“Vou ver o que posso fazer”, disse Temer, segundo dono da Rodrimar
De acordo com o empresário, o presidente teria se comprometido a avaliar embargo de obra no Porto de Santos (SP)
atualizado
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Antônio Celso Grecco, dono da Rodrimar, afirmou à Polícia Federal, em depoimento nessa quinta-feira (29/3), ter ouvido do presidente Michel Temer (MDB) promessa em relação ao embargo de uma obra no Porto de Santos (SP) de interesse do grupo. “Vou ver o que posso fazer”, teria dito o emedebista.
Conforme nota da PF, “o declarante tinha como projeto realizar o processo de adensamento com a área vendida para a JBS (Rishis), junto aos órgãos públicos, mas jamais disse a Joesley Batista ou Ricardo Saud (executivos da J&F, controladora da JBS) que conseguiria isso com Temer. A resposta do presidente foi simplesmente: ‘Vou ver o que posso fazer’. Grecco completou com uma ressalva: ‘Até a presente data, nada foi feito”.
Grecco foi preso na Operação Skala, deflagrada com o objetivo de investigar supostos benefícios à Rodrimar na edição do Decreto dos Portos em troca de propinas destinadas ao presidente da República. Além do empresário, a Polícia Federal prendeu, por ordem do ministro Luís Roberto Barroso, amigos e antigos aliados de Temer, como o advogado José Yunes e o ex-ministro Wagner Rossi (Agricultura).
Em longo depoimento à PF, Grecco relatou transações envolvendo a Eldorado Celulose, do Grupo J&F, para compra de uma área da Rodrimar no Porto de Santos. Disse também que montou a Rishis visando negociar com a empresa Estrada.
“A Eldorado queria adquirir a Rishis e os armazéns 3 e 8, o que acabou ocorrendo parcialmente. A intenção posterior era montar um grande terminal de celulose, mas o governo não autorizou tal compra”, declarou.
Ainda segundo Grecco, “em nenhum momento Michel Temer, na época, vice-presidente, ou pessoa a ele relacionada, a exemplo de José Yunes ou Rocha Loures, tratou sobre a operação Rodrimar/Eldorado”.
Yunes, advogado e empresário, é amigo de Temer há mais de 50 anos. Rocha Loures foi assessor do emedebista até ser flagrado, em abril de 2017, com uma mala de R$ 500 mil de propina da JBS, supostamente endereçada ao chefe do Planalto.
Ricardo Mesquita, diretor da Rodrimar, também teve o nome mencionado. Grecco acredita que o executivo pode ter tido “contato com algum dos citados” para tratar do adensamento das áreas “porque a questão foi levada a vários órgãos do Governo Federal”.
“O declarante esteve uma vez em Brasília, acompanhado por pessoas da Eldorado e tratou diretamente com a vice-presidência. Ele foi apresentar o projeto de adensamento (integração das áreas 3, 8 e Rishis) para a construção do terminal de celulose. Disse ter conhecimento de que pessoas ligadas a Eldorado estiveram também na Casa Civil e no Ministério dos Transportes, todavia o projeto nunca foi aprovado”, segundo registros da PF.
Negociação
À Polícia Federal, Grecco afirmou que o coronel da reserva da PM João Baptista Lima Filho, também amigo de Temer, “não participou da transação ou mediou algum encontro, nem qualquer tipo de ingerência” na Rodrimar.
“Não houve o intermédio de político na negociação e resolução de problemas administrativos sobre o tema. Uma das obrigações da venda não foi cumprida porque não teve autorização do governo para a junção de áreas no Porto, no formato de adensamento. A Eldorado/JBS não solucionou o imbróglio e as áreas ainda pertencem ao declarante”, garante a PF.
O empresário disse não ter “conhecimento do envolvimento do presidente Michel Temer no tocante às transações da venda da área da Rodrimar à Eldorado ou em relação à solução de algum dos problemas administrativos”.
Grecco afirmou que “os únicos negócios firmados pela empresa dele com o Grupo J&F foram realizados com a Eldorado”. Declarou ainda não saber informar a ligação do presidente com o Porto de Santos.