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Unidade de Oxford no Rio terá foco em doenças infecciosas e vacinas

Em entrevista ao Metrópoles, a cientista Sue Ann Costa Clemens conta como será o centro de ensino e pesquisa de Oxford na cidade do Rio

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Divulgação / Leo Aversa
A Professora Sue Ann Costa Clemens é diretora e uma das fundadoras do Programa de Mestrado em Vacinologia da Universidade de Siena, na Itália, é professora de Saúde Global na Universidade de Oxford, professora e chefe do Departamento Clínico e de Relações Internacionais do Instituto Carlos Chagas, no Rio de Janeiro
1 de 1 A Professora Sue Ann Costa Clemens é diretora e uma das fundadoras do Programa de Mestrado em Vacinologia da Universidade de Siena, na Itália, é professora de Saúde Global na Universidade de Oxford, professora e chefe do Departamento Clínico e de Relações Internacionais do Instituto Carlos Chagas, no Rio de Janeiro - Foto: Divulgação / Leo Aversa

Rio de Janeiro – Um centro de excelência em pesquisa, focado em saúde global, doenças infecciosas e vacinas, com a chancela da britânica Universidade de Oxford e liderado pela professora carioca Sue Ann Costa Clemens, deverá ser inaugurado ainda este ano no Rio de Janeiro. Por enquanto sem uma localização definida, a unidade vai oferecer, além de incentivo a estudos, cursos de capacitação, treinamento, mestrado e doutorado.

Sue Ann tem currículo extenso. É diretora e uma das fundadoras do Programa de Mestrado em Vacinologia da Universidade de Siena, na Itália, professora de Saúde Global na Universidade de Oxford, mestre e chefe do Departamento Clínico e de Relações Internacionais do Instituto Carlos Chagas, no Rio de Janeiro, e conselheira sênior de desenvolvimento de vacinas da Fundação Bill e Melinda Gates.

Durante a pandemia, ela coordenou os testes clínicos no Brasil do imunizante de Oxford/AstraZeneca nos seis centros definidos no país (São Paulo, Rio, Salvador, Natal, Porto Alegre e Santa Maria, no Rio Grande do Sul). O trabalho foi relatado no livro História de uma Vacina, lançado recentemente pelo selo História Real da editora Intrínseca.

“Não podemos perder esta oportunidade, de colocar o Brasil no trilho do que está acontecendo no mundo. Queremos começar a funcionar no primeiro semestre de 2022 e produzir conhecimento a partir do intercâmbio entre grandes nomes da ciência mundial e os talentos daqui, que são muitos e exponenciais”, avalia.

Em entrevista ao Metrópoles, a cientista revela os planos para a unidade da instituição inglesa no país – a primeira fora da Europa -, avalia a situação da pandemia no Brasil e conta como pretende contribuir para elevar a qualidade da ciência nacional, trazendo para o endereço cursos já oferecidos nas universidades de Oxford e Siena, como o doutorado em vacinologia.

Como vai funcionar a unidade de Oxford no Rio?

A ideia é inaugurar ainda este ano e começar a funcionar no primeiro semestre do ano que vem. O local será definido quando o Ministério da Saúde entregar a lista de imóveis da pasta onde a instituição poderá ser instalada. Teremos uma forte atuação de pesquisa na área de saúde global, com foco em doenças infecciosas e vacinas, e vamos escolher um setor, uma linha de cuidados de doenças crônicas, não-infecciosas. O ministério, por exemplo, indicou a cardiologia.

A instituição terá foco em pesquisa, mas também oferecerá capacitação e treinamento de pessoal, que corresponderá à parte acadêmica, com cursos em diferentes níveis. Vamos tentar trazer cursos que já temos em Oxford e em Siena, para conseguir, assim, abrir logo o espaço, sem perder tempo. O plano são classes pensadas no desenvolvimento clínico e doenças infecciosas. Para começar, pensamos em cursos de atualização menores, mas também de mestrado e doutorado.

Esses cursos serão cobrados ou terão somente sistema de bolsas?

Ainda estamos montando o plano estrutural. Primeiramente, precisamos definir estratégias e projetos e, a partir daí, estabelecer metas. Só então abriremos a seleção. Nas duas universidades (Oxford e Siena), oferecemos cursos com bolsas e que cobram pelo ingresso dos alunos. Devemos possuir aqui as duas modalidades, o que dependerá do tempo de duração, dos créditos e do planejamento.

O corpo de professores trará nomes nacionais ou cientistas globais?

O corpo docente será, com certeza, misturado. Como vamos trazer cursos que já oferecemos lá fora, teremos grandes nomes internacionais. Precisamos trazê-los para não perder essa oportunidade de acompanhar o que o mundo está vivendo. Então, a ideia é começar com o que já temos lá. E óbvio: teremos talentos locais, muito significativos e exponentes no Brasil.

Essa mistura de culturas e dados de saúde contribui para as pesquisas?

Ela é parte da ciência. Quando criei os cursos de mestrado e doutorado em Siena, sabendo que a ciência transcende fronteiras, recebemos alunos de diferentes realidades, com informações sobre os sistemas de saúde pública de seus países, conhecimentos sobre doenças diferentes, e isso é fundamental. A gente só tem a crescer com esta integração cultural, científica e acadêmica.

O Brasil conta com excelentes centros de pesquisa, como a Fiocruz, de quem Oxford é parceira na produção da vacina AstraZeneca. A fundação faz parte desse novo projeto?

Temos uma parceria com o Ministério da Saúde e a Fiocruz faz parte disso. Primeiramente, vamos encontrar interesses comuns e aí o ministério indicará os parceiros que ele quer colocar nesta colaboração. A Fiocruz é fundamental e está dentro.

Como a senhora avalia a situação epidemiológica do Brasil em comparação com o cenário mundial?

Atualmente, o Brasil apresenta resultados excelentes. Vai ser um dos poucos países que termina 2021 com excelente taxa de cobertura vacinal, cerca de 80%, e com as duas doses. Já estamos dando a 3ª dose em idosos e imunizando adolescentes. Isso é demonstrado nos indicadores. Estamos sendo muito bem vistos pela comunidade internacional, em especial nas reuniões da Fundação Bill e Melinda Gates, principalmente nos últimos meses.

E os próximos passos? Como pensar no futuro?

É preciso trabalhar no plano para o ano que vem. Pensar em uma estratégia para a vacinação dos outros grupos que ainda não estão contemplados (as crianças, por exemplo) e em uma estratégia pós-pandêmica. Precisa ser definido, por exemplo, como será a vacinação depois da epidemia: anual, a cada dois anos? Tudo vai depender de resultados e estudos em andamento.

Também deve-se pensar no posicionamento com relação as variantes. No Reino Unido, já temos avanço da variante Delta Plus e, com certeza, vão surgir outras. Até o momento, não se necessitou de atualização das vacinas disponíveis, mas pode ser que uma nova variante exija isso.

Algumas cidades e estados estão desobrigando o uso de máscaras. A senhora concorda?

Estamos no final do segundo ano de uma pandemia, uma situação sem precedentes que o mundo viveu. Cada indivíduo deve se conscientizar e saber como se comportar. Já foi visto que a aglomeração e o não uso de máscaras podem levar a uma maior disseminação do vírus e a criação de uma nova variante. Por isso, acho que os cuidados continuam necessários.

A discussão se o governo libera ou não libera vai estar sempre presente, mas não faz efeito. No período em que era obrigatório o uso da máscara, o que mais se viam eram pessoas sem ela. As pessoas precisam ser responsáveis por manter os cuidados pelo próprio bem e de sua comunidade.

O que é preciso lembrar sempre quando o assunto é proteção e prevenção?

É preciso consciência individual, lembrar que há pessoas não vacinadas, que os idosos precisam da terceira dose, que as crianças precisam da vacina. A gente tem a possibilidade de novas variantes quando não se usa a máscara e não temos produção de vacinas para o mundo inteiro. A África, por exemplo, não está vacinada e o vírus continua circulando. Por isso, precisamos pensar no coletivo.

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