“Terrorismo puro. Eles riam”, conta sobrevivente de ataque do Hamas
O brasileiro e judeu Rafael Zimerman é sobrevivente do ataque terrorista do Hamas no festival Supernova, em outubro de 2023
atualizado
Compartilhar notícia
Sábado, 7 de outubro de 2023. Cerca de 4 mil pessoas se reuniam a 6km de Gaza, no festival Supernova – versão israelense do festival Universo Paraelelo. Uma dessas pessoas era o brasileiro e judeu Rafael Zimerman, hoje com 28 anos, que foi à festa com seu amigo, também brasileiro, Ranani Glazer, e com a namorada dele, Rafaela Triestman.
O evento tinha o objetivo de celebrar a paz em uma “jornada de união e amor”. Por volta das 7h22, no horário local, o grupo avistou os primeiros mísseis usados por Israel para interceptar os foguetes lançados pelo Hamas.
“A gente estava curtindo a festa e eu comecei a ouvir um barulho, como se fossem fogos de artifício. Explosões. Eu olhei para o céu e vi uma quantidade enorme de mísseis, então me agachei. O DJ parou a festa na hora e começou a gritar ‘código vermelho’. Eu corri e fui encontrar o Ranani e a Rafa na barraca. Ele falou que a gente tinha que ir para um bunker”, narra Rafael.
Há mais de 1,5 milhão de bunkers espalhados por toda Israel, com o objetivo de abrigar civis durante um ataque. Em menos de dois minutos, os amigos chegaram até o local. “Era uma casinha de cimento, bem pequena. Cabiam umas 15 pessoas lá dentro. Nós fomos uns dos primeiros a chegar”, relembra. Ao todo, 40 pessoas buscaram se proteger no espaço.
Após cerca de 30 minutos dentro do bunker, Rafael Zimerman conta que estava encostado na parede quando começou a sentir tiros vindos por de trás dela. “Eles jogaram uma granada do lado de fora. Virou um caos lá dentro”. Uma das jovens que estava abrigada chegou a morder Rafael na costela, no momento do desespero.
“Ela entrou em colapso. Você sabe que vai morrer. Todo mundo sabia que ia morrer.” Rafael, atualmente embaixador do Movimento PinForPeace, carrega a marca da mordida até hoje.
Os ataques continuaram. Gás, granadas de estilhaços, coquetéis molotovs e tiros. O objetivo era fazer com que as pessoas saíssem de dentro do abrigo para matá-las ou sequestrá-las, segundo Rafael. “Foi terrorismo puro. Eles riam enquanto matavam as pessoas”.
Ranani saiu do fundo do bunker, onde estava com o amigo e a namorada. “Ele fez uma cara de que precisava fazer algo e saiu de perto da gente. Nessa hora eles jogaram uma granada de estilhaço. Eu vi o Ranini sendo atingido”, relembra Rafael. Ranani Glazer morreu. “Perdi ele”, lamenta o amigo.
Das 40 pessoas que estavam no bunker, apenas nove sobreviveram, dentre elas os brasileiros Rafael Zimerman e Rafaela Triestman. Eles só descobriram que o outro estava vivo quando foram resgatados.
Resgate
A próxima cena que Rafael se lembra é de acordar debaixo de vários corpos. “Que droga, estou vivo”, foi o primeiro pensamento que teve. “Eu queria que aquele inferno acabasse. Eu senti que era a minha hora. Meu corpo agiu de outra forma e comecei a me fingir de morto”, conta. Ao todo, o jovem ficou 5 horas dentro do bunker.
Um dos civis que estava no local, antes do ataque ao abrigo, saiu para fazer xixi. Ele precisou se esconder em uma vala durante quatro horas e trinta minutos, tempo em que o tiroteio durou. O homem foi o responsável pelo salvamento dos 9 sobreviventes, mas perdeu a namorada no ataque.
A primeira coisa que Rafael Zimerman viu ao sair do bunker foi uma fogueira com diversos corpos. “Naquele dia começou uma guerra”, afirma ele.
Palestras
Após sobreviver ao ataque terrorista do Hamas, Rafael Zimerman se tornou embaixador do Movimento PinForPeace, pela paz, contra o terrorismo e o antissemitismo. Além disso, ele faz palestras relatando o que viveu com o objetivo de conscientizar as pessoas sobre a importância da paz e da coexistência.
“Desde que saí daquele bunker me sinto extremamente grato pela minha vida, pela oportunidade de viver que me foi dada. Luto pela paz”, finaliza Rafael.
O PinForPeace surgiu por causa da onda de antissemitismo intensificada após o ataque de terroristas do Hamas. A iniciativa veio da empresária de moda Natalie Klein, ao lado dos publicitários Alan Strozenberg Daniel Oksenberg, Paula Puppi e do fotógrafo Jairo Goldflus.
O movimento incentiva a postagem de selfies em preto e branco com o pin físico ou digital que traz uma estrela de Davi formada por laços. Nas redes sociais, os integrantes da campanha marcam cinco amigos com a hashtag #pinforpeace, como forma de engajamento.