“Tudo que ocorrerá hoje é culpa sua”, disse estudante atirador do PR
Autor do ataque a tiros dentro de escola municipal seria vítima de bullying. Um dos feridos foi atingido na coluna e passará por cirurgia
atualizado
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Em vídeo gravado supostamente antes de um estudante de 15 anos descarregar uma arma contra colegas de classe do Colégio Estadual João Manoel Mondrone, em Medianeira (PR), na manhã desta sexta-feira (28/9), o autor afirma que era humilhado pelos outros alunos. Citando o nome de vários estudantes, ele culpa os adolescentes pelo ataque que estava prestes a cometer.
Tudo que ocorrerá hoje é culpa sua
Estudante de 15 anos que atirou contra colegas em escola pública do Paraná
Ele também pede desculpas antecipadas pelo ataque: “Quero me desculpar pelo incômodo que eu vou causar para redes policiais, Bope e esquadrão de bombas, e aos médicos. Espero que façam um ótimo trabalho.”
Nas imagens, feitas em uma estrada de terra, o garoto não mostra o rosto. Em alguns momentos, ele diz estar ansioso. “Estou muito ansioso, passando mal. Peço aos familiares que tenham compreensão por causa dos meus atos. Seus filhos me humilharam, me ameaçaram de uma maneira que não tem mais perdão.” Ao final do vídeo, o adolescente diz que o ataque não era motivado por jogos de videogame e nem por livros.
Se for para culpar algo, culpem seus próprios filhos
Atirador de 15 anos
Um adolescente foi baleado na região da coluna e encaminhado para o Hospital Municipal Padre Germano Lauck, em Foz do Iguaçu. Ele será transferido para outro hospital, onde fará cirurgia de alta complexidade. Outro ferido, de 18 anos, foi atingido na coxa. Atendido no Hospital e Maternidade Nossa Senhora da Luz, ele já recebeu alta médica. Não houve mais vítimas.
O caso
O ataque na escola ocorreu por volta das 8h30 desta sexta-feira (28/9). Além do estudante de 15 anos acusado de ser o autor dos disparos, a polícia apreendeu outro jovem: ambos foram levados para a delegacia. Durante a apreensão, os policiais recolheram um revólver, munição e uma faca. Na casa de um dos menores, havia mais armas, também apreendidas. Os pais seguiram para a delegacia, onde prestarão esclarecimentos.
Um comunicado do colégio divulgado em redes sociais informa que as aulas desta sexta-feira dos períodos da tarde e noite estão suspensas por causa da ocorrência.
Bullying
O caso coloca novamente especialistas e educadores em alerta contra o bullying, caracterizado como ato de violência física ou psicológica que acontece de forma intencional e repetitiva. A intimidação normalmente se dá de forma velada. Desde fevereiro de 2016, uma lei federal estabelece como responsabilidade das escolas a promoção de medidas de conscientização, prevenção, diagnóstico e combate ao bullying.
“Mais uma vez um caso grave acontece no país e joga luz à falta de um trabalho efetivo contra o bullying nas escolas. Ainda estamos muito longe de ter esse assunto sendo trabalhado sistematicamente nas escolas”, diz Luciene Tognetta, pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem), que reúne especialistas da Unicamp e Unesp para estudar a convivência escolar e bullying.
Para ela, todas as crianças envolvidas – tanto os meninos que fizeram o ataque como os que foram alvo – são vítimas da ausência de ações para melhorar a convivência escolar. “Esses meninos foram vítimas de intimidação e humilhação por muitos anos. Agora, eles se tornam os autores da violência. Nada justifica a violência que cometeram, mas nós precisamos cuidar dessas duas crianças”, diz.
Ela explica que um trabalho sistemático contra o bullying começa na prevenção dos casos e na melhora do ambiente escolar, envolvendo todos os alunos, professores e funcionários. “O bullying é um fenômeno muito complexo. Não adianta só fazer um dia de discussão sobre ele ou espalhar cartazes pela escola. Tem que ser um trabalho de todos os dias, uma mudança no comportamento de todos”, complementa.
Luciene ressalta que, além de muitas escolas falharem na promoção de ações contra o bullying, o poder público também falha ao não fiscalizar as unidades para monitoramento dos casos e de práticas preventivas.