TSE aposta em redes sociais para convencer adolescentes a tirar título
Fevereiro de 2022 foi o mês com menor adesão de jovens de 16 e 17 anos ao título de eleitor em toda a história
atualizado
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Uma das maiores artistas brasileiras da atualidade, a cantora Anitta dedicou espaço nas suas redes sociais para fazer um pedido aos fãs de 16 e 17 anos: a emissão do título de eleitor.
O pedido repercutiu na internet e também foi feito por outras celebridades, como Zeca Pagodinho, Bruna Marquezine, Juliette Freire, Luísa Sonza, Camilla de Lucas e até mesmo por artistas internacionais, como o ator norte-americano Mark Ruffalo, de Hulk.
O assunto tomou conta das redes sociais após dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apontarem que fevereiro de 2022 foi o mês com menor número de jovens de 16 e 17 anos com o título de eleitor em mãos desde a redemocratização do país, em 1988. São cerca de 834 mil pessoas.
Em fevereiro de 2018, ano das últimas eleições gerais, o número de jovens da mesma faixa etária com o documento em mãos era de 1,4 milhão. Os dados constam no painel Estatísticas do Eleitorado, do TSE.
No Brasil, o voto é obrigatório para todo cidadão alfabetizado maior de 18 anos, e facultativo para eleitores analfabetos; maiores de 70 anos de idade; e adolescentes de 16 e 17 anos.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o Brasil conta com cerca de 6 milhões de pessoas com 16 e 17 anos de idade. O número de jovens com título registrado representa só 13,6% do total de habilitados a ter o documento.
Ao Metrópoles, especialistas explicam que a participação de jovens é fundamental para o exercício da democracia.
Impacto real
Segundo os dados mais recentes do TSE, atualizados em fevereiro deste ano, o Brasil tem 147,5 milhões de eleitores com título registrado. Ao Metrópoles, o cientista político David Verge Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB), explica que os votos dos 834 mil adolescentes com título registrado até fevereiro podem ser decisivos, principalmente nos pleitos para deputados estaduais e federais.
“Um deputado estadual, por exemplo, tem um cociente eleitoral menor conforme o estado. Esses votos podem fazer a diferença”, explicou Fleischer.
O especialista avalia que o desinteresse de jovens na emissão do título pode estar relacionado à descrença na política, especialmente após as eleições de 2018, marcadas pela polarização. Neste ano, as pesquisas apontam que, apesar das alternativas de terceira via, como Ciro Gomes (PDT), Sérgio Moro (Podemos) e João Doria (PSDB), os candidatos Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) concentram mais de 60% das intenções de voto.
“Temos uma eleição que supostamente é polarizada, com Lula e Bolsonaro. Muitos jovens estão desanimados porque não estão interessados em nenhum dos dois. Não tem uma terceira via viável”, avalia.
Ao contrário de Fleischer, o advogado e especialista em direito eleitoral Renato Ribeiro avalia que a polarização não influencia na baixa procura dos jovens pelo título de eleitor. Ele acredita que a descrença da população com o cenário político geral do Brasil faz com que o tema não soe interessante para os jovens.
“A nossa população hoje, não só os mais jovens, mas também a população adulta, tem estado muito descontente com os rumos que a política brasileira tem seguido. Infelizmente, temos esse descrédito por parte da população. Diante dessa situação, o desinteresse se agrava. O sujeito com 16 e 17 anos, que é menor de idade, não é obrigado a votar e se mostra desinteressado em política”, avalia.
Comunicação
Segundo Ribeiro, as ações de comunicação são fundamentais para incentivar jovens a participar das eleições. Com esse objetivo, o TSE tem realizado uma série de campanhas nas redes sociais. A ideia é se aproximar do público com uma linguagem jovem, utilizando plataformas como Instagram e TikTok. As contas do órgão nas duas redes somam mais de 290 mil seguidores.
Com memes, músicas e coreografias virais, o perfil do TSE no TikTok alerta sobre as datas importantes no calendário eleitoral, incentiva jovens e emitirem o título e desmente informações falsas sobre a urna eletrônica. Algumas das publicações têm mais de 300 mil visualizações.
@tsejus #urnaeletronica #eleições2022 #pitstopdomaluco ♬ som original – TSEJus
@tsejus #mechamamde #justicaeleitoral #eleicoes2020 ♬ som original – TSEJus
@tsejus #RoledasEleicoes #eleições2022 #dublagem #todomundoodeiaochris ♬ som original – TSEJus
“O TSE tem adotado um linguajar para tornar o tema mais atrativo ao público jovem, tirando o formalismo do poder Judiciário e fazendo um diálogo com redes sociais, pessoas influentes e formadores de opinião. Tudo isso é muito importante”, ressalta Ribeiro.
Outra estratégia para incentivar o cadastro de jovens na Justiça Eleitoral foi a campanha Semana do Jovem Eleitor, que teve ações de conscientização nas redes sociais entre os dias 14 e 18 de março. Segundo o TSE, durante a semana, foram emitidos 96.425 novos títulos em todo o Brasil e no exterior, para jovens de 15 a 18 anos de idade.
A maior procura foi entre as mulheres, com 52,5 mil cadastros. Entre os homens, cerca de 43,8 mil buscaram o serviço de emissão do título.
Os estados com maior número de novos cadastros foram São Paulo, Minas Gerais e Bahia. Por outro lado, as unidades federativas com menor procura foram Roraima, Rondônia e Amapá.
Durante os cinco dias de campanha, o portal do TSE publicou notícias com as “principais informações sobre o pleito deste ano, legislação eleitoral, alistamento, transferência e regularização do título de eleitor, entre outros tópicos, tudo para que o público jovem não tenha nenhuma dúvida quanto a prazos e regras das eleições e possa votar com segurança e confiança”, informou o órgão.
Afinal, como tirar o título de eleitor?
O prazo para emissão do título de eleitor termina em 4 de maio. É possível solicitar o documento pela internet, por meio do site do TSE.
Tire foto ou digitalize os seguintes documentos: comprovante de residência atualizado, documento de identificação oficial com foto, certificado de quitação do serviço militar (para homens entre 18 a 45 anos de idade).
Você também precisará de uma foto selfie segurando o documento de identificação ao lado do rosto. Todos os arquivos devem ter até 10 MB, nos formatos PNG, PDF ou JPG.
Veja o passo a passo:
- Acesso o site do TSE e vá até a aba “Eleitor e eleições”;
- Clique em ‘Título eleitoral” e depois em “Tire seu título”;
- Desça a barra de rolagem até a opção “Iniciar seu atendimento remoto”;
- Selecione o estado e, na opção “Título de eleitor”, escolha a alternativa “Não tenho”;
- Preencha os campos e anexe as fotos solicitadas;
- Aguarde a análise do requerimento pela Justiça Eleitoral. É possível acompanhar a situação por meio deste link.