“Vaquinha” vai pagar tratamento de professora espancada por diplomata
Servidoras do MRE iniciaram financiamento coletivo para custear despesas médicas de Bianca, que perdeu um dente com a agressão
atualizado
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Com o apoio de outras mulheres – e de homens solidários –, Bianca*, uma professora de 22 anos, voltará a sorrir. Ela perdeu um dente após ter sido espancada pelo então namorado, o diplomata Renato de Ávila Viana, 41. Após a publicação da reportagem do Metrópoles sobre o caso, servidoras do Ministério das Relações Exteriores (MRE) iniciaram um financiamento coletivo para custear o tratamento ortodôntico de Bianca, orçado em R$ 56 mil.
A meta da campanha é arrecadar R$ 60 mil. Até o momento, as doações somam mais de R$ 12 mil. É possível colaborar com qualquer quantia, por meio do site Kickante, até 17 de janeiro de 2018.
Atualmente, Bianca tem um dente provisório colado à gengiva por não ter condições de pagar por um implante. O tratamento ortodôntico tem custo elevado, pois houve entortamento da mordida e outros danos.
“O financiamento coletivo foi uma grande surpresa. É muito humilhante você ver que seu problema tem um preço, mas não ter a mínima condição de pagar. Estou feliz demais e grata por essa possibilidade de poder iniciar meu tratamento antes de qualquer decisão judicial”, afirmou Bianca.
Histórico de violência
Renato de Ávila Viana já respondeu a três processos administrativos disciplinares na Corregedoria do Serviço Exterior do MRE, após registros de ataques a duas mulheres em outros países e a outras duas no Brasil. Em território estrangeiro, ele desfrutou da imunidade diplomática: as autoridades locais não puderam investigá-lo, precisando recorrer ao Itamaraty.
Em 2002, um processo disciplinar investigou agressão do homem a uma terceira-secretária do Ministério das Relações Exteriores. A ação terminou arquivada com uma observação: o diplomata deveria controlar suas emoções e impulsos. No ano seguinte, Renato Viana se envolveu em um caso de violência contra sua namorada brasileira, de quem recebeu uma facada durante briga em seu apartamento.
Outra sindicância, esta de 2006, apurou violência contra uma cidadã paraguaia. Uma junta médica avaliou Viana e concluiu que, do ponto de vista neurológico, ele estava apto para exercer suas funções. A punição foi apenas uma advertência.
Em 2015, a Embaixada do Brasil em Caracas encaminhou ao MRE denúncia de uma venezuelana que alegava ter “sofrido ameaças, maltrato psicológico e tentativa de sequestro por parte de Renato de Ávila Viana”, como consta na sindicância à qual o Metrópoles teve acesso. A vítima enviou uma cópia da medida cautelar, expedida contra o diplomata pela Divisão de Investigações e Proteção à Mulher da Venezuela.
A mesma investigação apurou comportamento violento do brasileiro em um evento no Instituto Cultural Brasil-Venezuela, quando ele agrediu verbalmente colegas e prestadores de serviços durante uma festa após um jogo do Brasil da Copa do Mundo de 2014.
O processo concluiu que não havia provas suficientes para puni-lo sobre a agressão à venezuelana. O servidor do Itamaraty ficou afastado das funções por 10 dias pelo comportamento inadequado no evento diplomático.
Atualmente, há uma investigação interna no MRE aberta sobre o caso de Bianca. Procurada pela reportagem, a advogada de Renato de Ávila Viana afirmou que ele estava viajando e não iria se manifestar.