Viúva diz que Adriano da Nóbrega controlava dinheiro e pedia discrição
Julia Emilia Mello Lotufo referia-se, de acordo com as investigações, à fortuna acumulada pelo ex-capitão do Bope em negócios ilícitos
atualizado
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Rio de Janeiro – Julia Emilia Mello Lotufo, de 29 anos, viúva do miliciano e bicheiro Adriano Magalhães da Nóbrega, contou a uma amiga, no dia 30 de agosto de 2019, que o ex-capitão do Bope reclamava dos gastos da esposa e da vida de luxo que ela levava.
Segundo interceptações telefônicas no celular de Julia, autorizadas pela Justiça a pedido do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), a jovem confessa que Adriano estaria com raiva por ela morar em uma cobertura no Recreio, na zona oeste do Rio, e estar de carro zero. A viúva reclama do controle dele com seus gastos e comenta: “não faz nem cosquinha no bolso do Adriano”.
A viúva de Adriano referia-se, de acordo com as investigações, à fortuna acumulada pelo ex-capitão do Bope em negócios ilícitos – seja como chefe de uma milícia, seja como matador de aluguel. Embora o miliciano cobrasse discrição e mais controle no dinheiro do casal, era Julia quem comandava as finanças dele, segundo o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPRJ.
Julia foi um dos principais alvos da Operação Gárgula, junto a outros oito integrantes da organização. Eles foram denunciados por associação criminosa, agiotagem e lavagem de dinheiro proveniente do espólio de Adriano. A viúva é considerada foragida da Justiça.
As investigações do Gaeco revelaram ainda que, como Adriano não tinha bens em seu nome, ele fazia uso de laranjas. Depois da morte do criminoso, a quadrilha passou a se desfazer desses bens. Segundo o relatório da promotoria, Julia “exerce a função de gerir e de investir valores vultosos em setores diversos, provavelmente originados de seu companheiro Adriano, como um depósito/bar e restaurante, empréstimos e negociação de gados e cavalos”.
De acordo com o MP, um dos laranjas do miliciano é o ex-marido de Julia, o soldado da Polícia Militar Rodrigo Bittencourt Fernandes Pereira do Rego. Em uma conversa entre ele e um homem identificado apenas como Bruno, no dia 1º de outubro de 2019, Rodrigo diz que movimentou R$ 500 mil. Segundo ele, Julia é sua sócia em um depósito de bebidas, no Cachambi. Mas ela não consta como sócia da empresa no contrato social. Investigações do MP apontam que Adriano também seria dono do estabelecimento. O soldado Rodrigo foi preso na operação do Gaeco, na última segunda (29/3).
As interceptações mostram também o medo de Julia em “cair no grampo”. Por isso, ela só usava celular no nome de terceiros. Além do ex-marido, o sargento da PM Luiz Carlos Felipe Martins, o Orelha, assassinado no último sábado, também ajudava na administração dos bens de Adriano e Julia, inclusive pagando contas do casal. Coube a Martins, considerado braço-direito dos milicianos, providenciar a cremação de Adriano.
A defesa de Julia Emilia Mello Lotufo nega todas as acusações que lhe são atribuídas. Os advogados alegam que ela nunca teve qualquer participação em eventuais condutas ilegais que possam ter sido praticadas por seu falecido marido. “Ela teme pela sua vida e pela vida de sua filha, razão única pela qual ainda não se entregou. A defesa atua no caso para prestar os esclarecimentos que, se as autoridades investigatórias tivessem procurado antes, certamente não teria sido oferecida denúncia, bem como para assegurar seus direitos e garantias constitucionais”.