Yared sobre júri de Carli Filho: “Foi o segundo funeral do meu filho”

Nove anos após a tragédia que vitimou seu filho e um amigo dele nas ruas de Curitiba (PR), a deputada federal Christiane Yared (PR-PR) tenta disfarçar a dor de reviver o que considera um dos “piores dias da vida”: a madrugada em que agentes funerários bateram à sua porta com a notícia da morte dos garotos. Superados 33 recursos protelatórios, o responsável pela colisão, o ex-deputado estadual Fernando Ribas Carli Filho (PSB), foi condenado a 9 anos e 4 meses de prisão pelo Tribunal de Justiça do Paraná, no dia 28 de fevereiro. No entanto, responderá em liberdade até o caso chegar na instância superior.

A ex-doceira e atual congressista acredita que a decisão da Justiça reduzirá a angústia vivida pelos familiares das vítimas. “O júri foi o segundo funeral do meu filho. Eu ainda acordo após o julgamento com a imagem do pedaço da cabeça dele no joelho. São cenas fortes que vão nos acompanhar. E a saudade do filho, a saudade de alguém que enche sua casa de alegria, e de supetão vai encher cemitério”, desabafou.

Veja a entrevista ao Metrópoles:

Os garotos foram mortos em maio de 2009, segundos após o Passat blindado – conduzido pelo ex-deputado – ter decolado do asfalto e arrancado o teto do Honda Fit e a cabeça do universitário Gilmar Rafael Yared. O amigo dele, Carlos Murilo, o acompanhava no veículo e também não sobreviveu. O carro do político estava a uma velocidade superior a 160km/h, segundo a perícia local. O autor da batida admitiu ter consumido bebida alcoólica antes de assumir o volante, em um restaurante da capital paranaense, onde esteve acompanhado por amigos.

“Mãe nenhuma deveria enterrar um filho. Eu tive que me envolver com outras famílias e muitas pessoas pediam socorro”, afirmou Christiane Yared. A parlamentar costuma dizer que, a partir da tragédia, resolveu transformar a dor em bandeira, ao criar o Instituo Paz no Trânsito.

Segundo ela, o filho não foi enterrado: “Nós o plantamos, para dar frutos”. A declaração é uma alusão à participação da mãe-deputada no combate à violência nas vias do país, que coloca o Brasil como um dos recordistas mundiais em mortes no trânsito. “O país está em guerra. Estamos perdendo por dia quase 200 brasileiros, uma sequela por minuto. São números inaceitáveis”, declarou.

Com a grande comoção do caso, Christiane Yared foi eleita a deputada federal mais votada do Paraná. Em visita ao Metrópoles, a congressista rebateu as críticas sobre o suposto uso da tragédia para sua autopromoção política. “Meu filho não precisa mais. Hoje luto pelos filhos dos outros”, resumiu a paranaense. Ela, porém, desconversou sobre o rumos que pretende seguir neste ano eleitoral.

Apesar da sentença de Carli Filho ser considerada branda por grupos defensores de mais rigor nas leis de trânsito, a parlamentar diz já ter perdoado o autor da tragédia, mas não esconde um desapontamento: “Eu achei que ele viria até mim para me abraçar e, chorando, iria me dizer ‘perdão, mãe, você não precisaria estar passando por tudo isso’. A desculpa soou mais ou menos como algo ensaiado”. E afirma que seu perdão não isentará o ex-deputado estadual de cumprir sua pena: “É de uma família rica, poderosa, de políticos, e que jamais imaginou permitir que um filho se sentasse no banco dos réus para receber uma sentença dessa”.