização não governamental (ONG) WWF, em conjunto com o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Os pesquisadores apontam que a Amazônia representa o maior reduto das onças-pintadas no Brasil, cujo habitat se espalha por uma área de 9 milhões de km². Entretanto, a invasão de garimpeiros ilegais, aumento da agricultura e obras de infraestrutura ameaçam o local de preservação desses animais.
Com o aumento do desmatamento para criação de gado, o estudo aponta que entre 110 e 150 onças-pintadas e suçuaranas podem ser mortas anualmente devido à caça e a envenenamento.
A pesquisa analisou 447 áreas de preservação na Amazônia, uma área de 1.755.637 km², e constatou que 41,7% das onças-pintadas do bioma estão localizadas dentro desses territórios. Desse total, 63,2% dos felinos vivem dentro das terras indígenas, com uma extensão de 1.120.738 km².
As terras indígenas com maior índice de preservação das onças-pintadas são: Apyterewa, Araribóia, Cachoeira Seca, Kayapó, Marãiwatsédé, Parque do Xingu, Uru-Eu-Wau-Wau e Yanomami.
As áreas protegidas Estação Ecológica da Terra do Meio e o Parque Nacional Mapinguari juntamente com as oito terras indígenas são responsáveis pelo abrigo e conservação de 3.511 onças-pintadas – 13,2% da população total estimada dentro do território analisado pelos pesquisadores.
“Estes espaços são centrais para a salvaguarda da biodiversidade, mas estão sob múltiplas pressões geopolíticas”, afirma Marcelo Oliveira, coautor do estudo, especialista em Conservação e líder programa de proteção de espécies ameaçadas do WWF-Brasil.
O coordenador do Cenap, Ronaldo Morato, destaca que o governo federal deve empenhar esforços para manutenção e conservação dessas unidades de proteção ambiental, para garantir a sobrevivência das onças-pintadas na Amazônia.
“Com uma Amazônia em rápida mutação e um financiamento limitado para a conservação, o estudo é fundamental para assegurar que as ações de conservação sejam dirigidas de maneira eficaz para onde são mais necessárias e possa proteger o maior número de onças-pintadas”, diz Morato.
Segundo os pesquisadores, é necessário maior investimento do governo federal para proteção e proibição de uso indevido do solo dentro das áreas de conservação.
“O monitoramento participativo com protagonismo das populações da floresta e a utilização de tecnologia são estratégias importantes para compreender a delicada biodiversidade do bioma amazônico, e ajudam a conceber políticas e estratégias sólidas para a sua conservação”, destaca o pesquisador Marcelo Oliveira.
Atividades para proteção das onças-pintadas
O estudo publicado na revista científica Nature destaca a importância do aumento do financiamento para proteção das áreas de conservação e terras indígenas. Além disso, destaca a necessidade da recomposição e ampliação do trabalho do ICMBio e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) dentro desses território.
“Precisamos também de manter a conectividade entre elas através de corredores seguros e de um planejamento sólido do uso do solo para assegurar o fluxo genético. Em última análise, conservar onças-pintadas significa conservar grandes áreas da Amazônia, com importantes benefícios planetários”, declara a Valeria Boron, coautora e conselheira sênior de Programas na WWF-UK.