Vereadora mais votada, Erika Hilton reage ao racismo: “Basta de nos matar”
Eleita pelo PSol em São Paulo, mulher trans foi a mais votada no país em 2020 e pede justiça pelo assassinato de João Beto em Porto Alegre
atualizado
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São Paulo – A vereadora eleita Erika Hilton (PSol) será a primeira mulher trans a ocupar uma vaga na Câmara da maior cidade do país. Ela ainda celebra o fato de ter sido a mulher mais votada nas eleições legislativas de 2020 na capital paulista (e no país inteiro), com 50.508 votos, mas divide esse sentimento com a revolta de ver mais uma notícia sobre uma pessoa negra brutalmente assassinada no Brasil. Desta vez, João Alberto, vítima de seguranças de um supermercado Carrefour em Porto Alegre na noite dessa quinta-feira (19/11), véspera do Dia da Consciência Negra.
“É mais do que simbólico. No dia que se demarca a luta e a história do povo negro no Brasil, que foi trazido escravizado do continente africano para estas terras, um homem negro ser outra vez assassinado. Não é a primeira vez que nós vemos isso no Brasil: a execução brutal de homens e mulheres negras no Brasil é uma coisa recorrente”, protesta ela em conversa com a reportagem do Metrópoles durante um ato de apoio à candidatura de Guilherme Boulos (PSol) à prefeitura paulistana nesta sexta (20/11).
“Por isso, eu ser a mulher mais bem votada nas eleições municipais em 2020 se torna também um ato simbólico: porque estão nos matando, estão nos aniquilando, mas estamos nos organizando para dizer que as nossas vidas importam”, prossegue a parlamentar eleita.
“Basta de nos matar. Nós precisamos ocupar as Câmaras municipais, as prefeituras, as assembleias legislativas e o Congresso Nacional. O que aconteceu em Porto Alegre é mais um exemplo escrachado de quanto o racismo estrutural e institucional atua de forma brutal no nosso país contra o nosso povo”, afirma Erika Hilton, que foi a sexta vereadora mais votada em São Paulo na contagem geral.
Superação
Ela, que tem uma história de superação que passa pela vida nas ruas e pela prostituição antes de encontrar a vocação política, diz que sua eleição é também uma reação progressista a políticos conservadores que tentam invisibilizar as pautas das minorias.
“O bolsonarismo e essa onda neofascista que se espalhou pelo Brasil ainda continuam elegendo o corpo negro, o corpo pobre, o corpo lgbtqia+ como inimigo número 1. É inadmissível que um país de maioria negra, um país que foi constituído em cima do trabalho e do sangue deste povo, ainda continue executando a pauladas, a socos, de forma brutal, a nossa população”, discursa Erika.
“Essa não é só uma bandeira, é meu corpo. Sou um mulher negra e posso a qualquer momento ser a próxima vítima desse sistema de ódio. Temos o dever político e social de fazer o enfrentamento a esta onda nefasta de ódio e de racismo”, conclui ela, que é uma de seis representantes eleitos pelo PSol e assumirá o mandato no início do ano que vem, mas segue em campanha, agora por Boulos.
No ato de campanha do candidato a prefeito do PSol com representantes de outras siglas de esquerda no qual Erika conversou com o Metrópoles, o racismo e suas consequências foram um dos principais assuntos, até pelo ato ter sido realizado no Dia da Consciência Negra.
“Fere a nossa alma”, diz Orlando Silva
Também presente no evento, o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), um dos candidatos derrotados a prefeito da capital, disse ao Metrópoles que as cenas do homicídio de João Alberto Freitas o deixaram perturbado.
“Esse fato em Porto Alegre fere a nossa alma, mas tem que servir de fator para estimular o combate ao racismo. Não há democracia com racismo. E nós temos que superar o racismo no Brasil com medidas práticas”, disse ele, que também é ex-ministro.
“Quando teve a sensibilização do caso George Floyd, eu disse que todo dia morre um George Floyd na periferia de São Paulo e nas periferias do Brasil”, completou ele, que defendeu a punição de empresas onde ocorra o crime de racismo.
Silva defendeu a necessidade de se aprovar um projeto de lei dele que tramita no Congresso para definir a perda do alvará de funcionamento de empresas onde ocorra o crime de racismo.
“Repórteres dizem que defendo emprego e venho com uma proposta dura dessas, mas eu digo que duro é o racismo. Duro é ferir a alma das pessoas, assassinar as pessoas. Esse caso do Carrefour é o exemplo prático do que estou falando”, concluiu o ex-ministro.
Veja a entrevista do deputado federal Orlando Silva (PCdoB):