Vítima de violência sexual e mãe fogem de ameaça após denunciar pastor
Segundo Conselho Tutelar, a retaliações contra adolescente partem de fiéis e moradores da região que saíram em defesa de líder religioso
atualizado
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Goiânia – Depois de ser alvo de um pastor evangélico investigado por importunação sexual em Goiânia, uma adolescente de 14 anos e a mãe dela tiveram de se mudar às pressas de onde moravam na capital goiana, nesta sexta-feira (23/4), segundo o Conselho Tutelar. Parte dos frequentadores da igreja dirigida pelo suspeito e moradores abriram guerra contra elas em defesa dele.
Investigado pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), o pastor Otacílio Emanuel foi flagrado em vídeo, na casa da vítima, e em áudios trocados com ela, por meio de aplicativo de celular.
Em primeira mão, o Metrópoles divulgou, na quinta-feira (22/4), os áudios recebidos pela adolescente, em conversa no WhatsApp, e que foram atribuídos, por ela e pelo Conselho Tutelar, ao pastor.
Ele é dirigente da Igreja Pentecostal Deus é a Vitória, no Setor Parque Tremendão, na região noroeste, uma das mais pobres da capital goiana. O pequeno templo, que funciona em uma sala comercial improvisada, está fechado desde que o caso se tornou público, na última terça-feira (20/4).
Novos depoimentos
Testemunhas confirmaram a importunação sexual contra a vítima, em novos depoimentos na delegacia, nesta sexta. O portal não localizou o contato do líder religioso e nem do advogado dele, para que se manifestassem sobre o caso.
A reportagem também conversou com a pessoa responsável por denunciar o caso ao conselho tutelar e que também tem sofrido ameaças.
“Alguns [fiéis] estão do lado dele [do pastor]. Ficam falando para eu ter cuidado porque dizem que eu não deveria ter denunciado”, acentua a testemunha.
Em depoimento na DPCA, a pessoa que acolheu a vítima contou as ameaças. Segundo ela, a adolescente implorou por socorro, já que, conforme acrescentou, não estava suportando mais a importunação sexual.
“A menina veio pedir socorro na minha casa. Então, a minha filha gravou o vídeo e mostrou para mim. A mãe dela não quis fazer nada [por medo]. A menina veio para cá, de novo, depois de seis dias, e pediu ‘pelo amor de Deus’ para levá-la na delegacia”.
Encorajamento
O caso só se tornou público porque a adolescente encontrou, no seu próprio encorajamento, a força para que rompesse o clico da violência. Por isso, ela gravou vídeo para provar o que sofria nas mãos do pastor até na casa dela.
As imagens do vídeo mostram que o líder religioso força beijo na boca da adolescente, abraça, ordena que ela apague as mensagens, promete torná-la “muito feliz” e dá 10 reais. “A gente vai começar devagarzinho. Depois a gente vai fazer amor bem gostoso”, diz ele, no vídeo.
O Metrópoles não obteve retorno da titular da DPCA, delegada Marcela Orçai, até a publicação desta reportagem.
O portal mantém aberto o espaço para manifestação de todos, principalmente, do pastor que é investigado. Somente após a investigação, a Polícia Civil irá concluir o inquérito e decidir se vai indiciá-lo, ou não, por importunação sexual.
MPGO
O Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO) informou, por meio da assessoria de imprensa, que o caso só chegará ao órgão quando alguma providência for solicitada após a conclusão do inquérito.
A apuração criminal do caso compete à polícia. Depois, caberá ao MP denunciar, ou não, o pastor. A pena prevista para o crime é de 1 a 5 anos de reclusão.