Vivo à base de remédio e psicólogo, diz mãe de jovem morta por amigos
Morte de Ariane completa 4 meses neste Natal; “Sem clima para festa”, diz a mãe da jovem, que ainda não consegue entrar no quarto da filha
atualizado
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Goiânia – Este ano não terá clima para festejar o Natal na casa da cabeleireira Eliane Laureano, de 35 anos. A morte da filha Ariane Bárbara Laureano de Oliveira, 18, brutalmente assassinada por quatro jovens que se diziam amigos completará quatro meses neste 24 de dezembro. “Não vai ter comemoração. Vou ficar em casa mesmo. Não tem clima para isso”, diz ela.
Ariane foi vítima de uma emboscada armada por três meninas e um rapaz no dia 24 de agosto deste ano. Ela foi convidada para lanchar, com tudo pago, e com carona garantida, no Setor Jaó, em Goiânia. A jovem entrou no carro alegre, sorridente, após enviar mensagens para a mãe e, minutos depois, foi morta a facadas. Oito facadas. O corpo foi abandonado em uma área de mata, soterrado sob entulhos de construção e só foi encontrado no dia 30 de agosto.
Uma das meninas que armaram a emboscada para Ariane desejava matar alguém para se testar e comprovar para si se era ou não psicopata. Ela desejava saber como reagiria, após cometer um assassinato. O motivo fútil chocou o Brasil. Acabaram ela e os demais comparsas presos, além de uma vida jovem destruída e uma família que nunca mais será a mesma, nem no Natal.
Ariane era filha única de Eliane. “Ela não era só minha filha. Era minha amiga também”, conta a cabeleireira. Até hoje, quatro meses depois, a mãe ainda não conseguiu entrar no quarto da filha, nem para limpá-lo. Tudo está do jeito que Ariane deixou pela última vez. “Nem sei quando conseguirei. A minha rotina mudou completamente. Vivo à base de remédio e psicólogo”, relata a mãe.
O mês de dezembro começou ainda mais dolorido para ela, pois Ariane faria 19 anos no último dia 4/12. Por ter essa relação de nascimento com o mês, a jovem gostava bastante das festas de fim de ano. “Se ela estivesse aqui, a casa já estava com árvore de Natal, tinha pisca-pisca… Esse ano, guardei tudo. Não tem nada. Todo ano, a gente viajava e ia para a casa da nossa família. Não darei conta desta vez”, diz Eliane.
Audiência
No dia 7/12, ocorreu uma audiência on-line relacionada ao processo do caso. Os jovens Raíssa Nunes Borges, de 19 anos, Enzo Jacomini Carneiro Matos, que se apresenta como Freya, de 18, e Jeferson Cavalcante Rodrigues, 22, seguem presos. Além deles, existe, ainda, uma menor de 16 anos, que teria sido a idealizadora do crime e que segue apreendida.
Eliane constituiu advogado e acompanha de perto o andamento do caso. O acompanhamento psicológico que ela vem fazendo deve durar, ainda, por cerca de três anos. O processo de luto tem sido lento e deve perdurar, segundo ela, pois tudo em casa lhe faz recordar a filha, que era sua companheira de dia a dia. “Ela era muito presente dentro de casa. Quando eu dava crise de asma, era ela que cuidava de mim”, conta.
Sem perdão
Por tudo que vem passando, desde a morte da filha, Eliane diz não conseguir perdoar aqueles que tiraram a vida da filha. O sentimento que ela cultiva é inominável, segundo ela.
“Eu não sei se posso falar, mas eu quero que eles morram, também. O mesmo sofrimento meu eu desejo para os pais deles, porque hoje os pais deles terão Natal. No fundo, apesar de presos, eles saberão que os filhos estão vivos, pelo menos. No meu caso, não”, explica.
A mãe diz que recebeu e ainda recebe bastante apoio de pessoas próximas e até de quem ficou sabendo da história pela mídia. Recentemente, diz ter ganhado uma Bíblia de uma pessoa que passou pelo salão de beleza onde ela trabalha. “Tudo que me mandam, eu pego. Estou tentando me apegar a tudo e não estou conseguindo. Não sei como e até quando vai o meu luto. Ela era tudo para mim”, afirma.