Vinda de brasileiros da China deixa Anápolis (GO) em alerta
Brasileiros repatriados passarão 18 dias em quarentena na Base Aérea do município goiano
atualizado
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Enviado especial a Anápolis (GO) – Cidade grande com cara de interior, Anápolis (GO) aguarda preocupada a chegada dos brasileiros repatriados da região de Wuhan, onde está concentrada a maioria dos casos e das mortes por coronavírus. Os aviões presidenciais destacados para a missão são esperados para as 3h da madrugada deste domingo (09/02/2020), na Base Aérea, mas parte da população teme que um eventual infectado possa fazer a doença se espalhar pelo município.
Anápolis vem enfrentando uma chuva que varia de moderada a forte desde o início da última semana, com previsão de que perdure pela próxima. No transporte público, os ônibus circulam com janelas meio abertas, mesmo com o chuvisco entrando pela fresta e temperaturas na casa dos 20ºC.
“Eu estou preocupado. Se, na China, que tem capacidade para construir um hospital em 10 dias, já morreu tanta gente assim, eu fico pensando se essa doença chegar ao Brasil. O que será de nós? O SUS vai ter condição de cuidar de alguém com essa doença? Eu acho que não”, reflete o estudante de 15 anos, Rafael Almirante.
Rafael estuda em um colégio ao lado da Vila dos Oficiais, bairro destinado exclusivamente a militares. A maioria deles atua na Base Aérea e vive nos imóveis de propriedade da Aeronáutica. A psicóloga Nara Silva, 47, tem um filho que estuda na mesma escola. Ela e um grupo de mães do colégio do filho têm demonstrado preocupação com a possibilidade de circulação do vírus.
“Acredito que o município não está preparado para receber qualquer doença, seja endêmica ou não. Nem sequer consegue lidar com a dengue, muito menos coronavírus”, critica. Segundo Nara, a principal preocupação é que os militares que trabalham na Base sejam contaminados por alguém que, eventualmente, possa ter contraído o vírus e esteja em quarentena.
“Essas pessoas vão precisar de grupo de apoio, que vai lavar as roupas, oferecer a refeição, recolher pratos, talheres, higienizar o quarto. Não sei se essas pessoas terão contato com esses brasileiros, mas eles [os militares] poderão circular na cidade livremente”, comenta Nara.
Despreocupado
Enquanto alguns temem a contaminação da doença, outros confiam no protocolo de quarentena criado para receber os repatriados. O taxista Wagner de Souza, 55 anos, diz não ter receio nenhum. “Se for preciso, eu levo e busco na Base. Eles [as autoridades] não iriam trazer ninguém para cá e colocar a população em risco”, diz o taxista.
Ele lembra que que doenças semelhantes de origem asiática causaram o mesmo pânico e hoje estão controladas. “Teve a tal da gripe suína [H1N1]. De repente, todo mundo ficou com medo de pegar gripe suína e agora já fizeram até vacina, você toma junto com a da gripe”, afirma Wagner.
Para a aposentada Gasparina Silva, 70 anos, os brasileiros vindos de Wuhan deveriam ficar em Brasília. “Se o hospital para onde vão levar essas pessoas vai ser o de Brasília, porque não deixar todo mundo lá, com apoio médico, equipamentos para exames, tudo?”, questiona a aposentada, referindo-se ao apoio que o Hospital das Forças Armadas (HFA) poderá prestar, em caso de necessidade.
Opinião parecida tem a dona de casa Vitória Batista, 23. Mãe da pequena Sophia, de 1 ano e 9 meses, Vitória se preocupa com a própria saúde e a da filha. “Para mim, melhor seria isolar uma ala de um hospital. Acho mais adequado e traria mais segurança.”
Como será a quarentena?
Antes de embarcar, todos os brasileiros tiveram de passar por exames, ainda na China, para garantir o embarque. Caso alguém apresentasse algum sintoma, seria impedido de entrar no avião. Ao pousar na Base Aérea, todos receberão orientações e passarão por três exames diários, com o objetivo de monitorar o estado de saúde.
O grupo terá seis refeições por dia, e servirão a própria comida, de modo que não terão contato com os cozinheiros. Também terão wi-fi disponível, videogames e filmes. Os quartos são equipados com TV e ar-condicionado, e foram adaptados para receber as famílias, incluindo a colocação de um berço em um dos apartamentos. Há, ainda, biblioteca, brinquedoteca e uma lavanderia.
Serão 18 dias de quarentena. Ao término desse prazo, todos serão liberados e poderão retornar às suas cidades, mas sem apoio financeiro do Estado.