Três pessoas morrem em SP após usarem “kit covid”, diz jornal
Uso da hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina tem sido defendido pelo presidente Jair Bolsonaro para tratar o novo coronavírus
atualizado
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Ao menos cinco pessoas foram parar na fila de transplante de fígado em São Paulo após usarem medicamentos do chamado “kit covid”, que inclui hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e anticoagulantes. Além disso, três pessoas morreram por hepatite no estado após usarem esses remédios.
As informações foram publicadas nesta terça-feira (23/3) no jornal O Estado de S. Paulo, que disse ter ouvido relatos de médicos.
As drogas são indicadas por alguns médicos, apesar de não haver comprovação científica, no tratamento da Covid-19. O kit covid também tem sido amplamente divulgado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
“Quando fazemos os exames no fígado, vemos lesões compatíveis com hepatite medicamentosa. Vemos que esses remédios destruíram os dutos biliares, que é por onde a bile passa para ser eliminada no intestino”, disse Luiz Carneiro D’Albuquerque, chefe de transplantes de órgãos abdominais do HC-USP e professor da universidade.
“É uma combinação de altas dosagens com a interação de vários medicamentos. A substância desencadeia um processo em que a célula ataca outros células, levando a fibroses, que causam a destruição dos dutos biliares”, prosseguiu.
No último dia 2, a Organização Mundial da Saúde (OMS) concluiu que a hidroxicloroquina, por exemplo, não funciona no tratamento da doença. Além disso, a droga pode causar efeitos adversos no paciente.
Apesar disso, o kit covid tem sido divulgado pelo presidente Jair Bolsonaro como uma forma de “tratamento precoce” da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.
“Nós temos uma doença que é desconhecida, com novas cepas, e pessoas estão morrendo. Os médicos têm o direito, ou o dever, de que, no momento que falta um medicamento específico para aquilo com comprovação científica, ele pode usar o que se chama de off label – fora da bula”, disse Bolsonaro, na sexta-feira (19/3), à Rádio Acústica.
“É impressionante, eu converso com muita gente idosa, né? ‘Estou tomando regularmente ivermectina, e eu e minha família, ninguém se contaminou’. Então, parece que ivermectina é preventiva e, quando você contrai, ela serve para curar a doença também”, prosseguiu.