“Tenho medo de sair na rua”, diz médico que denunciou Prevent Senior
CPI da Prevent Senior na Câmara Municipal ouve três médicos nesta quinta que acusam rede de impor prescrição de “kit Covid” a pacientes
atualizado
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São Paulo – O médico Walter Souza Neto, um dos profissionais que trabalhavam na Prevent Senior e denunciaram as práticas da rede em relação à Covid-19, disse à CPI da Câmara Municipal nesta quinta (25/11) que tem “medo de sair na rua” e se sente ameaçado.
Ele reafirmou que os doutores eram obrigados a prescrever o chamado “kit Covid”, com hidroxicloroquina e azitromicina, e acusou a rede de cometer homicídios.
“Esses caras tiveram total desrespeito pela vida em todo tempo que estive lá. Eu tenho medo de sair na rua. Eu tenho medo sim, eu pedi entrada no programa de proteção à testemunha. Eu saio na rua olhando para trás para ver se tem alguém atrás de mim. Eu não tive resposta sobre essa inclusão, mas é algo que me preocupa muito”, afirmou Walter.
Ele lembrou do episódio em que recebeu uma ligação do diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, que teria o ameaçado após as denúncias virem à tona. Souza Neto chegou a registrar um boletim de ocorrência contra o executivo, que teria dito que o médico estava “expondo sua filha e sua família”.
“Eu me sinto ameaçado. A primeira ameaça eu recebi uma ligação, que eu gravei, do Pedro. Depois disso, colocaram um clima de terror até em páginas institucionais, ‘desafiamos os médicos’. Eles continuam com uma postura de intimidação, mesmo com colegas que estão lá dentro. Mandam recados indiretos, ‘vão cassar o seu CRM’. Colegas que têm contato com a direção dizem para eu tomar cuidado”, acrescentou.
O pedido de inclusão do Programa de Proteção a Testemunhas foi divulgado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) em 10 de novembro, na sede do Ministério Público de São Paulo, ocasião na qual entregou o relatório da CPI da Covid-19 no Senado.
Para Souza Neto, os executivos da Prevent são “criminosos”. Ele comparou as condutas a “homicídios”. Disse que, na época em que era obrigado a prescrever o kit Covid, não foi capaz de denunciar pois a hierarquia da rede “na verdade era um assédio moral”, uma condição que “gerava medo”.
“Parecia que havia um certo relacionamento estreito com órgãos que iriam fiscalizar. Quando ia ter visita de algum órgão de fiscalização, isso era sabido com antecedência e o hospital podia ajeitar as coisas. Todo mundo sabia que era uma empresa com muito dinheiro, com muita influência política e com zero escrúpulo. Como você ia denunciar uma empresa dessa? Todo mundo tinha medo de retaliação”, disse.
Ele afirmou que, antes da pandemia, já havia interferências no atendimento, mas não em relação à prescrição de medicamentos. Uma dessas interferências eram as metas de atendimentos diários no pronto-socorro, o que gerava atendimentos apressados e mais erros médicos.
“Todo dia no pronto-socorro eu via coisas que só se explicavam pela pressa no atendimento. Todo dia no plantão, tinha alguma coisa errada, alguma conduta errada, e eles eram muito tolerantes com os erros. O que em outras redes seria alvo de compliance e até do afastamento do médico, na Prevent era tolerado, o importante era manter a roda girando”, afirmou.
Além de Souza Neto, também prestam depoimentos nesta quarta-feira (25/11) os ex-médicos da Prevent Senior Andressa Joppert e George Joppert.