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Últimos dias das Eleições 2020 são marcados por série de atentados políticos

A violência marcou a campanha, com assassinatos e atentados a candidatos ou militantes. Apenas na última semana, foram 10 ataques à bala

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Divulgação/Polícia Militar
Candidato a vice-prefeito na PB é preso em bar por porte ilegal de arma
1 de 1 Candidato a vice-prefeito na PB é preso em bar por porte ilegal de arma - Foto: Divulgação/Polícia Militar

A reta final das Eleições 2020 tem registrado uma escalada nos casos de violência política no país. Apenas nesta última semana antes do primeiro turno, que será realizado no domingo (15/11), houve ao menos 10 atentados a tiros contra candidatos a prefeito ou vereador no país.

A casa do vereador Rafael de Oliveira Dias (MDB), conhecido como Rafael da Hípica, candidato a prefeito de Mairinque (SP), foi alvo de disparos nessa sexta-feira (13/11). A investida aconteceu pouco depois da meia-noite. Ele estava sentado no sofá, quando ouviu três tiros. Duas balas atingiram uma das janelas do cômodo onde ele estava.

Poucas horas depois, o candidato do PTB à Prefeitura de Encruzilhada do Sul (RS), Pedro Paulo dos Santos Soares, também sofreu um ataque com arma de fogo. Na mesma noite, disparos atingiram a casa do prefeito Paulo Roberto Mariano (MDB), de Pequizeiro (TO).

Na quinta-feira (12/11), bandidos atiraram contra Ivan Dantas De Farias (PSL), candidato a prefeito em São Paulo do Potengi (RN). Apesar do susto, o político não se feriu. O atentado ocorreu no mesmo dia em que o prefeito da cidade, José Leonardo Casimiro, conhecido como Naldinho, denunciou estar sofrendo ameaças de morte.

Ainda na quinta-feira, o policial militar e candidato à Câmara Municipal de Magé Kleiton Sodré, conhecido como Kleiton Gatão (PSL), foi alvo de disparos. Ele estava com um assessor no carro, em um posto de gasolina no bairro de Santa Dalila, por volta das 23h, quando um veículo emparelhou ao lado do dele e soltou os tiros. O candidato e o assessor não se feriram, mas as marcas das balas ficaram na lataria. A tentativa de homicídio foi gravada pelas câmeras do circuito interno do posto de combustível.

Às 10h30 do mesmo dia, Solange Freitas (PSDB), candidata à Prefeitura de São Vicente (SP), sofreu um atentado. Uma pessoa de moto se aproximou do veículo em que ela estava e atirou ao menos três vezes em direção à janela do passageiro. Ninguém ficou ferido porque o carro era blindado.

Na quarta-feira (11/11), durante a noite, o candidato a prefeito de Goianorte (TO) José Otacílio (Cidadania) teve sua casa atingida por tiros. Em Sumaré (SP), o guarda municipal e candidato a vereador Ednelson Peixoto (PSB) foi baleado na noite daquele dia.

Um dia antes, na terça-feira (10/11), em Ribas do Rio Pardo (MS), a vereadora e candidata a prefeita Fabiana Silveira Galvão (MDB) também teve sua casa alvejada à noite. No momento do crime, ela não se encontrava na residência.

Também na terça, ao menos três tiros atingiram o carro do candidato à Prefeitura de Bom Princípio do Piauí (PI) Lucas Moraes (DC). O crime ocorreu em uma estrada vicinal do povoado Brejo, na zona rural do município.

Ano violento

A aceleração da violência política nos últimos dias antes do pleito perturba, mas os ataques têm sido uma constante desde o início de 2020. Um levantamento do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) revela que, em média, um candidato ou militante é morto no Brasil a cada três dias desde janeiro. O ano já soma 82 assassinatos atribuídos a razões políticas.

Nesta semana, a descoberta de uma trama para matar a deputada federal Talíria Petrone (PSol-RJ) deixou o clima das Eleições 2020 ainda mais pesado. Talíria, que é um dos pilares da campanha de Renata Souza à Prefeitura do Rio de Janeiro, é alvo de um plano que, segundo a Polícia Civil do Rio de Janeiro, era tramado pelo miliciano Edmilson Gomes Menezes, o Macaquinho, ligado ao Escritório do Crime, mesmo grupo investigado pelo assassinato da vereadora Marielle Franco, em março de 2018.

Com um bebê recém-nascido, a deputada precisou se mudar do Rio de Janeiro para garantir a segurança de sua família diante da iminência de um novo crime, nos moldes do que ocorreu com a colega de PSol em 2018.

No Rio, pelo menos sete atentados com possível motivação política ocorreram em pouco mais de um mês, deixando três mortos. A violência se intensificou na reta final da campanha. Em apenas uma semana, cinco pessoas com envolvimento direto nas eleições foram alvo de crimes. Entre elas, quatro são candidatas ao cargo de vereadora.

O modo como aconteceram as tentativas de homicídio também guarda semelhança entre os casos. Em três deles, as vítimas se deslocavam de carro quando foram surpreendidas por tiros. Outros três atentados ocorreram em emboscadas.

Em Magé, município da Baixada Fluminense, Renata Castro, cabo eleitoral da família Cozzolino, foi assassinada na manhã de 30 de outubro ao ser atingida por ao menos 14 tiros na porta de casa. Poucas horas antes de morrer, ela havia postado nas redes sociais uma mensagem na qual revelava estar sofrendo ameaças de morte.

“Não adianta me ameaçarem de morte. Hoje, teve dois cidadãos que foram no prédio me ameaçar, me coagir. Tô esperando, não tenho medo de você. O que eu fiz ontem eu vou fazer amanhã, vou fazer depois de amanhã, eu vou fazer quantas vezes forem necessárias, porque eu não devo nada à Justiça. O que vocês estão fazendo hoje com o nosso município de Magé é uma formação de quadrilha. Um prefeito canalha, que está brincando com a nossa saúde, com a nossa educação, com o nosso saneamento básico. Mais uma denúncia aqui na Polícia Federal”, disse no vídeo.

Nova Iguaçu

Duas outras mortes ocorreram em Nova Iguaçu, na Baixada. Mauro Miranda da Rocha (PTC) foi morto a tiros quando estava em uma padaria. O crime aconteceu no dia 1º de outubro. Ele era candidato a vereador.

Ainda em Nova Iguaçu, Domingos Barbosa Cabral (DEM), conhecido como Domingão, foi assassinado em um bar nove dias depois, na tarde de 10 de outubro. Ele disputava uma vaga no Legislativo municipal.

Atentado

Na noite de 2 de novembro, o candidato à reeleição como vereador Jair Barbosa Tavares, conhecido como Zico Bacana (Podemos), escapou por pouco de ser morto a tiros de fuzil quando estava em frente a um bar em Ricardo de Albuquerque, zona norte do Rio. Quando percebeu a aproximação de um veículo com homens armados, jogou-se no chão. Ele foi atingido por um tiro de raspão na cabeça.

Em troca de tiros com a polícia logo depois, duas pessoas morreram e duas ficaram feridas.

Esse sentimento, porém, não é exclusividade do Rio de Janeiro. De acordo com levantamento divulgado no início de novembro pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), 22 unidades da Federação registraram ao menos uma morte por motivação política no mês de outubro.

Pernambuco contabilizou 13 mortes; Minas Gerais, 8; e Rio de Janeiro, 7.  Pará, Paraíba e São Paulo completam as primeiras colocações no ranking de estados mais violentos.

“Violência difusa”

A ONG Justiça Global tem acompanhado a onda de violência política desde antes da campanha, e espera fechar os números após a eleição. Um estudo elaborado pelas instituições Terra de Direitos e Justiça Global já havia observado que a cada 13 dias era registrado pelo menos um caso de ataque à vida contra representantes de cargos eletivos, candidatos ou pré-candidatos no Brasil.

Em 63% das investigações em curso, não foram identificados os suspeitos pelos crimes. Esses dados são do relatório Violência Política e Eleitoral no Brasil – Panorama das violações de direitos humanos de 2016 a 2020.

Os números desta eleição ainda não estão consolidados, mas, para a coordenadora da Justiça Global, Sandra Carvalho, houve um acirramento da violência neste ano.

“Dados preliminares apontam que esta é uma das eleições mais violentas do último período”, disse ao Metrópoles.

“Existem vários motivos para esse acirramento, mas este cenário de intolerância, de ódio, de retrocesso em direitos presentes no governo Bolsonaro contribui e dá uma certa licença para a violência mais difusa”, destacou.

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Marielle e a irmã, Anielle Franco
Placa em homenagem à Marielle Franco
Deputada Talíria Petrone (PSol-RJ)
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Marielle e a irmã, Anielle Franco

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André Borges/Esp. para o Metrópoles
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SÉRGIO GOMES/CÂMARA MUNICIPAL DE NITERÓI/DIVULGAÇÃO
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Talíria é do PSol do RJ, partido de Marielle Franco

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Cultura da impunidade

Para Pablo Lira, professor do mestrado em segurança pública da Universidade de Vila Velha (UVV), no Espírito Santo, e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), a alta nos ataques políticos está ligada à impunidade e ao avanço do crime organizado. “A gente tem leis penais muito brandas, que estimulam a prática de crimes, porque os criminosos têm a certeza da impunidade, vide o exemplo do traficante que foi solto pela decisão monocrática do ministro Marco Aurélio Mello”, analisa Lira.

“Qual a mensagem que isso passa? Se um líder do tráfico de drogas é solto pelo ministro da Suprema Corte, a mensagem é a de que o crime compensa no nosso país. Aí, no período eleitoral, temos grupos atuando nessas cidades, que são marcadas pelo tráfico de drogas e pelo crime eleitoral.”

Para o professor, outro fator relevante para este momento de tensão e violência é a “polarização do debate”. “A essência humana está sendo deixada em segundo plano por discursos rasos como os que a gente está tendo. Infelizmente, o representante máximo da nossa nação dando o mau exemplo com seu discurso bélico. Isso é uma má influência para a sociedade brasileira, para o processo eleitoral. Em um momento em que o brasileiro precisa de conciliação, de equilíbrio, de um discurso político responsável, o discurso do presidente leva para outro caminho.”

O especialista em segurança pública Leonardo Sant’anna também vê o clima de violência necessariamente ligado à cultura de impunidade arraigada no país. “Temos uma cultura, em alguns espaços brasileiros, na qual as pessoas que promovem essa violência têm certeza da impunidade. É resultado da ausência do Estado para bater essa cultura, como em regiões do Rio de Janeiro onde existe a presença do narcotráfico muito intensa e o Estado quase não interfere”, avalia.

“Independentemente de quem está no poder, esse ciclo de violência obedece a mesma relação de percepção de que não vou ser punido pelo sistema, de uma maneira geral. Não importando ser de direita ou de esquerda.”

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