“Tô com um buraco na barriga”, diz paciente de médico preso no RJ
Mulher conta ter sofrido cárcere privado depois de procedimento estético no Hospital Santa Branca, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro
atualizado
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Rio de Janeiro – Depois de ser supostamente mantida em cárcere privado por um médico em uma unidade de saúde particular da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, uma mulher de 35 anos contou a série de problemas sofridos no procedimento estético realizado pelo médico Bolívar Guerrero Silva, que foi preso nessa segunda-feira (18/7).
Ela teria sido impedida de sair do Hospital Santa Branca, em Duque de Caxias, por causa das complicações.
“Meu peito está todo necrosado. Eu tô com um buraco na barriga. Dois! Eu não vejo meu umbigo. Ele [o médico Bolívar Guerrero Silva] falava que não era para eu contar para ninguém que eu estava assim. Não era para eu contar para minha família”, disse ela, à TV Globo.
A mulher também contou como se sentiu por causa do episódio. “Não podia andar no corredor, não podia fazer nada. Só ficar trancada no quarto que eu estava. Meu sentimento é de apavoramento, de dor, de angústia, de querer ir embora, de sair daqui”, acrescentou.
O cirurgião-plástico equatoriano Bolívar Guerrero Silva foi preso suspeito de manter a paciente presa por causa dos problemas no procedimento estético. Ele vai responder por cárcere privado e associação criminosa.
A mulher disse que uma transferência vinha sendo dificultada pelo hospital e médico. A polícia foi chamada depois que uma acompanhante da paciente procurou a Polícia Civil para relatar o caso. Além de prender o cirurgião plástico, os agentes resgataram a mulher na unidade de saúde.
A delegada Fernanda Fernandes, da Delegacia de Atendimento à Mulher de Duque de Caxias (Deam-Caxias), disse que quatro pessoas já procuraram a delegacia desde a prisão do médico para relatar novos supostos crimes supostamente praticados por ele. Em 2010, ele também foi preso enquanto respondia por falsificação de medicamento e organização criminosa. Bolívar responde a pelo menos 19 processos na Justiça.
“A gente ficou muito impactado, como ela estava com lesões muito graves, preocupados com a situação de saúde dela. Tomamos o termo da vítima no hospital, e ela relatou dificuldades, que não estava conseguindo sair do hospital. Por conta disso, representamos no plantão judiciário pela transferência dela, prisão temporária do autor e suspensão do CRM temporário”, afirmou a delegada.
Fernanda acrescentou que a vítima estava correndo risco de morte, já que se encontrava em estado muito grave. Ainda é incerta a quantidade de cirurgias a que a mulher foi submetida. A polícia informou que requisitou o prontuário e, ao longo da semana, não foi fornecido.
“Por conta disso estivemos no hospital pra tentar falar com a vítima e com a acompanhante de quarto”, explicou a delegada.
A polícia pediu uma perícia na unidade, que, segundo a delegada, pode até ser fechado. O Hospital Santa Branca informou que as acusações de que foi praticado cárcere privado na unidade são “infundadas” e nega que o médico seja sócio do hospital. Segundo a unidade de saúde, a paciente chegou a se recusar a deixar o local.
A equipe que trabalha com o cirurgião plástico fez uma postagem em uma de suas redes sociais e negou que o médico estivesse mantendo a paciente em cárcere privado. Segundo a publicação, Bolívar aceitou liberar a paciente, desde que ela assinasse um documento se responsabilizando por qualquer problema após a liberação.
“O dr. Bolivar foi prestar um depoimento na delegacia. Ele não estava mantendo paciente nenhuma em cárcere privado. Ela estava fazendo curativo e sendo assistida no hospital dele por ele. Porém, ela queria ser liberada sem ter terminado o tratamento, e ele, como médico, seria imprudente de [sic] liberá-la”, afirmou um trecho da publicação.
No mesmo texto, a equipe contou que o médico disse que poderia liberá-la se ela assinasse a alta à revelia, um documento por meio do qual a paciente se responsabiliza por qualquer problema que ocorrer após sua liberação, mas, conforme acrescentou, ela não quis assinar.
“Ele disse que liberaria somente se ela assinasse. Como ela não assinou, ele não liberava. O intuito dele é prestar toda assistência à paciente até ela está [sic] recuperada”, acrescentou a publicação.
Os policiais cumpriram mandados de prisão preventiva, de busca e apreensão e de condução coercitiva no Hospital Santa Branca.
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