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“Vontade de arrancar a cabeça”: PMs agiotas traficavam e matavam no CE

PMs agiotas se organizavam em grupo de WhatsApp para combinar execuções de suspeitos e outros crimes. Quatro já foram presos

atualizado

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Montagem/ Yanka Romão
Montagem com fotos coloridas de policiais que suspeitos de milícia em Fortaleza agiotas - Metrópoles
1 de 1 Montagem com fotos coloridas de policiais que suspeitos de milícia em Fortaleza agiotas - Metrópoles - Foto: Montagem/ Yanka Romão

Um grupo formado por 10 policiais militares e um guarda municipal tocava o terror em Fortaleza (CE), em um esquema envolvendo PMs agiotas, tráfico de drogas e homicídios. É o que afirma o Ministério Público do Ceará (MPCE) em investigação que perdeu o sigilo nesta semana. Quatro foram presos no dia 14 de novembro.

Segundo o inquérito, os milicianos eram comandados pelo cabo José Otaviano Silva Xavier, o Cabo Xavier, de 38 anos. Os crimes pelo grupo eram combinados e relatados em um grupo de WhatsApp, chamado “Grupo dos Amigos”, seguido pelo emoji de dois homens com orelhas de coelho.

Também são investigados outros grupos, como um denominado “Os Justiceiros”.

Montagem colorida de grupo de WhatsApp - Metrópoles
PMs usavam grupo de WhatsApp para planejar crimes

Em uma das mensagens, Cabo Xavier relata sobre uma ocasião em que prendeu um suspeito de matar um guarda: “No dia que mataram o guarda lá no Centro nós pegamos o cara que matou o guarda, a minha vontade era arrancar a cabeça dele”, relatou na mensagem de celular.

Ainda nas mensagens, o cabo da PM diz que preferiu não agir na emoção, mas que iria atrás do suspeito quando ele saísse da prisão.

De acordo com as investigações, o grupo usava o sistema de informática da polícia para escolher as vítimas, que tinham antecedentes criminais. Além disso, os próprios policiais traficavam drogas, ameaçavam de morte os devedores de um esquema de agiotas e vendiam “cabritos”, armas ilegais com numeração raspada.

Ameaças de agiotas

O grupo criminoso ameaçava e tomava bens de pessoas que deviam para o agiota Valcélio de Oliveira, o Célim, morto em agosto de 2021. Célim usaria dinheiro do Cabo Xavier para negociar empréstimos com terceiros.

Cabo Xavier e seu braço direito, o cabo José Jackson Araújo Mota, Cabo Mota, eram sócios de uma loja de conserto e venda de celulares, que ficava em um shopping de Fortaleza. Segundo as investigações, a loja era fruto de dinheiro da agiotagem.

Além de ameaçar devedores de empréstimos ilegais, os policiais atuariam na cobrança de dívidas de inquilinos do dono do shopping onde a loja de celulares funcionava. Esses inquilinos também seriam ameaçados e até expulsos. Isso serviria para o próprio grupo criminoso ter vantagens e descontos no aluguel da loja.

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Cabo Jackson Araújo Mota, braço direito do líder, suspeito de organização criminosa, exotrsão, tráfico de drogas, ameaça
Soldado Ivanildo é investigado por organização criminosa e venda ilegal de arma
Cabo Mesquita é investigado por agiotagem e organização criminosa
Cabo Macedo, suspeito de organização criminosa
Soldado Leandro Lemos suspeito de venda ilegal de arma
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Cabo Xavier, suspeito de liderar o grupo, responde por extorsão, lavagem de dinheiro, tráfico e falsificação

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Cabo Jackson Araújo Mota, braço direito do líder, suspeito de organização criminosa, exotrsão, tráfico de drogas, ameaça

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Soldado Ivanildo é investigado por organização criminosa e venda ilegal de arma

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Cabo Mesquita é investigado por agiotagem e organização criminosa

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Cabo Macedo, suspeito de organização criminosa

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Soldado Leandro Lemos suspeito de venda ilegal de arma

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Sargento Messias Andrade teria participado de venda ilegal de arma

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Soldado Dalberson Barbosa investigado por venda ilegal de arma

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Cabo Igo Jefferson responde por organização criminosa

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Soldado Ariel Ruan Dieb suspeito de venda ilegal de arma de fogo

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Venda de armas e mais mortes

Ainda nas mensagens do grupo de WhatsApp foi descoberto um esquema de policiais que raspam a numeração de suas armas, vendem o armamento de maneira ilegal e prestam queixa de roubo.

Nas interceptações, Cabo Xavier explica o esquema: “Tem muito guarda que vende e dá queixa de roubo, diz que perdeu, que caiu da mochila, entendeu”.

Então, um outro investigado explica seu plano: “Eu estou a fim de dizer que perdi ela. Tu acha que dá rock? Dá fim nela, tornar ela ‘cabrito’, fazer um BO”. “Cabrito” é um apelido para armas ilegais. Os policiais tinham “cabritos” para cometer homicídios e dificultar a investigação.

Ainda em mensagens, Cabo Xavier diz que não se arrepende de ter matado “vagabundos”, mas que teve um caso de homicídio que “deu vacilo” e que se arrepende, nem gosta de lembrar.

“Eu, sem beber, cometi um erro que até hoje eu me arrependo. (…). Mas, graças a Deus, foi a única vez”, disse o líder do grupo na mensagem.

Prisões e investigações

A Polícia Civil e o Ministério Público do Ceará começaram a investigar esse grupo de policiais ainda em 2021, quando constataram o acúmulo de diferentes denúncias anônimas que chegavam contra eles.

Depois de mais de dois anos de investigação, quatro suspeitos foram presos no dia 14 de novembro e vários mandados de busca e apreensão foram cumpridos. Na operação, batizada de Interitus, foram apreendidas drogas e armas ilegais.

Em setembro, o Ministério Público do Ceará denunciou 10 PMs e um guarda por diversos crimes como extorsão, tráfico, ameaça e lavagem de dinheiro. A reportagem tenta contato com as defesas dos investigados. O espaço segue aberto.

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