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Vitória de Trump ameaça agenda ambiental e planos para a COP30

Especialistas ouvidos pelo Metrópoles apontaram uma possível saída dos EUA do Acordo de Paris

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Imagem colorida de Donald Trump, com bandeira americana ao fundo -- Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida de Donald Trump, com bandeira americana ao fundo -- Metrópoles - Foto: Arte/Metrópoles

A renovação de mais um mandato de Donald Trump nos Estados Unidos causou tensão ao redor do mundo. Para o Brasil, surgem incertezas de como será o trato diplomático com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Outro fator é sobre o quanto a agenda negacionista do mandatário norte-americano em relação ao meio ambiente poderá afetar o protagonismo brasileiro ao sediar, em 2025, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30).

Analistas da área falaram ao Metrópoles que a perspectiva para o meio ambiente não é boa, mas nem tudo está perdido. A maior ameaça é que os Estados Unidos saiam do Acordo de Paris, tratado de preservação ambiental firmado em 2015, ou de um texto semelhante a ser construído na COP30.

“Normalmente, quando um político é eleito você torce ou cobra para que as promessas de campanha sejam realizadas. No caso do Trump é ao contrário, a gente torce para ele não fazer o que prometeu na campanha, principalmente na agenda de clima”, afirmou Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima.

“Não sabemos exatamente quando vão ser as ações dele para esse setor, mas a julgar pelo primeiro mandato dele e o que falou na campanha, ele vai retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris, das mesas de negociação multilaterais. Isso afeta obviamente o ambiente de negociações, que já não é muito bom”, seguiu.

“Nós teremos um acordo de Paris ou o que quer que nasça após o Acordo de Paris sem os Estados Unidos e, portanto, sem uma medida de ambição elevada, já que os Estados Unidos são o segundo maior emissor de gases de efeito estufa, ficando atrás apenas da China”, apontou Wendell Andrade, especialista em Políticas Públicas para a Amazônia no Instituto Talanoa.

Outra questão citada por Astrini é o Fundo Amazônia. Os Estados Unidos depositaram cerca de US$ 50 milhões, mas a promessa era de investir até US$ 500 milhões. “Esse restante dificilmente vai vir, porque essas cooperações de dinheiro para meio ambiente vão ser totalmente, segundo Trump, encerradas para esse tipo de programa”.

“Com todas essas circunstâncias, um ambiente mais difícil de negociação vai respingar na COP30”, avaliou. “As conferências do clima são um fluxo, uma continuidade. O que você não resolve de assunto numa COP, passa para outra. E como o ambiente pode ficar mais conturbado em Baku [Azerbaijão, sede da COP29], com uma agenda que já é bastante conturbada, estressada, isso pode ter um reflexo para o Brasil”.

Andrade ainda chamou atenção para a persuasão, nesse caso negativa, que a postura norte-americana pode gerar, com “ingerências em territórios que não são seus, mas que estão sob sua área de influência, especialmente nas Américas, com medidas que devem causar problemas para os governos da América do Sul, da América Latina e Caribe de maneira geral”.

Emissão de gases

Especialistas avaliaram que mesmo antes da vitória de Trump, os Estados Unidos já tropeçavam no cumprimento das metas climáticas globais. De acordo com dados da plataforma Climate Watch, o país é o segundo com mais emissões de gases de efeito estufa.

Nos últimos anos, sob o comando dos democratas, o governo anunciou algumas medidas para reduzir a emissão de gases poluentes e incentivar a descarbonização no país. Mas, segundo analistas, essas ações devem ser descontinuadas na gestão Trump.

“Trump tem uma posição de natureza desenvolvimentista e old school, que acredita que o petróleo precisa continuar a ser explorado. Isso, naturalmente, quando você tem muito capital americano ligado às empresas de petróleo, você deve ter um fortalecimento do lobby do petróleo no mundo inteiro”, afirmou Andrade.

Contraponto

Embora exista apreensão, também há avaliação de membros do governo e especialistas de que a eleição de Trump não é capaz de acabar com todo o progresso feito.

“A crise climática vem e se impõe, apesar desses negacionistas, apesar de quem joga contra, ele também vai ter que acertar as suas contas. O clima mais extremo é real e afeta as pessoas no seu dia a dia”, acredita Astrini. “Também temos que observar a resposta de outros países, que agora vão ser chamados a ter um protagonismo maior. É o caso da União Europeia, da China e do Brasil”, pontuou.

Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento Social, lembrou que o Acordo de Paris recebeu endosso dos Estados Unidos em 2015, e que a COP30 é uma oportunidade para “quem fica falando tanto do que é bom para a Amazônia, longe da Amazônia, e sem ouvir o povo da Amazônia”.

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