Traficante? Entenda operação contra Nelma Kodama, “estrela” da Netflix

Nelma Kodama ficou conhecida nacionalmente quando foi presa na operação Lava Jato por sua atuação como doleira (pessoa que negocia dólares no mercado paralelo) acusada de lavar dinheiro para políticos e empresários. Neste mês, ela ganhou um documentário na Netflix, em que conta sua história.

Boa parte do filme foca na atuação de Nelma como doleira e em sua vida pessoal, mas no final da trama é mencionado que na última vez em que ela foi presa, a acusação foi de participação em um esquema de tráfico internacional de drogas, o que ela nega veementemente na produção.

“Eu sou inocente desse crime, sabe por quê? Eu jamais faria essa operação (de tráfico). E, se fizesse, teria dado certo, porque eu não sou burra”, declara a ex-doleira no documentário, que estreou no último dia 6 de junho.

Kodama foi presa em 2022, em Portugal, por suspeita de participar do transporte de quase 700 kg de cocaína líquida escondida na fuselagem de uma aeronave apreendida em Salvador (BA) antes de seguir para o continente europeu. Atualmente, ela responde ao processo em liberdade.

Paixão doida

Assim como no caso da Lava Jato, em que Kodama teria sido incluída na investigação por ser amante do doleiro Alberto Youssef, na investigação por tráfico de drogas também há um caso amoroso.

Dessa vez, ela é citada como namorada do lobista do Mato Grosso Rowless Magalhães, também investigado por fazer parte do esquema de tráfico de cocaína.

No celular de Rowless, o número de Nelma Kodama era salvo na agenda como Paixão Ilimited (paixão ilimitada). Segundo a PF, em conversas dos participantes do esquema, a ex-doleira da Lava Jato também é chamada pelos apelidos de “japa” e “doida”.

Em entrevista para o Globo em fevereiro, a ex-doleira afirmou que não tinha relação com o tráfico de drogas e foi vítima de um golpista.

“Me apaixonei perdidamente. O Rowless disse que era do agronegócio no Mato Grosso, fiquei muito envolvida. Ele transava muito bem, carinhoso, rico e bonito. Que mulher não se apaixonaria? Não percebi evidências de que ele era um golpista”, afirmou para o jornal.

O esquema

A investigação da Polícia Federal que chegou até Rowless e Kodama – além de outras 13 pessoas, incluindo criminosos apontados como integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) – começou com a apreensão de uma aeronave com cocaína em Salvador (BA), em 2021.

A partir dessa apreensão, a PF começou uma complexa investigação, que incluiu o cumprimento de mandados de busca e apreensão, além de interceptações telefônicas.

Foi em conversas de WhatsApp que os investigadores chegaram ao nome de Nelma Kodama, que aparece negociando uma carga em um voo envolvendo grande quantidade de dinheiro. A carga, segundo a PF, era cocaína levada do Brasil para Portugal.

As conversas que mencionam Nelma e que a reportagem teve acesso são de 2020 e 2021, de uma encomenda que não deu certo. Entre várias mensagens, Kodama aparece cobrando uma pessoa, identificada como Ricardo Agostinho, que teria recebido um valor em Euro sem entregar a “encomenda”, que estaria sendo cobrado por terceiros.

“Falaram que se eu não dar conta vão para cima da família. E eu disse que se são bandidos de verdade, não mexem com família, mulher e criança”, diz uma das mensagens atribuídas a Nelma pela polícia. Parte da conversa foi apagada após envio ou realizada no aplicativo Sky ECC, uma rede de mensagens criptografadas.

Veja um trecho da conversa:

Nelma Kodama: Você está com todo o valor. 495 mil. Por que você está fazendo isso? (…). Você acha isso correto?
Ricardo: A única coisa que eu vou te falar! Resolve com seu marido. Com aquele doido. Eu não estou com valor nenhum! Agora você fala com ele que fudeu tudo!
Nelma Kodama: Quem está com o dinheiro? Você ou ele. Ele disse que está com você.

Nelma Kodama foi presa na operação relacionada à investigação por tráfico em outubro de 2022. Após mais de um ano presa, ela foi solta em fevereiro de 2024. O desembargador Ney Bello aceitou o Habeas Corpus dos advogados de Nelma Kodama.

Na época, os advogados publicaram uma nota dizendo que “não havia justa causa para que a prisão domiciliar de Nelma Kodama fosse mantida” e defenderam que o desembargador honrou o Poder Judiciário com a decisão de soltura.