Weintraub, é você? Mario Frias vira a voz da direita radical no governo
Secretário de Cultura usa a estrutura do governo para brigar com anônimos e famosos nas redes sociais, garantindo a sobrevida das polêmicas
atualizado
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A aliança com o Centrão e pressões internas forçam o governo de Jair Bolsonaro a um pragmatismo que tem sufocado sua ala mais radical, como ficou claro com a demissão do ex-ministro Abraham Weintraub. As derrotas em algumas batalhas, porém, não destruíram o ímpeto dos combatentes da guerra cultural, que encontram no secretário especial de Cultura, Mario Frias, o novo criador de polêmicas ideológicas da República.
O ator não chega a ser um olavista raiz, como Weintraub ou o chanceler Ernesto Araújo, mas segue e curte o guru nas redes sociais, além de interagir com porta-vozes do olavismo, como o influenciador Allan dos Santos, investigado em inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele também nomeou o olavista Maurício Noblat Waissman como secretário nacional de Desenvolvimento Cultural.
Apesar de “novato” no olavismo, porém, Frias, que fez carreira na Globo, mas diz que se sentia “um ET” por ser de direita no meio artístico, tem se convertido na voz mais estridente dentro do governo nas críticas aos adversários declarados ou não de Bolsonaro.
Nesta semana, o secretário de Cultura virou notícia ao se enfurecer por ter sido parodiado pelo humorista Marcelo Adnet e usou os canais oficiais para atacar o artista, a quem chamou de “palhaço decadente” e de “bobão”.
Alvo de críticas pela reação e pelo uso da estrutura estatal para se queixar de uma peça de humor, Frias partiu para o ataque aberto nas redes sociais. Bloqueou perfis aos montes e xingou anônimos e famosos, muitas vezes tentando desqualificar suas carreiras.
A uma postagem da cantora e compositora Zélia Duncan, Frias respondeu: “CHOLA CHOLA CHOLA e não afina kkkk”. Ao cantor Tico Santa Cruz, líder dos Detonautas, perguntou se já tinha conseguido “afinar cantando parabéns para você”.
Veja as interações do gestor público nas redes sociais:
E sobrou mesmo para perfis mais à direita que não gostaram do comportamento do gestor público. Ao ex-candidato à presidência pelo Novo em 2018, João Amoedo, que disse ser “inadmissível um órgão oficial que vive às custas dos nossos impostos, criticar e tentar restringir a liberdade de expressão”, Frias chamou de “inócuo”.
Bunker radical
Ao adotar o clima belicoso, Frias mantém a Secretaria Especial de Cultura como um dos lares do radicalismo e das polêmicas no governo.
O ator teve como antecessores no cargo a também atriz global Regina Duarte, que resistiu poucos meses ao se enredar com a burocracia estatal e com os olavistas, e o dramaturgo Roberto Alvim, que também fazia a guerra cultural a todo custo, mas foi demitido em janeiro deste ano após divulgar um vídeo com referências nazistas.
A Secretaria de Cultura foi procurada para que Frias comentasse as críticas, mas não houve resposta até a publicação desta reportagem. O espaço continua aberto.
Olavismo enfraquecido
Apesar das bravatas de Mario Frias, a ala mais ideológica do governo está enfraquecida. Weintraub foi demitido, Araújo não tem se envolvido em polêmicas e o assessor presidencial Filipe Martins, aluno de Olavo de Carvalho, perdeu influência sobre as decisões palacianas à medida que o Centrão e os militares ocuparam espaços.
Acompanhou essa perda de influência uma série de derrotas dos apoiadores radicais de Bolsonaro na Justiça. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, acabou com os atos dos “300 do Brasil” ao prender alguns de seus líderes em junho e, esvaziou as ruas ao investigar o financiamento de manifestações com pautas antidemocráticas.
Desde então, Olavo de Carvalho tem cobrado – sem sucesso – que o presidente da República saia em defesa dos apoiadores ideológicos.
Atacado em seu ganha pão – o financiamento de seus vídeos e cursos na internet –, o guru bolsonarista segue jurando lealdade ao presidente e ao governo, mas tem subido cada vez mais o tom das críticas. Veja postagem de Olavo nesta segunda (7/9):