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Vídeo: “É um risco Bolsonaro falar pelas Forças Armadas”, diz Fernando Haddad

Em entrevista ao Metrópoles, o ex-prefeito de São Paulo afirmou que os militares colocaram “a reputação a serviço de um projeto de poder”

atualizado

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Caio Barbieri entrevista Fernando Haddad
1 de 1 Caio Barbieri entrevista Fernando Haddad - Foto: Metrópoles

Em entrevista ao Metrópoles, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) afirmou que os militares assumem riscos quando deixam o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) “falar em nome das Forças Armadas”. O ex-presidenciável considera que o chefe do Executivo federal distorceu as falas do senador Omar Aziz (PSD-AM) durante sessão CPI da Covid-19, que resultaram em nota de repúdio contra o parlamentar, assinada pelo Ministério da Defesa e pelos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica.

“Nós temos que compreender, de uma vez por todas, que tem instituições que são de Estado. O Poder Judiciário é um poder de Estado, as Forças Armadas são órgãos de Estado. O Ministério Público é de Estado. A pior coisa que pode acontecer com Polícia Federal, Receita Federal, Controladoria-Geral da União é se deixar instrumentalizar por um projeto de poder. Eu lamento que alguns militares não se deem conta dos riscos que estão assumindo ao deixar o Bolsonaro falar em nome das Forças Armadas”, pontuou Haddad, em entrevista ao jornalista Caio Barbieri (confira a partir do minuto 13).

Durante oitiva de Roberto Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, o presidente da CPI, senador Omar Aziz, anunciou que “os bons das Forças Armadas devem estar muito envergonhados com algumas pessoas que hoje estão na mídia, porque fazia muito tempo, fazia muitos anos que o Brasil não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo”.

Em nota divulgada logo depois da declaração de Aziz, as Forças Armadas postularam que o senador “desrespeitou” os militares e “generalizou esquemas de corrupção”. “As Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro”, diz a publicação. Quanto ao trecho, Haddad pondera:

“Uma frase completamente imprópria para o que está acontecendo. A partir do momento que você assume o risco de ocupar um governo chefiado por um bandido, uma pessoa que é suspeita de vários crimes, você está assumindo o risco desnecessário de colocar a reputação de uma instituição a serviço de um projeto de poder que nem democrático é” (16′).

Eleições de 2022

Um dos principais apoiadores da chapa de 2022 do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Haddad relatou que o petista busca uma frente ampla “que não seja a base do governo Bolsonaro”. De acordo com o professor da Universidade de São Paulo (USP), Lula procura dialogar com partidos de centro-direita e a chamada força progressista, visando à vitória nas eleições do próximo ano.

“Acredito que o Lula queira uma frente ampla, mas ele quer uma frente ampla que não seja a base do governo Bolsonaro. Acho que ele está de olho nos partidos que, de alguma maneira, já se manifestaram contra a agenda política e/ou econômica do governo  Uma parte muito grande da chamada centro-direita não concorda com o modus operandi do governo Bolsonaro e quer se distanciar, sabendo dos riscos que ele representa para o futuro do país. Eu penso que o Lula quer dialogar com esses dois terços da sociedade, do ponto de vista da representação política”, disse (0’30”).

Haddad assinalou que não acredita na consolidação de uma terceira via nas eleições de 2022. “Eu não vejo espaço para uma terceira via se consolidar. O cenário mais provável hoje, e se fortalece no ano que vem, é um cenário Lula e Bolsonaro. Lembrando que o Bolsonaro está em um péssimo momento, mas deveria estar sem um único apoio. No entanto, ele mantém sua base de 20% de sustentação. Pode acontecer exatamente o contrário do que a terceira via supõe, que ele derreta e abra espaço”, completa (2′).

O professor foi discreto quando falou de sua participação no jogo político do próximo ano. Sem descartar que possa concorrer às eleições, Haddad enfatizou que seu foco, no momento, é “espelhar uma aliança em volta do presidente Lula” no estado de São Paulo, para que o ex-presidente enfrente João Doria (PSDB), atual governador de SP, e o mandatário da República, Jair Bolsonaro.

Superimpeachment

O Partido dos Trabalhadores subscreveu o chamado superimpeachment contra o presidente Bolsonaro. O documento reúne mais de 100 denúncias contra o chefe do Executivo, com a assinatura de 46 pessoas, entre membros de partidos políticos, sindicatos, associações e coletivos. Haddad afirmou que “falta coragem” de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, para seguir com o processo de impeachment de Bolsonaro.

“Eu sou autor de uma ação junto ao Supremo Tribunal Federal, junto com o deputado Rui Falcão, pedindo para que o STF fixe prazo para que Arthur Lira tome uma decisão. Ou arquivar ou fazer seguir os pedidos de impeachment – sobretudo esse último, que é muito robusto do ponto de vista jurídico. Elenca todos os crimes de responsabilidade já cometidos, e a tragédia que o Brasil viveu com o número de óbitos por 100 mil habitantes, que é quatro vezes superior à média mundial”, disse Haddad.

“Não falta absolutamente nada [para que ele peça o impeachment]. Falta coragem do Arthur Lira para assumir sua responsabilidade. Se ele quer mandar arquivar, ele que justifique o arquivamento, e responda perante a história. Seja pelas mãos do Supremo, seja por pressão popular ou parlamentar, eu penso que ele vai ter que acabar tomando uma decisão”, completou.

Indicação de Mendonça ao STF

Quanto à indicação de André Mendonça, atual advogado-geral da União, ao Supremo Tribunal Federal (STF), Haddad acredita que o AGU não tem perfil para representar o país no cargo de magistrado. De acordo com o professor, as declarações de Mendonça e do presidente Bolsonaro ferem a prerrogativa de que o Brasil é um Estado laico.

“Acho que está havendo uma confusão sobre o conceito de Estado laico. Na minha opinião, as declarações de Mendonça e do próprio Bolsonaro sobre a sua indicação conflitam com o texto constitucional. Ele não tem a compreensão do que é uma República. Não interessa a ninguém um conflito religioso no Brasil. Nossa Constituição é clara: o Brasil é um Estado laico. Ele protege todo cidadão, independentemente da sua crença. Eu não vejo na figura do André Mendonça a incorporação de um valor tão fundamental para uma democracia como a nossa”, ressaltou.

Haddad, no entanto, afirma que o Senado Federal “vai tentar entender o que passa pela cabeça de André Mendonça”: “Na minha opinião, o Senado é o filtro que vai tentar entender o que passa pela cabeça do André Mendonça nesse momento, e se o que ele pensa coaduna com o que determina a Constituição Federal, que ele é obrigado a guardar como condição de ministro do Supremo. Se houver qualquer discrepância entre o que ele pensa e o que diz a Constituição, ele não está habilitado para ser ministro”.

A seguir assista ao Metrópoles Entrevista com Caio Barbieri:

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