“Um sonho desabou ali”, diz mãe e avó de mortos em tragédia no Rio
Antônia de Souza Gomes perdeu seu filho Natan e a neta Maitê em desabamento de prédio na comunidade de Rio das Pedras
atualizado
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Rio de Janeiro – “Não tem milícia nisso. Tem muito trabalho e muita dedicação de um pai para deixar um teto de legado pros filhos.” Esta é a ressalva feita pela cuidadora de idosos Antônia de Souza Gomes, de 58 anos, ao falar sobre a morte de seu filho, Natan de Souza Gomes, e de sua neta, a pequena Maitê, de apenas 2 anos e 8 meses.
Pai e filha morreram sob os escombros do prédio que desabou na madrugada de quinta-feira (3/6) na comunidade de Rio das Pedras, na zona oeste do Rio.
Em entrevista exclusiva ao Metrópoles, Antônia falou sobre o ex-marido Genivan Gomes Macedo, que construiu o edifício de quatro andares onde morava boa parte da família.
“Um sonho desabou ali. Foram muitas noites viradas de sol a sol, muitas vezes sem nem parar para comer, para erguer aquele prédio e abrigar a nossa família. Casada com ele, também peguei no pesado, carreguei areia, vigas, e o mesmo sonho que ele tinha, de deixar nossos filhos amparados”, lembra a cuidadora, que não estava em casa na hora do acidente por conta do trabalho – ela dorme na casa onde cuida de um idoso.
Abalada, com picos de pressão nas últimas horas, Antônia conta que a obra foi iniciada em 1996, quando Genivan investiu tudo o que a família tinha na compra do terreno – onde havia apenas um barraco que, em seguida, deu lugar ao prédio.
Lan house
A emoção é ainda maior quando a cuidadora lembra que o filho, Natan, ex-militar da Aeronáutica, pediu dispensa quando seria transferido para São Paulo.
“Ele não foi para ficar perto de nós. Dizia que queria cuidar da gente. E por isso abriu a lan house no andar térreo, que era o sustento dele. Como o pai, era um homem correto, dedicado à filha e um guerreiro”, lamenta.
A família estava distribuída pelos andares do prédio. No primeiro andar, moravam Natan com a filha e a esposa, a jovem Quiara Abreu, de 28 anos, que foi retirada dos escombros com vida e segue internada em estado grave no Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea, zona sul do Rio.
Quiara teve duas fraturas de costelas, que perfuraram o pulmão, lesões em duas vértebras, um trauma muscular grave, que provoca alterações sanguíneas, e escoriações por todo o corpo, gerando instabilidade clínica. Ela foi sedada pelos médicos.
Procurada pelo Metrópoles, a Secretaria Municipal de Saúde não informou, no entanto, se a cirurgia indicada para a paciente foi realizada ou quando será feita.
No segundo andar vivia outra filha de Antônia, Nataniela Souza Gomes, de 28 anos, transferida para o Hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, onde permanece internada com queimaduras no lado direito do corpo, em especial na perna, cortes provocados pelos escombros e outras escoriações leves.
A vítima ainda não tem previsão de alta hospitalar. O marido da jovem, Jonas Rodrigues de Souza, 39, também ficou ferido, foi atendido no mesmo hospital e liberado no mesmo dia.
Não consigo suportar tanta dor
O terceiro pavimento estava vazio, inacabado. E, no último, moravam dona Antônia e outra filha, Antônia Tatiana Leonardo de Souza, 38. Esta última também foi levada ao Lourenço Jorge com ferimentos leves, avaliada e liberada pelos médicos.
“Foram 20 anos morando ali, sem envolvimento com qualquer problema ou desavenças. Não consigo ainda olhar pra frente, pro futuro, sabendo que o que ficou pra trás nessa tragédia é maior que qualquer coisa material que a gente pudesse ter: meu filho e minha netinha. Não consigo suportar tanta dor”, completa.
Os sobreviventes do acidente têm, agora, uma dura batalha para recompor a família e refazer a vida.
Com a queda do prédio, a família perdeu tudo, incluindo roupas, documentos e objetos de valor.
Amigos formam uma rede de apoio e recebem doações, que podem ser enviadas para o endereço Rua Lagoa Grande, 290, casa 2, no bairro do Anil, na zona oeste. Os interessados em ajudar também podem entrar em contato no local.
Outra preocupação dela é alertar aos clientes da loja virtual de Kiara no Instagram, que usa para vender roupas infantis (@pupete.baby): “as encomendas não vão chegar”.
“Hoje estou enterrando meu filho, e com ele, a minha história. Queria ter ido no lugar dele. Não sei como vou viver aqui sem minha netinha, sem meus dois amores”, diz a cuidadora, preocupada em alertar seus compradores que não conseguirá enviar os pedidos da loja virtual.
Veja imagens do desabamento: