“Tem político por trás”, diz ex-vereador citado no caso Padre Robson
Tayrone Di Martino afirma que existem políticos usando o poder para interferir na investigação. “Tem provas contra eles”, diz
atualizado
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Goiânia – Após a veiculação da reportagem do Fantástico, nesse domingo (21/2), que revelou mensagens comprometedoras do padre Robson de Oliveira, ex-reitor da Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade (GO), o ex-vereador de Goiânia e ex-secretário de Governo do Estado de Goiás, Tayrone Di Martino, que foi um dos citados, publicou vídeo e nota nas redes sociais.
“A gente sabe que tem muita gente por trás disso aí. Políticos que querem perseguir outros políticos, e eles acham que eles vão ficar escondidos. Mas tem muitas provas aí contra esses políticos que, na hora que tiver de aparecer, vai aparecer e a gente vai ver que tem político no estado de Goiás usando o poder para perseguir pessoas (sic)”, diz Tayrone no vídeo publicado em seu perfil no Twitter.
Ele foi citado na reportagem como o responsável por escrever uma biografia do padre Robson e que pediu R$ 350 mil para a Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe) para ceder os direitos do livro. A obra foi resultado, segundo Tayrone, do trabalho de conclusão de uma pós-graduação em Jornalismo Literário e se chama: “Padre Robson de Oliveira: um sacerdote que carrega o amor do Divino Pai Eterno”.
Em um dos áudios mostrados na reportagem, no entanto, o padre aparece dizendo para a esposa de Tayrone, Talitta Di Martino, que o valor cobrado seria uma extorsão. “Você acha que eu ia dar R$ 350 mil para ele por um servicinho daquele de biografia da minha vida? Aquilo foi extorsão, Talitta”, diz o padre no áudio.
De acordo com a reportagem, a investigação do Ministério Público de Goiás (MPGO) e da Polícia Civil de Goiás (PCGO) afirma que o padre e Talitta teriam um relacionamento amoroso e que a cobrança do valor por parte de Tayrone seria uma forma de chantagem.
Política
Procurado pelo Metrópoles, nesta segunda-feira (22/2), Tayrone não quis se prolongar sobre o que ele fala no vídeo que publicou nas redes sociais. Disse, somente, que informações sobre políticos serão reveladas com o tempo.
“Não vou detalhar isso agora. Tem gravações, mensagens e com o tempo isso virá à tona. Tem gente interferindo na investigação para atingir pessoas. Neste momento, quero ficar preso ao vídeo e à nota que publiquei”, afirma.
Tayrone foi vereador de Goiânia, entre 2013 e 2016. Em seguida, foi secretário de Governo do Estado, entre 2016 e 2018, durante a gestão de Marconi Perillo (PSDB). Ele surgiu na política, em muito, pela ajuda de líderes da igreja católica, principalmente de padre Robson. Tanto, que a decisão de se afastar e encerrar a carreira política, em 2018, quando era cotado para deputado federal, está relacionada a isso.
“Tinha uma expectativa, na época, de ter o apoio de lideranças da igreja. Como eu vi que esse apoio ia ser complexo, eu não sou pessoa que tem dinheiro para colocar em campanha e eu vi que a viabilidade de ser eleito seria complicada naquela conjuntura, eu decidi desistir”, conta ele ao Metrópoles.
Di Martino é jornalista e advogado. Foi funcionário da Afipe, onde a esposa Talitta segue trabalhando, e chegou a atuar como assessor de imprensa do padre e da Associação. Ele alega que o valor cobrado pelo livro era referente ao uso total dos direitos da publicação.
O caso
O padre Robson de Oliveira é um dos padres mais populares e líder de uma das maiores festas religiosas do Brasil, a Festa do Divino Pai Eterno, que atrai milhares de fiéis para Trindade, todo mês de junho. Em agosto de 2020, o MPGO deflagrou a Operação Vendilhões, que apura uso irregular do dinheiro doado pelos fiéis.
A suspeita é de que a arrecadação milionária, uma média de R$ 20 milhões por mês, serviria para outros fins, que não fossem a manutenção da igreja e a construção do novo santuário basílica, como compra de imóveis, casas luxuosas, fazendas e desvios outros. Ele é réu em processo penal por lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Em outubro, o Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) decidiu trancar a investigação e o MPGO recorreu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para dar prosseguimento ao caso. Os áudios revelados pelo Fantástico mostram, na visão dos promotores, a necessidade de seguir com a investigação.