Viúva se declara ao marido morto em voo: “Muito feliz ao seu lado”

Sete dias após a morte do marido em um avião a caminho da lula de mel, a publicitária Lícia Dutra Tuquarre foi às redes sociais se manifestar. Em um post na segunda-feira (2/5) dedicado ao marido, disse: “Fui muito feliz ao seu lado”. A lua de mel seria nas Maldivas, mas o médico Glauto Tuquarre Melo Nascimento, de 49 anos, morreu durante a viagem para as ilhas. 

Lícia retornou ao Brasil. O corpo está em Doha, no Catar, sem previsão de chegar ao Brasil. Como ele morreu no dia 25 de abril, ainda no período islâmico do Ramadan, os laudos cadavéricos demoraram. Eles são necessários para a liberação do país muçulmano.

No texto nas redes sociais, a publicitária inicia relatando a última mensagem que ela recebeu dele, um “eu te amo muito. Sou feliz ao seu lado”, e que não conseguiu tempo para responder. Conta que ele estava muito feliz ultimamente. 

Lícia escreve como o destino os uniu na morte do pai dela, quando Glauto a apoiou. “Era seu propósito, e você não mediu nenhum esforço para me colocar no melhor lugar do mundo: ao seu lado. Que bom que você conseguiu”, escreve.

Lícia conta que o marido gostava de gente, de casa cheia, repleta de amigos, família e colegas de trabalho. Citou ainda a forma de lidar com notícias ruins, mesmo as piores. Ele era oncologista e sabia bem o quão difícil é o diagnóstico de câncer para um paciente. Ele sabia dizer as palavras certas da forma mais sensível, disse a esposa.

“Nunca deixou que ninguém ficasse triste ou sem esperança diante da pior das notícias. Lidava com o câncer de uma forma tão humana que parecia ter solução para tudo. Às vezes, ao invés de lágrimas após um diagnóstico, conseguia arrancar sorrisos dos pacientes”, diz a publicitária.

Segunda-feira foi o primeiro dia em que Lícia conseguiu encher a casa sem o marido. Apesar do clima de choro, houve sorrisos nas lembranças das histórias que ele contava.

O depoimento termina dizendo: “É necessário ter pressa para viver, é preciso aproveitar nossos familiares, nossos amigos, porque a vida passa rápido demais. (…) Queria ter respondido aquela mensagem a tempo, só pra dizer que eu fui muito feliz ao seu lado. Obrigado por tudo. Eu também te amo!”.

Missa de 7º dia e homenagens

Os familiares e amigos do médico se reuniram nessa segunda-feira (2/5) para a missa de 7º dia. A missa foi realizada na Igreja de São José do Operário, na Zona Norte de Teresina (PI). Na cerimônia, o padre Washington pediu aos presentes que tivessem fé e que a família recebesse a solidariedade de todos aqueles que gostavam de Glauto.

Nas redes sociais, muitos amigos, colegas e pacientes contaram sobre a personalidade do oncologista e agradeceram a ele pela dedicação com o trabalho e com as pessoas. 

“Não era só um grande médico oncologista, não era só o médico que me acompanhou nesses quase cinco anos de luta contra um CA, era um ser humano incrível, de coração lindo, um amigo, brincalhão, risonho, das caronas e conselhos. Sempre será o meu médico maluco, o melhor. Descanse em paz. Saudades”, escreveu Lane Carvalho, que se curou de um câncer de mama.

“Mais que um médico, um amigo. Sempre muito solícito. Meu maior apoiador na luta contra o câncer”, disse Lindia Kaliane, paciente que agradeceu os cuidados do médico;

A Secretaria de Saúde do Piauí (Sesapi) emitiu uma nota de pesar pela morte de Glauto, que trabalhava no Hospital Estadual Dirceu Arcoverde (Heda), em Parnaíba.

“Glauto Tuquarre era um profissional ético e dedicado ao trabalho, que prestou relevantes serviços à saúde do estado do Piauí”, diz o comunicado.

Além da Secretaria de Saúde, a Fundação Municipal de Saúde (FMS), o Conselho Regional de Medicina (CRM-PI), o Sindicato dos Médicos do Piauí (Simepi) e clínicas particulares expressaram pesar e solidariedade.

Viagem e quem era Glauto

O casal Glauco e Licia Tuquarre se casou civilmente ainda durante a pandemia. Em 23 de abril, os dois conseguiram realizar o sonho de uma cerimônia religiosa entre amigos e família, em Teresina.

No dia seguinte, às 20h35, embarcaram para São Paulo, de onde partiriam para Doha, no Catar. Planejavam passar uma noite no país antes de seguir para as Maldivas. Ele começou a passar mal durante o voo. Sentia dores no peito e pediu ajuda dos comissários de bordo. Recebeu atendimento ainda no avião por passageiros que eram médicos. 

Tentaram reanimar Glauto, mas ele não resistiu. A hipótese é de que ele tenha sofrido um infarto. Oficiais do consulado brasileiro no Catar encontraram Lícia ainda no aeroporto de Doha e ficaram encarregados da transferência do corpo.

Glauto, nascido no Amazonas e formado pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), era especializado em oncologia. Tinha mestrado em câncer de intestino e fazia doutorado em recidiva do câncer de mama, que é o retorno da doença após o paciente ser considerado curado. 

Era considerado experiente, já atuou em Roraima e no Maranhão, onde foi professor da universidade estadual, além de no Piauí, onde lecionou em faculdades de medicina e era sócio de uma clínica.