Tráfico e garimpo marcam região onde jornalista e indigenista sumiram
Vale do Javari é palco do desaparecimento do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira
atualizado
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A Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas, passou a ganhar destaque em manchetes de jornais ao redor do mundo após o desaparecimento do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira, comunicado no domingo (5/6). A região, segunda maior área indígena demarcada do país, é rota de tráfico de drogas, roubo de madeira e garimpo ilegal.
Entre os riscos potenciais e problemas do Vale do Javari, estão a exploração ilegal de recursos naturais e conflitos fundiários.
Segundo informações do Instituto Socioambiental (ISA), tradicional organização não governamental da área do meio ambiente, a ação de caçadores, madeireiros, pescadores e fazendeiros é constante na região.
Segundo informações da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), são constantes ameaças de madeireiros, garimpeiros e pescadores às terras.
Os traficantes, por exemplo, cruzam a terra indígena por acreditarem ser a área mais segura para transportar drogas, sobretudo cocaína oriunda do Peru e da Colômbia.
Crimes
Em 2019, ao menos dois crimes na região mostraram como a atuação de criminosos avançou. O colaborador da Fundação Nacional do Índio (Funai) Maxciel dos Santos Pereira foi assassinado em Tabatinga, no Amazonas, após participar de uma operação que apreendeu grande quantidade de caça e pesca ilegal no território. Ele trabalhava no Vale do Javari.
Meses depois, uma base da Funai que controla um dos acessos à terra indígena foi alvo de vários ataques a tiros atribuídos a caçadores e pescadores ilegais.
Segunda maior reserva do Brasil
A reserva indígena faz fronteira com o Peru e a Colômbia. O local é habitado por 26 povos, que juntos somam 6,3 mil pessoas.
Além disso, tem a maior concentração de povos isolados do mundo, com acesso restrito por vias fluviais e aéreas.
São 8,5 milhões de hectares demarcados, sendo a segunda maior terra indígena do país, atrás somente da Terra Yanomami.
Entenda o caso
Segundo a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), o jornalista e o indigenista se deslocavam com o objetivo de visitar a equipe de vigilância indígena que atua próxima ao Lago do Jaburu. O jornalista pretendia realizar algumas entrevistas com os habitantes daquela região.
Segundo os relatos, os dois desapareceram quando faziam o trajeto da comunidade Ribeirinha São Rafael até a cidade de Atalaia do Norte. O desaparecimento foi comunicado no domingo (5/6).
Indigenista renomado
Bruno é considerado um dos indigenistas mais experientes da Funai. No órgão desde 2010, ele foi coordenador regional da Funai de Atalaia do Norte por cinco anos. Acabou exonerado do cargo, em 2019, após combater mineração ilegal em Terras Indígenas.
A retirada do servidor da função de chefia ocorreu no momento em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou um projeto para liberar garimpos nas reservas.
O indigenista está licenciado da Funai, e atualmente faz parte do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente (Opi).
Jornalista prepara livro
Dom Phillips é um jornalista colaborar do jornal britânico The Gardian. Ele se mudou para o Brasil em 2007 e mora em Salvador.
Phillips está trabalhando em um livro sobre meio ambiente, com apoio da Fundação Alicia Patterson.
Além do The Guardian, Phillips já publicou trabalhos no Financial Times, New York Times, Washington Post e em agências internacionais de notícias.
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