Vizinha é indiciada por chamar de “retardado” filho autista de músico do Molejo
Idosa teria dito à mãe do menino: “Depois que o autismo virou moda, retardado mudou de nome”. É a primeira vez que George é discriminado
atualizado
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Após supostamente chamar o filho autista do baterista do grupo Molejo, George Valentin, 7 anos, de “doente” e “retardado”, uma vizinha da família foi indiciada e poderá responder pelo crime de injúria por preconceito. O Código Penal prevê pena de um a seis meses de detenção ou multa.
O episódio aconteceu na quarta-feira (8/9), na área da piscina do condomínio em que Jimmy Molejo mora com a esposa e o pequeno, na Taquara, na zona oeste do Rio de Janeiro. Em entrevista ao Metrópoles, a mãe, Cristiane Sales, contou que tudo começou após ela chamar a atenção de uma senhora que brigava com uma criança perto dali. Irritada, a mulher teria questionado se ela era “mãe daquela criança doente” e apontou em direção à piscina, onde estava o menino.
“Ela começou a questionar meu grau de parentesco com a criança que eu estava defendendo, e depois, começou a disseminar ódio voltado ao meu filho, se referindo a mim como mãe de alguém ‘com problemas’, ‘doente’. E tentei explicar que o George não é doente, ele é autista. Fiquei muito surpresa, porque ao tentar orientar, ela respondeu que ‘depois que o autismo virou moda, retardado mudou de nome’. Disse que eu tinha ‘recalque’ por não ter um filho ‘normal'”, disse.
A mulher também teria proferido xingamentos a Jimmy, chamando-o de “negro”, “pagodeiro” e “favelado”. Segundo o boletim de ocorrência registrado por Cristiane na 32ª DP (Taquara), a senhora disse que “poderia fazer o que quisesse, pois estava amparada pelo Estatuto do Idoso”. A filha da idosa chegou a ir até o local e pedir que as falas da mãe não fossem “levadas em consideração” devido à idade.
Cristiane afirmou que está é a primeira vez que o filho é discriminado desta maneira, e que a família coleciona mais momentos felizes do que tristes. “Nunca enfrentamos isso. Pelo contrário, já passei por situações de solidariedade, de pessoas que me ajudaram. Uma vez, estávamos no shopping e ele teve uma crise. Uma senhora parou tudo, tirou o salto e a bolsa e deitou no chão junto com ele. Já presenciei outros casos, mas quando foi com meu filho, me senti ‘pequena'”, desabafou.
Jimmy não estava presente quando tudo aconteceu, mas explicou que, assim que tomou conhecimento, buscou a polícia para, depois, divulgar o ocorrido. O baterista do Molejo agradeceu o apoio dos fãs e da imprensa ao lado do filho em um vídeo. Na gravação, George fala, firmemente: “Autismo não é doença”. Assista:
“A gente tem que buscar a Justiça sim, porque tem vários pais sem condições de expor o que estão sentindo. O autismo não é uma doença, é um transtorno que precisa ser entendido de forma bacana. É preciso orientar as crianças sobre o tema para que elas convivam com as diferenças”, afirmou Jimmy ao Metrópoles.
“Nós acreditamos que nós não precisamos de defensor de causa, tanto é que nunca fizemos movimento ao público, porque não queremos vitimizar a causa que a gente defende. A gente precisa, além de defensores, de educadores, trazer esta consciência”, explicou Cristiane.
Em um vídeo enviado ao Metrópoles, o vocalista do Molejo, Anderson Leonardo, declarou que a banda apoia todas as causas e respeita todos os grupos sociais. “Respeitamos todos os papais e mamães dos autistas. Ser diferente é normal e eles são simplesmente sensacionais. É ou não é, Molejão?”, perguntou aos demais integrantes do grupo, que responderam “é!” em conjunto.