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O ano de 2020 foi triste para os brasileiros, com o país perdendo cerca de 190 mil de seus filhos para uma dramática pandemia, combatida de maneira errática por todos os níveis de governo. Olhando para trás, vemos que não foi só esse o assunto que sacudiu o país nos últimos 12 meses, mas não é fácil encontrar notícias boas.
No rastro do coronavírus, a economia ruiu e o desemprego atingiu níveis recordes. O ano na política também foi turbulento, com o governo Bolsonaro abandonando promessas de campanha e tentando domar uma instável aliança com o Centrão enquanto um dos filhos do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), se vê às voltas com o fantasma do ex-assessor Fabrício Queiroz e as acusações de rachadinha com salários de funcionários.
Crimes bárbaros e mortes trágicas chocaram a sociedade, como o assassinato do menino João Pedro, de 14 anos, baleado em uma ação policial no Rio de Janeiro, e Miguel, de 5, abandonado em um elevador pela patroa da mãe, em Recife.
Casos como esses e o assassinato de João Alberto por seguranças do Carrefour, já no fim do ano, em Porto Alegre, fortaleceram no país a luta contra o racismo, que deve reverberar para o ano que vem, assim como os efeitos da pandemia e a corrida pela vacina contra a Covid-19.
Relembre este ano intenso na retrospectiva que o Metrópoles preparou:
Janeiro
Cerveja contaminada – Quatro pessoas morreram e ao menos 26 ficaram intoxicadas, algumas com sequelas graves, após beberem cervejas contaminadas com dietilenoglicol da cervejaria Backer, de Minas Gerais. No dia 10 de janeiro, a polícia comprovou a presença da substância tóxica em garrafas de cerveja Belorizontina.
Discurso com inspiração nazista – O então secretário de Cultura, Roberto Alvim, foi demitido do governo Bolsonaro no dia 17 de janeiro. Ele caiu após copiar discurso do ministro nazista Joseph Goebbels em um vídeo oficial (inclusive com cenário parecido). Começava um ano turbulento no órgão.
Fevereiro
Capitão Adriano – Foi morto, em 9 de fevereiro, na Bahia, o ex-policial Adriano de Nóbrega, acusado de liderar uma milícia no Rio de Janeiro. Ele estava foragido havia mais de um ano e morreu levando muitos segredos, o que levantou as suspeitas – nunca provadas – de queima de arquivo na operação.
Motim no Ceará – Em 19 de fevereiro, o senador Cid Gomes (PDT-CE) foi baleado após investir, dirigindo uma escavadeira, contra policiais militares amotinados em Sobral, sua cidade. A rebelião durou o mês todo e a violência no estado bateu recordes.
Carvanal – Com o coronavírus ainda no noticiário internacional, os brasileiros celebraram normalmente o Carnaval com grandes festas pelo país, a última aglomeração antes da edição de dezenas de normas, em estados e municípios, para tentar frear o avanço da doença.
Março
O início da pandemia – No dia 11 de março, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o coronavírus era uma pandemia, São Paulo tinha 30 casos confirmados. No dia 17, foi registrada a primeira morte, e, em 24 de março começou a quarentena em São Paulo, com variadas restrições ao comércio e à circulação. Em Brasília, as medidas começaram antes, em 11 de março.
Bolsonaristas nas ruas – No dia 15 de março, cidades como Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo registraram atos de apoio ao presidente Jair Bolsonaro. Nas manifestações, havia pedidos inconstitucionais, como o fechamento do Congresso, o que motivou investigação no STF, que reverberou pelo resto do ano.
Veja imagens do ato na capital federal:
“Gripezinha” – Em 20 de março, durante uma coletiva de imprensa no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que, depois da facada que levou em 2018, durante um ato eleitoral em Juiz de Fora (MG), não seria uma “gripezinha” que iria derrubá-lo. A partir daí, o presidente fez questão de promover inúmeras aglomerações de apoiadores nos meses seguintes, ignorando medidas que pudessem conter a infecção, como o uso de máscara.
Abril
As covas – O jornal norte-americano The Washington Post publicou em sua capa a foto aérea de centenas de covas sendo abertas no cemitério paulistano de Vila Formosa, o maior da América Latina, onde foram enterradas centenas de vítimas do novo coronavírus. No Dia de Finados, o Metrópoles visitou o local.
Veja as cenas:
Pandemia avança – Em 16 de abril, após embates sobre a maneira de controlar a Covid-19, o presidente Bolsonaro demitiu o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Naquela data, o país registrava 30.891 infectados e 1.952 mortos.
Ex-superministro – Durante coletiva de imprensa em 24 de abril, o então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, pediu demissão do governo, acusando o presidente Bolsonaro de trair a agenda anticorrupção. Àquela altura, Bolsonaro já havia trocado muitas das promessas de campanha pela aliança com o Centrão no Congresso.
Maio
Novo “novo” ministro – Em 15 de maio, Nelson Teich deixou o Ministério da Saúde, menos de um mês após assumir o cargo, também por divergências com o presidente da República, que insistia no uso do medicamento cloroquina, apesar da falta de evidências de eficácia contra a Covid-19.
No lugar de Teich, assumiu interinamente o general Eduardo Pazuello, que acabaria efetivado meses depois. O Brasil registrava 14,9 mil mortes pelo coronavírus.
Tragédia – Em 18 de maio, João Pedro, de 14 anos, foi baleado dentro de casa em uma ação policial em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Marcas de 70 tiros ficaram nas paredes da casa onde ele estava na companhia de primos.
Junho
A queda – No dia 2, Miguel, de apenas 5 anos, morreu após cair do nono andar de um prédio em Recife, após ter sido deixado sozinho em um elevador por Sari Corte Real, patroa de Mirtes Renata de Souza Santana, mãe do menino. Sari chegou a ser presa, mas pagou fiança e responde em liberdade ao processo.
Fim dos 300 do Brasil – Policiais recolheram faixas e desmontaram acampamento do grupo 300 do Brasil perto da Praça dos Três Poderes, em Brasília. Gás de pimenta foi usado para dispersar os apoiadores de Bolsonaro, comandados pela ativista Sara “Winter” Giromini, que resistiram à ação.
Cadê o Queiroz? – Fabrício Queiroz, ex-chefe de gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), foi preso em Atibaia, interior de São Paulo, em 18 de junho. Ele é pivô do escândalo das rachadinhas, que envolveria o filho do presidente da República.
Julho
Covid-19 no Planalto – Em 7 de julho, o presidente Jair Bolsonaro confirmou que havia contraído o coronavírus. No isolamento, mostrou caixas de cloroquina para apoiadores. Repetiu o gesto para as emas que moram no gramado do Palácio da Alvorada – uma das aves chegou a bicar o presidente.
Tiro esportivo e tragédia adolescente – No dia 12, a adolescente Isabele Guimarães Ramos, de 14 anos, foi morta com um tiro no rosto na capital matogrossense, Cuiabá. Uma amiga da adolescente disse que apertou o gatilho por acidente. Para a polícia, porém, houve intenção.
Agosto
100 mil mortes – No dia 8 de agosto, o Brasil superou os 100 mil mortos pelo novo coronavírus. O país, na época, era o segundo mais afetado pela doença no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Atualmente, a Índia ocupa a segunda posição, à frente do Brasil.
Barbárie – Também no dia 8, veio à tona a notícia que uma criança de 10 anos havia engravidado no Espírito Santo após ter sido estuprada por um tio. Ela passou por um aborto legal em Recife dias depois, em meio a protestos de fundamentalistas religiosos e políticos na porta do hospital.
Setembro
Apesar da pandemia… – Como em feriados anteriores, as praias do Rio voltaram a ficar lotadas no dia 7 de setembro, embora a faixa de areia continuasse interditada para os banhistas.
Fogo no mato – O Pantanal enfrentou a maior série de queimadas florestais das últimas décadas. De janeiro a agosto, a região teve mais de 10 mil pontos de fogo, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o mesmo que a soma de queimadas dos últimos seis anos.
Outubro
Fogo na cidade – Pelo menos quatro pessoas morreram em um incêndio no Hospital Federal de Bonsucesso, na zona norte do Rio de Janeiro. O Ministério da Saúde sabia do———————————– risco de fogo na unidade desde abril de 2019, segundo documentos.
Rachadinha – O Ministério Público do Rio de Janeiro denunciou, no dia 19, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e seu ex-assessor Fabrício Queiroz por peculato, lavagem de dinheiro, apropriação indébita e organização criminosa pelo suposto esquema de “rachadinha” ocorrido entre 2007 e 2018 no gabinete do então deputado estadual do Rio.
Dinheiro nas nádegas – O senador (agora licenciado) Chico Rodrigues (DEM-RR) foi alvo, no dia 14, de uma operação da Polícia Federal para apurar desvio de verbas destinadas ao combate à pandemia do novo coronavírus. Os policiais encontraram algumas centenas de reais nas nádegas do político, que acabou se afastando do cargo.
Novembro
Luta contra o racismo – O Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, foi marcado pela notícia do assassinato, na noite anterior, de João Alberto Freitas, homem negro de 40 anos, por seguranças brancos de um supermercado Carrefour em Porto Alegre. O brutal espancamento motivou protestos pelo Brasil.
Tragédia no asfalto – No dia 25, a batida entre uma carreta e um ônibus com funcionários de uma indústria têxtil deixou 42 mortos em rodovia entre os municípios de Taguaí e Taquarituba, no interior de São Paulo. A empresa Star Fretamento e Locação Eirelli, dona do ônibus, estava sem autorização para operar.
Os eleitos e reeleitos – Com semanas de adiamento por causa da pandemia, o Brasil escolheu prefeitos e vereadores para o próximo mandato. Em São Paulo, venceu Bruno Covas (PSDB). No Rio, Eduardo Paes (DEM).
Candidatos apoiados pelo presidente Bolsonaro saíram derrotados nas eleições, mostrando, nos municípios, certo isolamento político do mandatário da República apesar da aliança com o Centrão.
Dezembro
Pibinho – O IBGE informou, dia 3, que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, no acumulado do ano até o terceiro trimestre, caiu 5% em relação a igual período de 2019.
Desemprego – Dados até novembro, mas divulgados pelo IBGE em dezembro, indicaram que o desemprego bateu novo recorde. O Brasil encerrou o mês passado com 14 milhões de desempregados, aumento de 2% frente a outubro (13,8 milhões), e de 38,6% desde maio (10 milhões de desempregados).
Pandemia – O país chega ao fim do ano com quase 190 mil mortos pela Covid-19 e com 7,3 milhões de casos confirmados. Viramos o ano sonhando com uma vacinação em massa para conseguir frear essa curva.
Segundo estimativas do governo federal, no início de 2021, grupos da população devem começar a receber o imunizante. Brigas políticas atrasaram a aquisição do composto de diferentes fábricas, e o Brasil sai atrás de outros países, como Estados Unidos, Inglaterra, México, Chile e Argentina, que já começaram a vacinar seus habitantes.