Vídeo: assistente diz que médico cobra R$ 400 para assinar apólice
Oncologista do Hospital de Câncer Araújo Jorge violou resolução do Conselho Federal de Medicina e foi indiciado por corrupção passiva
atualizado
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Goiânia – Gravado pelo filho de uma paciente que morreu com câncer, um vídeo registra o momento em que uma assistente social confirma que um médico do hospital cobra R$ 400 para preencher formulário do seguro de vida, em Goiânia. A polícia teve acesso a um recibo preenchido pelo oncologista Antônio Gomes Teles, que foi indiciado por corrupção passiva e violou regra do Conselho Federal de Medicina (CFM).
O vídeo mostra que a mulher recebe o dinheiro e diz que já tentou falar para o médico do Hospital de Câncer Araújo Jorge, para não fazer a cobrança, mas, segundo ela, não adiantou. A Resolução do CFM nº 2.003/2012 veda ao médico assistente, como é o caso de Antônio, o preenchimento de formulários elaborados por empresas seguradoras.
Veja vídeo abaixo:
O filho de uma mulher que morreu de câncer no ano passado disse que foi ao hospital pedir o preenchimento de um laudo para que pudesse entregar à seguradora de vida e receber a apólice. O preenchimento deveria ser feito gratuitamente e somente por um médico perito. Antônio, no entanto, é médico assistente e não poderia fazer o registro.
Trecho da conversa
Na gravação, o filho pergunta para a assistente social:
Filho: “É R$ 400, né?”
Assistente: “É R$ 400, e eu briguei com ele […]. Eu, como assistente social, já briguei demais, sabe, para não ter cobrança, mas não tem jeito”.
Em seguida, o filho pegou o dinheiro e repassou à assistente. Ele ainda perguntou se teria algum comprovante do pagamento, e ela afirmou que o médico faria um recibo. O registro entregue foi anexado no boletim de ocorrências que o filho registrou contra o médico.
“Minha mãe”
“Esse caso é sobre minha mãe. O médico cobrou 400 Reais para preencher a apólice de seguro, quando ela morreu”, afirmou o filho da paciente ao Metrópoles, que disse ter recebido até recibo do profissional de saúde. “Filmei tudo, gravei. Além de documentos, até recibos do pagamento, o médico me deu”, disse ele, indignado.
O médico teria se aproveitado do momento de dor da família para vender supostas facilidades. De acordo com o filho da paciente, o médico admitiu que preenchia os documentos como se estivesse “fazendo atendimento particular, um favor, porque, se fosse pagar auditoria pelo laudo, sairia muito mais caro”.
Em depoimento, a assistente social ressaltou que outros médicos também cobravam a taxa e que a prática era corriqueira. A profissional disse que não sabia que o pagamento dos valores era algo irregular. Ela não foi indiciada pela polícia.
Na delegacia, o médico disse que fazia a cobrança em alguns casos, a depender se os parentes do paciente reclamavam muito. Segundo a polícia, Antônio disse, durante interrogatório, que não conhecia a resolução do CFM que proibia que médicos assistentes assinassem os laudos.
Além disso, o médico afirmou que o preenchimento do documento seria feito para um familiar da paciente, o que não se enquadraria como um serviço prestado dentro do Sistema Único de Saúde (SUS). Ele confirmou que recebeu o dinheiro.
O filho da paciente disse que fez a denúncia à polícia pensando em seu próprio caso, no desrespeito com o qual foi tratado em um momento em que tinha acabado de perder a mãe. No entanto, ele contou que agiu assim também para que outras famílias não passem por situação semelhante.
Orientação
Em nota à imprensa, a Associação de Combate ao Câncer em Goiás (ACCG), mantenedora do Hospital de Câncer Araújo Jorge, informou que o preenchimento do relatório de seguradora configura atividade. Por esse motivo, a entidade disse que orienta os integrantes do seu corpo clínico a não preencherem a declaração.
Além disso, de acordo com a nota, a ACCG não compactua com infrações à lei ou com desvios éticos, o que inclui o preenchimento desses formulários e que é expressamente proibido por resolução do CFM.
O Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) informou, também em nota, que não tem conhecimento da denúncia, mas vai acompanhar o caso e verificar se houve infração ética na conduta do profissional.
Alerta
A Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra a Administração Pública (Dercap) pediu para que familiares de pacientes entrem em contato pelo Disque Combate à Corrupção (181), caso tenham passado pela mesma situação de cobrança.
O Metrópoles não conseguiu contato do médico nem de sua defesa até o momento em que publicou este texto, mas o espaço segue aberto para manifestações.
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