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Vacinar todos os adultos até outubro é “matematicamente impossível”, avalia especialista

Meta de vacinar todos adultos com duas doses ou dose única, estabelecida pelo ministro Marcelo Queiroga, só deve ser atingida em dezembro

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Vacina contra a Covid-19
1 de 1 Vacina contra a Covid-19 - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

O mês de setembro começou com a expectativa de cumprimento das metas estabelecidas pelo governo federal na campanha de vacinação contra a Covid-19. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tem repetido que o país aplicará ao menos uma dose em todos os adultos maiores de idade até o dia 15 deste mês.

O avanço da vacinação aponta que o país deve atingir a projeção de Queiroga. Até a última sexta-feira (3/9), o país já havia imunizado 132,7 milhões de pessoas com o primeiro reforço. O número equivale a 82,9% dos 160 milhões de brasileiros adultos.

No entanto, outra meta estabelecida por Queiroga não deve ser atingida: a de imunizar toda a população maior de 18 anos com duas doses ou dose única até o mês de outubro.

“A nossa campanha de vacinação é um case de sucesso mundial, já vacinamos mais de 70% da população brasileira adulta com a primeira dose de vacina e até o fim de outubro toda a população adulta estará vacinada com a segunda dose”, disse o ministro na última terça-feira (31/8), em evento no Ministério da Saúde.

Apesar da insistência de Queiroga, o país enfrenta uma série de desafios para os próximos passos da campanha. Entre eles, estão os diferentes ritmos de vacinação nos estados; a interrupção na entrega de imunizantes por laboratórios; e a suspensão dos calendários em diversas regiões.

Intervalo entre doses

Quando o assunto é aplicação da segunda dose, o país ainda segue em ritmo lento. Dados do próprio Ministério da Saúde, coletados por meio da plataforma Localiza SUS, mostram que, até a última sexta-feira (3/9), 64,5 milhões pessoas estavam com o esquema vacinal completo.

O número representa aproximadamente 40,3% de todos os adultos brasileiros. Para tentar acelerar a aplicação das doses, o Ministério da Saúde informou que reduzirá, a partir do dia 15 de setembro, o intervalo de aplicação dos imunizantes da Pfizer e da AstraZeneca.

O reforço das duas vacinas poderá ser feito oito semanas após a administração da primeira dose. O intervalo anterior era de 90 dias. Mesmo com a redução, especialistas avaliam que é impossível terminar de vacinar todos os adultos até o fim de outubro.

Isso porque os brasileiros imunizados com a primeira dose da Pfizer ou da AstraZeneca no dia 15 de setembro — data limite prometida pelo governo — só receberão o segundo reforço oito semanas depois, ou seja, a partir do dia 10 de novembro.

O diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, explica que, ao contrário do que defende o ministro Marcelo Queiroga, é “matematicamente impossível” finalizar a campanha em outubro.

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A miocardite (inflamação do coração) foi apontada por estudos como um dos efeitos colaterais após a vacinação com imunizantes de RNA, como Pfizer e Moderna. O evento é considerado muito raro
Vacina contra a Covid-19
A Pfizer foi pioneira nos estudos clínicos com pessoas mais jovens e a primeira empresa a pedir a aprovação da agência brasileira
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A autorização para o uso emergencial em adolescentes com 12 anos ou mais foi dada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em junho deste ano

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A miocardite (inflamação do coração) foi apontada por estudos como um dos efeitos colaterais após a vacinação com imunizantes de RNA, como Pfizer e Moderna. O evento é considerado muito raro

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A Pfizer foi pioneira nos estudos clínicos com pessoas mais jovens e a primeira empresa a pedir a aprovação da agência brasileira

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“Finalizar em outubro o país não vai. É matematicamente impossível, tem gente tomando a primeira dose nesta semana. Consequentemente, a segunda dose vai ser em novembro. Grande parte vai ter finalizado o esquema vacinal, mas temos um percentual que vai ficar para depois”, afirmou.

O médico explicou que, além do prazo normal de aplicação das vacinas, há outras “variantes” que ameaçam a campanha. Uma delas é a distribuição das doses aos estados e municípios.

“O Brasil tem lugares em que a vacina viaja até 15 dias para chegar ao município. O tempo entre a distribuição e a aplicação, dependendo da região do país, tem um retardo. É um tempo necessário para que ocorra essa distribuição”, pontuou o especialista.

Além disso, o atraso no cadastramento das informações sobre a vacina nos sistemas das secretarias de saúde pode impactar no prazo estabelecido pelo ministro Queiroga. Kfouri lembra que o registro pode demorar para ser computado no Ministério da Saúde.

Suspensão da aplicação nos estados

Outro fator que pode dificultar os planos do governo federal é a suspensão das campanhas de vacinação em diversas regiões. Na quinta-feira (2/9), a Prefeitura do Rio de Janeiro anunciou a interrupção da aplicação de Coronavac por falta de doses.

Até a última sexta-feira, a cidade de Florianópolis, capital de Santa Catarina, estava com a aplicação da primeira dose suspensa. De acordo com o governo local, a secretaria de saúde aguardava a chegada de mais vacinas.

Além disso, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) anunciou, na sexta-feira, que ficará duas semanas sem entregar doses da vacina AstraZeneca para o Plano Nacional de Imunizações (PNI).

Segundo o laboratório, a interrupção se deve ao atraso na entrega do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), matéria-prima para fabricação das vacinas.

A produção de doses leva ao menos três semanas. De acordo com o laboratório, ainda no mês de setembro, serão entregues 15 milhões de doses. No entanto, as próximas entregas ao PNI devem ocorrer apenas na semana do dia 13 a 17 de setembro.

A reportagem procurou o Ministério da Saúde para atestar se a suspensão nas entregas da Fiocruz impactará na distribuição de doses aos estados e municípios. A pasta também foi questionada se a previsão estabelecida pelo governo federal sofrerá mudanças.

Em nota, o Ministério da Saúde disse que “até o momento já entregou aos estados 67% das doses de AstraZeneca previstas para a segunda aplicação no mês de setembro”.

“A pasta reforça, ainda, que não garantirá doses para os estados e municípios que adotarem esquemas e cronogramas vacinais diferentes do que foi definido por representantes da União, estados e municípios no Plano Nacional de Vacinação contra a Covid-19”, informou o órgão.

Além disso, foi perguntado ao órgão se há uma previsão de entrega de doses para as cidades do Rio de Janeiro e Florianópolis, que suspenderam os calendários por falta de vacinas. Por telefone, um funcionário disse à reportagem que a entrega das unidades será realizada neste fim de semana. No entanto, o ministério não respondeu o questionamento oficialmente via e-mail.

Otimismo

Apesar dos desafios para completar a campanha no prazo previsto pelo governo federal, Kfouri avalia que o Brasil está alcançando resultados positivos imunização. Ele pontua que os adultos não estarão totalmente vacinados em outubro, mas acredita que a meta deve ser atingida em dezembro.

Kfouri lembra que, mesmo com a demora para iniciar a vacinação e com a lentidão nos primeiros meses de campanha, o país conseguiu atingir uma porcentagem alta de pessoas que receberam ao menos a primeira dose.

Os resultados são melhores que o dos Estados Unidos, por exemplo, que iniciaram a imunização em dezembro de 2020, mas estão atrás do Brasil na porcentagem de adultos vacinados com o primeiro reforço (74,7%).

“A gente queimou a largada. Saímos atrás na vacinação. Mas o Brasil pode terminar o ano como um dos países com melhores resultados no mundo. A gente não tem antivacinismo, como nos Estados Unidos”, afirma.

Kfouri lembra que, para atingir um resultado de êxito, o governo deve dar atenção às campanhas de conscientização — especialmente para que a população retorne aos postos para tomar a segunda dose.  Em 20 de agosto, o Ministério da Saúde informou que ao menos 8,5 milhões de pessoas estavam com o reforço atrasado.

“É um problema a ser enfrentado, mas é superável. Precisamos de mais campanhas. Estamos acostumados no Brasil a fazer campanhas de dose única, como as da gripe e sarampo. É como um jogo de futebol: acabou o primeiro tempo, mas ainda temos o segundo”, ressalta.

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