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Vacinas de quilombolas continuam estocadas em cidade goiana

Município de Niquelândia (GO) já recebeu doses para povos tradicionais, aplicou parte delas e ainda trava liberação de mais de 1 mil doses

atualizado

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Foto: Elaine Alves/divulgação
goias cristo redentor niquelandia
1 de 1 goias cristo redentor niquelandia - Foto: Foto: Elaine Alves/divulgação

Goiânia – Mais de 1 mil quilombolas ainda lutam para receber vacina contra a Covid-19, em Niquelândia, a 305 quilômetros de Goiânia, segundo associações locais, um mês após o município bloquear a aplicação das doses recebidas do Ministério da Saúde. Outras pessoas descendentes dos povos tradicionais e que também vivem na região já foram vacinadas.

A prefeitura ainda analisa listas de possíveis beneficiados que tiveram os nomes enviados, em março, por associações dos quilombolas na região. Eles estão incluídos entre as prioridades do Plano Nacional de Imunização (PNI).

Procurada pelo Metrópoles, a secretária municipal de Saúde de Niquelândia, Maria Aparecida Gomes Machado, não se manifestou sobre o motivo de ainda não ter providenciado a aplicação de todas as 3.096 doses enviadas ao grupo.

Em reportagem publicada pelo portal no dia 11 de abril, a secretária disse considerar “muito alta” a quantidade de quilombolas que devem receber a vacina na cidade. Ela também afirmou que “conhece pessoas associadas que não têm nada a ver com gente quilombola”, mas não apontou indícios que confirmassem sua suspeita.

Demora

Presidente da Associação Urbana e Rural dos Remanescentes de Quilombo Rufino Francisco, João Souza de Oliveira, de 70 anos, reclama da demora e diz já ter enviado lista atualizada. Em março, segundo ele, a secretaria pediu para enviar a relação de todos os associados, sem especificar critérios.

“Nas comunidades perto daqui, todo mundo já vacinou”, observa. “Mandei nova lista e ofício dizendo que poderia vacinar uma parte. Vou saber se vai vacinar para desembaraçar essa vacina que está aqui. Porque a vacina já está aqui, não está fora. Só está faltando a liberação da lista para vacinar”, reclama.

A presidente da Associação Quilombola Muquém Vargem Grande, fundada em 2018, Créia Abadia Ferreira França, comemorou a vacinação de 300 quilombolas de sua comunidade, realizada na última quinta-feira (22/4), depois de ter a lista checada pela prefeitura.

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Vacinação na Associação Quilombola Muquém Vargem Grande
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Associação Quilombola Muquém Vargem Grande

A comunidade quilombola Muquém Vargem Grande é uma das que já receberam a vacinação na região e fica em um povoado a 45 quilômetros da cidade de Niquelândia. “A importância da vacinação do nosso povo é fazer valer o que é de direito. Se é direito nosso ser vacinado, se estamos no grupo prioritário, fazer valer esse direito é de imensa importância”, assevera.

A presidente da associação vê a vacina como uma conquista. “O nosso povo, no passado, já teve muitos dos seus direitos negados, e hoje estamos na luta. Para nós, a vacina é uma grande conquista, e o nosso desejo é que chegue a todos”, afirma.

Para ser declarada quilombola, a pessoa deve pertencer a uma comunidade reconhecida oficialmente, conforme prevê o Decreto nº 4.887/2003, e comprovar seu vínculo com o território e a cultura tradicional. Além disso, tem de apresentar estudo de árvore genealógica, mostrando sua ligação com antepassados que viveram ou vivem nesses locais e defenderam pessoas escravizadas.

Plano nacional

Em todo o país, o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação Contra a Covid-19, do Ministério da Saúde, prevê a imunização de apenas 7% da população quilombola, segundo estimativas da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras e Rurais Quilombolas (Conaq).

A Campanha Nacional de Vacinação calcula a existência de 1,133 milhão de pessoas em comunidades tradicionais quilombolas no Brasil. Estimativa da Conaq, porém, aponta número 14 vezes maior, de 16 milhões.

Desde o início da pandemia, ao menos 263 quilombolas já morreram no país por complicações da doença, entre os 5.329 casos confirmados, segundo monitoramento atualizado pelo Observatório da Covid-19 nos Quilombos. As estatísticas podem ser muito maiores, já que a maioria dos territórios não teve testagem nem registrou o motivo das mortes.

O Ministério da Saúde não se manifestou até a publicação desta reportagem. O portal também não obteve retorno da assessoria de imprensa da Prefeitura de Niquelândia.

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