“Tratam a gente igual bicho”, diz homem negro preso por roubo, sem provas
Ladrão estava de capacete; ainda assim, a vítima reconheceu Maxsuel Ribeiro como autor do crime, em Minas Gerais. Família denuncia racismo
atualizado
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“Me jogaram dentro de uma carrocinha horrível. Que Deus me ajude.” Em áudio publicado nas redes sociais, é possível ouvir a voz do administrador de empresas Maxsuel Vieira Ribeiro, 35 anos, no dia de sua prisão. Desde 15 de julho de 2021, ele está detido em Santana do Paraíso (MG), acusado de roubar um colar e uma pulseira. Familiares e amigos alegam que a prisão teria sido decretada por engano, sem provas para fundamentá-la, e acusam a polícia e a Justiça de racismo.
Em depoimento à polícia, a vítima do roubo disse que, enquanto estava com o filho, fora abordada por um homem negro de aproximadamente 1,80m, que estava em uma moto e usava capacete, jaqueta e calça escuras. O ladrão levou um colar e uma pulseira. Horas depois, policiais militares abordaram Maxsuel Vieira Ribeiro, que é negro, tem cerca de 1,60m e trabalha como mototaxista. Ele foi levado para reconhecimento. A mulher afirmou “categoricamente”, como consta na ocorrência, que se tratava de Maxsuel.
Na sexta-feira (30/7), a prisão de Maxsuel completou 15 dias. A Justiça negou-lhe liberdade provisória na audiência de custódia. A advogada do acusado alega que ele não tem antecedentes criminais e sustenta que apresentou provas de que o mototaxista estava trabalhando no momento do roubo, como notas fiscais de mercadorias entregues e conversas com clientes. Quando foi abordado pelos policiais, ele levava um adolescente para o treino de futebol.
“Max é formado em administração desde 2016, mas ficou sem trabalho, e há anos presta serviços para empresas e pessoas da comunidade, como mototaxista. Todo mundo conhece o Max na região e sabe que ele nunca esteve envolvido em crime algum”, declara Julia Ribeiro, 26 anos, prima de Maxsuel.
Familiares e amigos de Maxsuel acusam a Justiça e a polícia de racismo. “Por toda a fragilidade dessa acusação, sabemos que esse é mais um caso de preconceito e racismo. Por isso hoje viemos publicamente pedir #JustiçaPorMax. Enquanto um inocente é mantido preso sem provas, o verdadeiro criminoso segue solto, cometendo novos crimes”, alega a defesa.
Houve manifestação no centro da cidade para pedir a liberdade provisória de Maxsuel, assim como protestos virtuais com a #JustiçaPorMax. No dia da prisão, a página Plantão Policial – Ipatinga MG gravou entrevista com o mototaxista. No áudio, o administrador relata:
“Tratam a gente igual bicho; talvez sejam treinados para isso. Uma truculência com a qual não estou acostumado. Eles nem ouvem o que você fala. Querem que eu admita uma coisa que não fiz. Uns 10 policiais me fizeram a mesma pergunta e queriam que eu dissesse que eu roubei a mulher ou o homem, que eu nem sei quem é. O povo lá em casa vai ficar decepcionado”, defendeu-se o administrador.
No bolso, no momento da prisão, Maxsuel levava pouco mais de R$ 500, valor que ele afirma ser das corridas de mototáxi que havia feito no dia e também de uma empresa para a qual prestava serviço de entrega diariamente.
“Não sou ladrão, não roubaria em lugar nenhum. Não preciso disso, nunca precisei, nunca fui preso, não ando com esse tipo de gente. Chegaram me abordando, eu tava com cliente, já me algemaram, me deixaram sentado na terra, depois dentro de uma carrocinha horrível. É um sofrimento. Nunca nem entrei em cadeia para nada. Que Deus me ajude. Eu trabalho todos os dias, me mantenho sozinho, moro sozinho”, ressalta.
Há dezenas de comentários nas redes sociais em defesa de Maxsuel.
Agentes da 7ª Delegacia de Polícia de Santana do Paraíso confirmaram que Maxsuel não tem antecedentes criminais. O Metrópoles tentou contato com a delegada responsável pelo caso e com a Assessoria de Imprensa da Polícia Civil de Minas Gerais, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestações.