Uber faz campanha contra projeto que modifica serviço em todo o país
Motoristas de aplicativos de transporte remunerado colhem assinaturas contrárias à proposta em análise no Senado. Trâmite ainda é lento
atualizado
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Aumenta a pressão dos motoristas de aplicativos de transporte individual contra o Projeto de Lei nº 28/2017, em tramitação no Senado Federal com o objetivo de regulamentar serviços como o Uber e o Cabify em todo o país. Os condutores, com o apoio de usuários, estão colhendo assinaturas contra as alterações previstas na proposta. Até agora, já contam com cerca de 816 mil adesões. Sem a aprovação de requerimentos apresentados nos últimos dias, a análise do tema por parte dos senadores praticamente congelou, mas a semana deve trazer novidades.
A última semana foi de poucas novidades quanto ao trâmite do PL nº 28/2017 no Senado. No último dia 26, a Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT) apresentou relatório alternativo e retirou exigências previstas na proposta, como a necessidade de autorização do Poder Público para o funcionamento dos aplicativos e a adoção de placas vermelhas, iguais às dos táxis, para os veículos desses serviços. No entanto, alguns senadores pediram vista do relatório, que ainda não foi votado.Nas redes sociais, as empresas atacam o projeto e pedem o apoio da população. “A Uber agradece o envolvimento dos seus motoristas parceiros e usuários. Acreditamos que a tecnologia pode fazer a diferença na vida das pessoas e das cidades”, afirmou, em nota, a corporação sobre a campanha #JuntosPelaMobilidade, que já viralizou.
A ideia do senador Pedro Chaves (PSC-MS), relator do projeto na CCT, é que a matéria seja “analisada com calma” e passe por várias comissões. Ele recomendou um “debate mais profundo”, tanto que há uma audiência pública já aprovada e que poderá ser marcada na Comissão de Direitos Humanos (CDH) nesta semana.
Paralelamente, o senador Paulo Paim (PT-RS) entrou com outro requerimento para que os membros da CDH também apreciem a matéria, o que ainda não foi definido. Assim, são grandes as chances de o PL entrar direto em votação no plenário, em caráter de urgência, conforme pedido apresentado em mais um requerimento. Esse terceiro documento solicita a apreciação urgente pelo conjunto dos senadores tão logo o texto seja aprovado na Comissão de Ciência e Tecnologia.
Frente à repercussão nacional das mudanças nos serviços prestados por esse tipo de aplicativo, e à consequente pressão dos condutores, a maioria dos senadores ouvidos pelo Metrópoles decidiu analisar a matéria com cautela e não pretende chancelar o pedido de urgência para a votação em plenário. Disseram preferir que o projeto percorra todas as comissões afetas ao tema, garantindo um amplo debate antes de modificarem o funcionamento dos serviços em território nacional.
Entenda
Até aqui, o PL nº 28/2017 – que também traz algumas disposições do PLS nº 530/2015, de autoria do senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), e do PLS nº 726/2015, do senador Lasier Martins (PSD-RS) – prevê que, para trabalhar com esses aplicativos, o condutor do veículo será obrigado a possuir Carteira Nacional de Habilitação (CNH) com a observação de exercício de atividade remunerada e estar inscrito como contribuinte no INSS.
Todos os automóveis usados para a prestação do serviço deverão estar com impostos e multas de trânsito em dia, além de ter seguro contra acidentes pessoais a passageiros. Os aplicativos não poderão contratar motoristas com antecedentes criminais. A empresa será responsável também por manter cadastro atualizado de todos os condutores.
Segundo o PL, em caso de danos decorrentes ou associados a esse tipo de transporte, responderão solidariamente “todos os profissionais e empresas que contribuíram para o fornecimento do serviço”. Também há a previsão de que o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) estabelecerá a periodicidade da inspeção veicular obrigatória para os automóveis usados pelos aplicativos. Essa vistoria poderá ser mais frequente do que a realizada em carros comuns.
Reclamações generalizadas
As possíveis mudanças não estão agradando nem aos motoristas dos aplicativos nem aos taxistas. “O projeto ameaça nossas famílias, nossos ganhos. Hoje, é a única fonte de renda da minha família”, reclamou Maurício Dias Junior, motorista da Uber. Semana passada, ele saiu de Belo Horizonte (MG) para protestar contra o PL nº 28/2017 em frente ao Senado Federal, que debatia o projeto em audiência pública.
Dentro do Senado, o debate entre condutores de aplicativos e de táxis foi tenso. Representantes dos taxistas argumentaram que a regulamentação do transporte concorrente torna o mercado mais justo para profissionais de ambos os serviços e garantirá mais segurança a motoristas e passageiros.
“O Uber não quer ter regras. Tem que haver autorização das prefeituras. Tem que ser fiscalizado. Tem que ter placa vermelha”, enfatizou o presidente da Associação Brasileira das Associações Civis e Cooperativas de Motoristas de Táxi, Edmilson Sarlo.