Vídeo: traficante Abelha cumprimentou ex-secretário preso por corrupção ao deixar cadeia
Segundo investigações, o traficante é cumprimentado pelo então secretário Raphael Montenegro, preso por suspeitas de beneficiar bandidos
atualizado
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Rio de Janeiro – Vinte e um dias após assinar a soltura do traficante Wilton Carlos Rabello Quintanilha, o Abelha, de 50 anos, o ex-secretário de Administração Penitenciária Raphael Montenegro deixou de ser quem solta para ocupar uma vaga na cadeia, a mesma de onde saiu no dia 27 de julho o criminoso, uma das lideranças da facção criminosa Comando Vermelho. Abelha foi solto irregularmente, uma vez que, contra ele, havia mandado de prisão ativo pendente.
Em vídeo registrado pela própria Secretaria de Administração Penitenciária, no circuito interno de vigilância do Complexo Penitenciário do Gerinicó, na zona oeste, Abelha deixa o local a pé, com documento em mãos. No trajeto entre a unidade Bangu 8 e a guarita principal do conjunto de cadeias, um carro se aproxima e Abelha é abordado. De acordo com as investigações, o traficante é cumprimentado pelo então secretário, e segue se caminho para a liberdade.
Veja o vídeo:
A Polícia Federal informou que a Seap fora alertada do mandado pela Polícia Civil e pelo cartório da 3º Tribunal do Júri da Capital, tornando a soltura do traficante irregular, mesmo com a ordem de libertação emitida pela 29ª Vara Criminal, situação que gerou desconforto entre o Tribunal de Justiça do Rio, o Conselho Nacional de Justiça, a Polícia Civil e, por último, o Ministério Público.
A soltura do traficante faz parte de acordos investigados pelos agentes feitos pelo ex-responsável por administrar a cadeiras do Rio, flagrado em conversas gravadas por escuta ambiente negociando com líderes do Comando Vermelho, presos na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná. Sob segredo de Justiça, trechos de conversas gravadas sustentam a decisão de prender temporariamente o secretário e mais dois integrantes da cúpula da pasta.
Montenegro negociou trégua com criminosos, demonstrando aos bandidos as vantagens de um cessar fogo entre policiais e traficantes. “É mais barato para vocês não ter guerra. Se vocês não precisarem de 400 fuzis e tiverem só 100 para se defender, o lucro é maior, pô”, disse Raphael a um dos chefes encarcerados no Paraná. No momento da prisão, na casa de Raphael, os agentes da Polícia Federal apreenderam cerca de R$ 250 mil em espécie, sendo R$ 150 mil em moeda nacional e aproximadamente R$ 100 em moedas estrangeiras (Euros, Dólares e Pesos Argentinos), além de celulares e mídias diversas e documentos.
Nas conversas, Raphael Montenegro também diz que o traficante é mais importante que a figura de um secretário de Segurança Pública – cargo extinto no governo do Rio. A decisão aponta que Montenegro foi gravado negociando com vários líderes do Comando Vermelho, como Marcinho VP, FB, Claudinho da Mineira, Arafat e Marreta. Em contrapartida aos benefícios oferecidos à quadrilha, a cúpula da facção daria uma trégua em determinadas atividades criminosas — como a venda de crack. O objetivo seria fabricar uma falsa sensação de tranquilidade social.
Sem Abelha, Montenegro passa a dividir o pátio de Bangu 8 com vizinhos ilustres, também conduzidos de seus cargos públicos direto para a cadeia, como o ex-governador Sérgio Cabral Filho, que acumula as marcas de 20 condenações, que, juntas, já ultrapassam 350 anos de prisão. Cabral foi preso pela primeira vez em 2016, em ação da operação Lava Jato (ele foi alvo de pelo menos outras seis operações da Polícia Federal), respondendo por por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Outro vizinho ilustre de Montenegro é o vereador cassado Jairo Souza Santos Junior, o Jairinho, acusado de torturar e matar o enteado, o menino Henry Borel Medeiros, de 4 anos. De acordo com as investigações da Polícia Civil, Jairinho matou Henry durante sessão de agressões, prática comum, segundo a polícia, uma vez que ele é acusado de repetir, sem matar, as torturas e ameaças para filhos de pelo menos outras três mulheres com quem se relacionou.
Pouco antes de Montenegro, a unidade prisional recebeu ainda o ex-deputado federal e presidente do PTB, Roberto Jefferson, que segue isolado, desde a sexta-feira (13/8) na cela F de Bangu 8. O local era antes ocupado pelo presidente nacional do PSC, pastor Everaldo Dias Pereira, de 65 anos, que deixou a prisão no mês passado. Jefferson foi preso por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, por suposta participação em organização digital montada para atacar a democracia.
Preso nesta terça-feira (17/8), o agora ex-secretário de Administração Penitenciária se tornou titular da pasta em janeiro, nomeado pelo atual governador, Cláudio Castro, mas já tinha conduta irregular no governo no período em que Wilson Witzel era o governador do Estado. Montenegro foi assessor, no Gabinete Civil, do ex-secretário Lucas Tristão, preso em agosto de 2020, quando estava no comando da secretaria de Desenvolvimento Econômico. Tristão também ficou detido em Bangu 8, mas recebeu o benefício de prisão domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica.