Viúva de Anderson para júri: “Não tinha mais com quem dividir a vida”
Agatha Arnaus relata a dificuldade de criar um filho com necessidades especiais, sem a presença do pai dele, Anderson Gomes
atualizado
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Durante o julgamento realizado no 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro, nesta quarta-feira (30/10), dos assassinos confessos de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, a viúva de Anderson, Agatha Arnaus, contou a dificuldade que foi e tem sido criar um filho autista sem a presença do pai da criança.
“No mesmo ano em que o Anderson morreu, eu tive de levar o Arthur sozinha para operar uma obstrução intestinal. Os médicos chegaram a falar que ele não aguentaria e que eu tinha de ficar preparada. Naquele momento, já sem o Anderson, achei que a minha família, a que eu criei, tinha acabado. Eu achei que ia enlouquecer naquele dia. Eu repeti várias vezes que o Arthur era a última coisa que tinha me restado do Anderson”, contou Agatha.
A viúva destaca que, “quando o Anderson faleceu, a gente sabia que ele tinha autismo, mas as demais alterações por decorrência genética não puderam ser averiguadas corretamente, porque não temos o material genético do Anderson para fechar o diagnóstico completo”.
Agatha ressalta que o desenvolvimento do filho foi prejudicado pelo assassinato do pai.
“Eu tenho certeza de que a ausência do Anderson impactou o desenvolvimento do Arthur. A primeira palavra que ele falou foi ‘papai’. Ele era uma criança que sempre esteve com os dois a todo tempo e, daqui a pouco, não ter o pai, e por não ter o pai, e a mãe estar saindo o tempo todo para resolver, para voltar a trabalhar. O que me deixou cansada, sem paciência, porque eu não tinha mais com quem dividir a vida e a criação do Arthur”, desabafou Agatha.
Na sequência, o Ministério Público exibiu o vídeo do Anderson, abrindo uma carta escrita pela viúva, anunciando a gravidez do único filho do casal. O vídeo mostra o motorista emocionado com o anúncio.
“O Anderson tinha tido, uns anos antes, uma doença que as pessoas falavam que ele não poderia ser pai e, quando a gente decidiu ter o Arthur, nós fizemos alguns exames antes e teve um momento que ele achou que não poderia ter filhos, mesmo. No dia desse vídeo, eu não lembro outro momento de ter visto o Anderson feliz assim”, contou a viúva.
A depoente prosseguiu seu relato: “Quando eu fiz a única ultrassonografia sem ele, cheguei em casa e disse: ‘É menino, mas tenho uma notícia ruim, e ele vai ter de passar por uma cirurgia’. E as coisas não foram tranquilas na gravidez. Eu lembro de ele falar que parecia um inferno e que não entendia por que a gente estava passando por tudo aquilo, mas que ia dar tudo certo”.
Agatha ressaltou que o assassinato de Anderson criou uma falta nela e no filho, que “não vai passar nunca, porque ele sempre vai ter uma primeira vez sem o Anderson”.
“Eu espero ver as pessoas que me tiraram o Anderson, que tiraram o pai do Arthur, pagando pelo que elas fizeram. Eu não substituo o Anderson de forma alguma para o Arthur. O Arthur nunca na vida vai ter um pai tão bom como ele poderia ter se o Anderson estivesse aqui”, concluiu a viúva.
O depoimento dela terminou às 12h35.
Mandantes
Em maio, a Procuradoria-Geral da República (PGR) concluiu que os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão mandaram matar a vereadora Marielle Franco, em fevereiro de 2018, para impedir que ela seguisse prejudicando os interesses dos agora réus, o que inclui desde as nomeações para o Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) até a regularização de loteamentos irregulares em áreas dominadas por milícias na zona oeste do Rio de Janeiro.
A PGR denunciou o conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ) Domingos Brazão, o deputado federal (sem partido) Chiquinho Brazão e mais três pessoas: dois policiais que atuavam para a dupla e o ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa.