Vereadores de Goiânia tornam essenciais atividades religiosas na pandemia
Ao defender proposta, parlamentar chegou a dizer que pessoas religiosas têm a imunidade mais elevada do que as demais
atualizado
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Goiânia – Com discursos inflamados, chegando a dizer que pessoas religiosas têm mais imunidade, vereadores de Goiânia aprovaram, nesta quarta-feira (3/2), por unanimidade, projeto de lei que torna essenciais as atividades religiosas na capital goiana durante a pandemia da Covid-19. Se a proposta for sancionada, templos religiosos poderão ficar abertos normalmente na cidade mesmo em casos de confinamento da população.
Durante a sessão, os parlamentares fizeram declarações fervorosas a favor da proposta, que é de autoria do vereador Gian Ribeiro (MDB). Atualmente, conforme decreto da prefeitura de Goiânia publicado no ano passado, os templos religiosos podem funcionar com 50% de sua capacidade de pessoas sentadas. Nos bastidores, alguns vereadores comentam, com preocupação, que o projeto deve fazer com que mais pessoas se encorajem para ir a cultos durante a pandemia.
O vereador Thialu Guioti (Avante) disse que a pandemia tem provocado mortes, mas, segundo ele, “pessoas que deixam de ter contato com o corpo [da igreja] têm sua imunidade baixa”. “Pessoas que são alimentadas pela palavra de Deus, sendo católicas, espíritas ou evangélicas, têm a sua imunidade elevada”, afirmou.
A vereadora Gabriela Rodart (Democracia Cristã) leu um texto, durante a sessão, dizendo que “o cuidado da alma deve vir primeiro”. “Afinal, no pior dos casos, a Covid-19 só vai antecipar um evento que é certo para todos nós [morte]”, afirmou. “Em outras épocas da pandemia, o que se via era o clero à frente da situação, arriscando-se para salvar os corpos e, sobretudo, as almas”, disse.
Gabriela aproveitou a sessão para fortalecer a imagem de sua autodefinição como “católica, conservadora e de direita”. A parlamentar também criticou governos que seguem orientações da ciência. “Hoje muitos correm apenas atrás das determinações governamentais, ansiosos para se colocarem na vanguarda da adesão daquilo que o mundo prega”, afirmou. “De agora em diante, é a OMS [Organização Mundial da Saúde] que nos salvará”, leu, em tom de ironia.
Apesar de também ter votado a favor do projeto, a vereadora Aava Santiago (PSDB) disse que, após sua igreja decidir manter as atividades normalmente, 13 fiéis frequentadores do templo religioso foram infectados pelo coronavírus, um deles uma criança de 2 anos. “Não preciso estar num culto para ser igreja. Não preciso me aglomerar em momento de crise. O evangelho e Cristo resistem ainda que não haja culto. As igrejas devem permanecer abertas, mas nós, enquanto cristãos, devemos preservar a saúde pública”, disse.
O projeto prevê que, mesmo se houver a autorização para os templos religiosos realizarem suas atividades normalmente, continua imprescindível a adoção de medidas de biossegurança recomendadas pela OMS e que constarem de decreto do Poder Executivo. O projeto segue para sanção, ou veto, do prefeito Rogério Cruz (Republicanos), que é pastor licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd).
Preocupação
A aprovação da proposta dos vereadores de Goiânia ocorre em um momento em que há a preocupação em relação ao aumento da contaminação e de casos com o novo coronavírus em todo o estado de Goiás. Já este ano, o governador Ronaldo Caiado (DEM) publicou decreto em que estabelece medidas rigorosas em relação ao funcionamento de estabelecimentos comerciais, por exemplo.
Muitos municípios, inclusive a capital, Goiânia, adotaram suas próprias regras, com lei seca para bares, restaurantes, distribuidoras de bebidas e lojas de conveniências a partir de determinados horários. Na capital, a fiscalização dos últimos dias identificou mais de 40 estabelecimentos em situação irregular, além de várias festas clandestinas.
Apesar de ter sido publicado há poucos dias (em 28/1), o decreto da prefeitura de Goiânia deve ser alterado ainda esta semana, conforme confirmou ao Metrópoles o próprio prefeito Rogério Cruz (Republicanos). A tendência é de que ocorra uma flexibilização das regras, com aumento do horário de funcionamento para distribuidoras de bebidas e lojas de conveniências.