Um mês após explosões, STF mantém estacionamentos fechados e grades
Desde o dia 13 de novembro, quando o homem-bomba Francisco Wanderley se explodiu em frente ao STF, uma série de medidas foram tomadas
atualizado
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Um mês após as explosões perto do Supremo Tribunal Federal (STF) e no estacionamento do anexo IV da Câmara dos Deputados mudanças podem ser percebidas na Esplanada dos Ministérios. Desde que um homem se explodiu em frente à estátua da Justiça, em 13 de novembro, o STF retomou a proteção de seu prédio com grades por toda a praça até perto do Panteão. Há ainda carro da Polícia Militar e policiais judiciários ao redor.
Além disso, os estacionamentos da Corte, tanto o que fica virado para o Congresso Nacional quanto o que está na altura da Procuradoria-Geral da República (PGR), estão fechados para o público externo. As áreas eram usadas por visitantes de diversos órgãos públicos que ficam ao redor, mas, agora só têm acesso ao lugar funcionários ou servidores com crachá e matrícula.
O estacionamento do STF era aberto para o público geral e tinha o aval do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para permanecer aberto. No entanto, o fechamento se deu devido a uma questão de segurança e não tem prazo para a reabertura.
As medidas de segurança ainda são estudadas e aplicadas em conjunto com a segurança do STF e a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal. Veja como estão as áreas externas do Supremo, onde visitantes estacionavam seus veículos no dia a dia:
Ameaças
Desde o dia 8 de janeiro de 2023 até a data do atentado à bomba, o STF recebeu 1 mil ameaças por diversos meios, um total de três intimidações por dia. As ameaças contra ministros e atentando contra a integridade da Corte chegaram via e-mail, carta ou telefone. Ainda nesta quinta-feira (12/12), a Corte seguia recebendo ameaças contra integridade material da Corte, familiares de ministros, os próprios ministros, entre outros.
Para receber cartas ou malotes, o STF já tem um protocolo severo de aceitação, com uso de Raio-x e triagem dos profissionais. As ameaças levam a segurança do Supremo a manter em um banco de dados pessoas que possam ser potenciais autores de ataques.
O monitoramento dessas pessoas leva em conta premissas como: ter arma de fogo; ser ativa nas redes sociais com discurso antidemocrático ou explicitamente contra o STF; ter muitos seguidores; ter poder aquisitivo para viajar e orquestrar atos, entre outros.
Homem-bomba
Após o homem-bomba, Francisco Wanderley Luiz, 59 anos se explodir em frente ao STF, a Corte recebeu número e-mails anônimos enaltecendo o ataque.
O homem era dono de um carro que explodiu no estacionamento do Anexo IV da Câmara dos Deputados, mantinha bombas em uma casa alugada em Ceilândia (DF) e se matou vestindo uma roupa com naipes de baralho em suposta alusão ao personagem Coringa.
Os e-mails foram, em sua maioria, da plataforma Proton Mail, que tem como promessa o anonimato do usuário. Nas mensagens, o homem-bomba é colocado como mártir. “Esclarecemos que Francisco Luiz, agora no céu junto com o pai, foi apenas um dos inúmeros mártires de nossa luta contra vós, a escória satânica do STF”, diz um dos e-mails mandados para o Supremo.
Veja:
“Matar ministros da Suprema Corte”
Em 14 de novembro, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou que Francisco Wanderley Luiz, tinha ainda intenção de “matar ministros da Suprema Corte” e que seu alvo principal era Alexandre de Moraes.
Segundo o diretor-geral da corporação, esse não foi um fato isolado e se conecta com outras investigações da PF, como o inquérito sobre os atos golpistas do 8 de Janeiro.
“[O caso] Mostra a vinculação desses grupos radicais que culminam nessa barbaridade que acontece ontem, na tentativa de matar ministros da Suprema Corte, e também que culminou nesse lamentável episódio do suicídio dessa pessoa”, disse Andrei Rodrigues, ao citar uma mensagem deixada para uma bolsonarista presa pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, no espelho da casa que o homem-bomba alugava em Brasília.
Andrei Rodrigues confirmou que o alvo principal do atentado era o ministro da Suprema Corte Alexandre de Moraes. “Parece que essa pessoa queria entrar no prédio do Supremo, não conseguiu e, por isso, resolveu fazer o que fez”, afirmou.
Extremistas
O diretor-geral da PF ressaltou que grupos extremistas estão ativos no país. “Esse episódio de ontem não é um fato isolado. A PF tem investigado num período recente”, declarou Andrei Rodrigues. “Houve tentativa de matar ministros da Suprema Corte”, disse.
O presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, acompanhou todos os passos da investigação, que também teve inquérito aberto pela Polícia Federal. O ministro ligou para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para falar sobre as explosões na Praça dos Três Poderes.
Depois das explosões, Barroso se pronunciou em plenário. O ministro abriu a sessão do dia 14 de novembro em tom de pesar, lamento e reflexão. O ministro ressaltou que o ato de Francisco Wanderley Luiz foi gravíssimo e se soma a uma série de fatos que ocorreram no país nos últimos anos.
Barroso questionou onde foi que o brasileiro se perdeu nesse “mundo de ódio, intolerância e golpismo”. “Onde foi que nós perdemos a luz da nossa alma afetuosa, alegre e fraterna para a escuridão do ódio, da agressividade e da violência? Estamos importando mercadorias espiritualmente defeituosas de outros países que se desencontraram na história.”
Em seguida, o ministro elencou, cronologicamente, incidentes que atentaram contra a democracia e desrespeitaram as instituições que compõem a República. “Esse episódio de ontem se soma ao que já vinha ocorrendo no país nos últimos anos”, disse.