UFRJ: professor teria ouvido que “se vitimiza por ser negro” e denuncia racismo
Wallace dos Santos de Moraes afirma que foi excluído de banca na universidade por ser “brigão”. Advogado acionará a Justiça
atualizado
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A direção do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) abriu, nesta sexta-feira (27/8), uma sindicância para apurar a denúncia de um professor que afirma ter sofrido racismo em uma reunião virtual para escolha de um novo docente adjunto.
O caso ocorreu em 11/8. Wallace dos Santos de Moraes, professor associado do Departamento de Ciência Política e dos Programas de Pós-Graduação em Filosofia e História Comparada da UFRJ, diz que foi excluído da banca e chamado de “brigão” e “desequilibrado”, além de dizerem que ele “não tem equilíbrio emocional” e “se vitimiza por ser negro”.
Ao jornal O Dia, o professor contou que se sentiu discriminado e rebaixado com a atitude.
“O coordenador da banca, que foi endossado por outros professores, não chegou a me chamar de ‘macaco’, não chegou a jogar uma casca de banana em cima de mim. Mas usou argumentos subjetivos para me desabonar, apesar de eu ter sido indicado e preencher todos os requisitos acadêmicos e técnicos para estar ali. Isso não cabe na administração pública. Quando se usa esses tipos de argumentos, subjetivos, contra um professor negro do instituto, é uma forma de discriminação de cunho racista sim. Tem coisas que não precisam ser ditas para serem entendidas”, disse.
A denúncia gerou revolta nas redes sociais e um abaixo-assinado elaborado Coletivo de Docentes Negras e Negros da UFRJ circula pela internet. Até a tarde de quinta-feira (26/8), o documento contava com 1.864 assinaturas.
“Os pronunciamentos de alguns professores em contrário a esses atos de discriminação com relação ao prof. Wallace, único negro do Departamento, não surtiram efeito e a maioria vetou sua participação na banca. Por que o professor Wallace, com a qualificação exigida para tal, não foi incluído na composição dessa banca?”, diz trecho.
Em resposta ao abaixo-assinado, professores do Departamento de Ciência Política (DCP) do IFCS negaram racismo e disseram que a decisão de retirar o professor Wallace dos Santos da banca não foi isolada, pois todos os docentes do departamento foram excluídos por “discordâncias internas diante do processo de renovação do DCP com a admissão de novos professores”.
O advogado Gustavo Proença, que representa o professor Wallace dos Santos de Moraes, afirma que entrará com uma ação criminal na Justiça Federal, paralelamente à apuração da UFRJ.
“A gente entende que houve uma conduta discriminatória, injuriosa e caluniosa. Considerando que ele era o único professor negro, que ele tinha a qualificação técnica e acadêmica para participar da banca, além da pertinência de suas pesquisas. A gente entende que a única coisa que explica essa postura discriminatória é a motivação racial”, declarou o advogado ao jornal O Dia.