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Vítima de João de Deus por dois anos revela perfil violento do médium

Em entrevista ao Fantástico, a engenheira Gleise Ilma relatou que o líder espiritual escondia armas no escritório e gritava com as pessoas

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denuncia joao de deus
1 de 1 denuncia joao de deus - Foto: TV Globo/Reprodução

Vítima de João de Deus por dois anos, a engenheira Gleise Ilma (foto em destaque) revelou ao Fantástico, na noite deste domingo (23/12), a personalidade violenta e gananciosa do líder espiritual. Gleice foi à Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO), em 2013, para buscar a cura de um câncer. Chegando ao local, sofreu abusos já no hotel onde estava hospedada. “Eu chorava. Cuspi nele”, disse.

Ela relatou ter sido ameaçada e coagida a ficar calada por temer pela vida do filho. Além disso, o atual marido da engenheira estava em Abadiânia para tentar a cura da surdez que sofreu aos 3 anos, após uma meningite. Por esses motivos, ela se manteve no local e começou a trabalhar com João de Deus. “Ele dizia que queria desenvolver minha mediunidade”, relatou.

Como ficou dois anos trabalhando na casa, viu de perto o trato do médium com as pessoas. “Ele [João de Deus] fala alto, grita, trata mal as pessoas. Uma vez, vi ele escondendo uma arma no sofá”, afirmou ao Fantástico. “Ele costumava andar armado ou estar com pessoas armadas”, disse.

Gleise relatou ainda que parte do dinheiro de João de Deus vinha de garimpos ilegais no Pará e em outros estados. “Ele tinha múltiplas fontes de renda. Nas sessões no exterior, por exemplo, ele dizia que não ia por menos de R$ 1 milhão. O interesse era estritamente financeiro. Nunca o vi curar ninguém.”

Armas
Além do sofá apontado pela engenheira como esconderijo de armas, João de Deus escondia revólveres em casa. Na última semana, o juiz Liciomar Fernandes da Silva, da Comarca de Abadiânia, acatou pedido de prisão preventiva contra o médium por posse ilegal de arma. O líder espiritual já estava preso preventivamente desde o último dia 16, devido a denúncias de abuso sexual.

O magistrado também autorizou nova busca e apreensão em endereços de João de Deus e alegou suspeitar da existência de uma máfia. “Ao que tudo indica, o médium chefia uma organização criminosa que atua principalmente em Abadiânia”, pontuou. A decisão do magistrado foi expedida no dia 20 de dezembro.

Um dia depois, após cumprimento do mandado, os policiais civis de Goiás encontraram uma mala recheada com R$ 1,2 milhão em uma das casas do acusado em Abadiânia. Também foram recolhidos 770 euros e US$ 908 em um imóvel do médium em Anápolis bem como um revólver calibre .38, uma algema e centenas de pedras das mais variadas tonalidades. As novas buscas foram autorizadas pela Justiça em três endereços.

Abuso sexual
Na última quinta-feira (20), João de Deus foi indiciado por violência sexual mediante fraude. O inquérito foi baseado no depoimento de uma mulher de aproximadamente 40 anos que teria sido abusada pelo líder espiritual em outubro deste ano na Casa Dom Inácio de Loyola.

Segundo o delegado Valdemir Pereira da Silva, mais conhecido como Doutor Branco, titular da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), existem provas robustas contra o médium, que podem levá-lo a cumprir pena de 2 a 6 anos de prisão.

“Acreditamos na existência de provas suficientes para uma condenação. O depoimento da vítima foi contundente”, disse. Ele contou que, na última quarta (19), a mulher foi levada ao centro em Abadiânia e contou, em detalhes, o que teria ocorrido na sala de atendimento.

De acordo com o relato, quando a mulher notou o pênis de João de Deus para fora da calça, ele teria interrompido o “tratamento”. Em seguida, pedido que ela não contasse sobre o atendimento a ninguém e a presenteou com dois quadros e uma pedra. “A vítima está assustada, ansiosa e com medo”, explicou o delegado pouco antes de entregar o inquérito no Fórum de Abadiânia.

As denúncias contra João de Deus vieram à tona no último dia 8, no programa Conversa do Bial, da TV Globo. João de Deus foi preso no dia 16 deste mês e aguarda julgamento no Complexo Prisional da Aparecida de Goiânia. Ele nega todas as acusações.

Após ter dois habeas corpus negados, no Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) e no Superior Tribunal de Justiça (STJ), a defesa do médium aguarda posicionamento do Supremo Tribunal Federal (STF).

Denúncias
Desde que o escândalo sexual contra João de Deus veio à tona, o Ministério Público de Goiás recebeu 596 relatos por e-mail sobre o caso, sendo 255 de potenciais vítimas. Desse universo, a maior parte – 40 – é de São Paulo. Em segundo lugar, vem o DF, com 39. Há ainda 20 casos no Rio Grande do Sul e 15 em Minas Gerais.

Os promotores divulgaram que 75 mulheres foram ouvidas até agora. A maioria das vítimas tem entre 19 e 67 anos (70 delas). Mas há também, no total de potenciais vítimas, 23 com faixa etária entre 9 e 14 anos, o que pode fazer com que o médium seja denunciado por estupro de vulnerável.

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