Último olavista no Planalto, Filipe Martins deixará assessoria de Bolsonaro
Ala militar do governo está perto de cumprir o objetivo de tirar do entorno do presidente as ideias do guru Olavo de Carvalho
atualizado
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Uma das primeiras medidas do governo de Jair Bolsonaro foi uma caça a supostos esquerdistas com cargos na administração, batizada de “despetização“. Com a administração chegando quase à metade, são os bolsonaristas da ala mais ideológica e radical que estão sendo expurgados da administração, num movimento que agora mira o assessor da Presidência para assuntos internacionais Filipe Martins.
Considerado pela ala mais moderada do entorno de Bolsonaro como “último olavista no Planalto”, Martins seguirá nas próximas semanas o caminho já trilhado pelos irmãos Weintraub: a indicação a uma vaga brasileira em um órgão internacional. “Ele sairá, mas com um prêmio de ouro”, confirma uma fonte do Planalto ligada ao núcleo mais próximo do presidente.
Com a iminente saída do assessor, militares e civis mais pragmáticos do entorno presidencial esperam livrar Bolsonaro da influência direta das ideias do guru Olavo de Carvalho, que prega uma política de enfrentamento completamente oposta à pacificação política que o grupo defende – e que inclui a opção pela aliança com o Centrão.
Muito da retórica agressiva de Bolsonaro contra países vizinhos, como Venezuela e Argentina, e a submissão aos Estados Unidos, é colocado na conta de Filipe Martins (na imagem em destaque ao lado de Donald Trump) por seus opositores dentro do governo. Por isso, a sua ida para um cargo de menor poder sobre a política externa brasileira não deverá ser lamentada por uma ala crítica do Itamaraty, que vê o ministro Ernesto Araújo como alguém submisso ao assessor presidencial.
Na troca de ares, assim como o ex-ministro Abraham Weintraub, que foi para o Banco Mundial, e seu irmão Arthur, que assumiu cargo na Organização dos Estados Americanos (OEA), Filipe Martins deverá perder essa influência na política brasileira, mas não dinheiro, pois os pagamentos em dólar nessas instituições costumam superar, em muito, o teto do funcionalismo público brasileiro. O ex-ministro Weintraub, por exemplo, ganha cerca de R$ 116 mil por mês, três vezes o salário no governo federal.
A vaga para a qual Martins deverá ser indicado não está definida. Tê-lo longe não deverá, contudo, significar o fim das polêmicas, mas é um movimento que, na visão da ala pragmática, desvincula o governo do olavismo e da turbulência da radicalização verbal, do confronto constante como método.
Se for mesmo confirmada a saída de Martins – é bom lembrar que o presidente Bolsonaro é impulsivo – sobrarão de olavistas “raiz” no governo: o chanceler Ernesto Araújo e o secretário de Alfabetização do Ministério da Educação, Carlos Nadalin.
A influência do professor de filosofia on-line, porém, alcança um nível do entorno do presidente que não se esgota em seus auxiliares – Olavo conta com a admiração e a estima dos filhos de Bolsonaro Carlos e Eduardo. Ainda que não sejam alunos do guru, os filhos do presidente são muito próximos dos influenciadores digitais do entorno olavista, como Allan dos Santos, e seguirão pressionando pelas pautas que o grupo considera o verdadeiro conservadorismo de direita.
O momento, porém, é de derrotas seguidas para o olavismo, tanto na esfera judicial quanto na política, com a limpeza dos radicais olavistas já no fim do ciclo.
Esse eventual fim do olavismo, porém, não significa o fim do radicalismo. Com o vácuo deixado pela saída dos alunos do guru, outras forças, como o secretário especial de Cultura, Mário Frias, estão tentando ocupar esse discurso – e manter o apoio de um público de extrema-direita.