Esposa de Naime nega ter usado Pix de “patriotas” em reforma de casa
Mariana Naime chama de “maldosa” associação entre as doações feitas por “patriotas” e a reforma na casa da família Naime, em Vicente Pires
atualizado
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Após reportagem do Metrópoles que revelou, nessa segunda-feira (22/7), a reforma na casa do coronel Jorge Eduardo Naime, enquanto a esposa dele pedia doações via Pix e ajuda de “patriotas” nas redes sociais para custear “dívidas urgentes”, Marina Naime voltou à internet para justificar a obra.
Coronel Naime tornou-se um símbolo da direita após o 8 de Janeiro. Desde que foi preso, no ano passado, acusado de omissão, a esposa iniciou uma campanha de arrecadação via Pix, alegando enfrentamento de “desafios enormes”, “dívidas urgentes” e sempre ressaltando o papel do marido enquanto “herói” e “preso político”.
Os pedidos de ajuda seguiram até dias atrás, quando Naime já estava solto – ele foi liberado para responder em liberdade provisória em maio deste ano – e mais de cinco meses depois de o ministro Alexandre de Moraes determinar o pagamento ao coronel de salário retroativo a dezembro de 2023 e, mensalmente, a partir de janeiro de 2024.
A reforma empreendida pela família do militar ocorre numa casa de alto padrão em Vicente Pires, no Distrito Federal. A revelação da obra gerou enorme repercussão e questionamentos sobre o real motivo dos pedidos de doações via Pix, feitos por Mariana Naime.
Mariana Naime: “Nosso telhado estava podre”
Em nota publicada em seu perfil no X, e com imagens da reforma, a esposa do militar chama de “caluniosa” e “maldosa” a associação entre o dinheiro que a família teria arrecadado com doações de “patriotas” e a obra realizada na casa.
“Sobre a ‘reforma’, foi apenas a troca do telhado da nossa área do fundo, somente após a soltura do Naime e com o dinheiro do acerto da aposentadoria que a PMDF devia a ele, pelo trabalho prestado de 31 anos e por inúmeras férias que nunca tinham sido tiradas. Nosso telhado estava podre e com inúmeras infiltrações, mas, durante todo o período que o Naime esteve preso, não conseguia fazer nada além do essencial, para manter nossa subsistência e inúmeros custos decorrentes da prisão”, escreveu.
A esposa do militar alega que o próprio Naime decidiu fazer uma manutenção na casa “para dar o mínimo de dignidade” à família. Mariana diz, ainda, que a reportagem não destaca as datas das fotos e imagens publicadas da reforma, o que leva as pessoas a acreditarem que os valores recebidos por doação “no ano passado resultaram em uma troca de telhado que está acontecendo agora”.
Pedidos de doação até dias atrás
Fato é que, até dias atrás, a esposa do coronel mantinha na bio do seu perfil nas redes sociais a chave Pix para receber doações, ou seja, meses depois de o marido ser solto e após decisões da Justiça que devolveram a ele a remuneração mensal. Em maio deste ano, Naime foi incorporado à reserva remunerada da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF).
Em 11 de junho deste ano, com o marido já em casa, Mariana voltou a publicar no X um novo pedido de doação. Na ocasião, uma seguidora a respondeu com o link de uma reportagem que noticiava a decisão judicial de retomada do pagamento do salário integral do coronel. A esposa do militar retrucou:
“Sim! Salário = soldo! Porque, além de ter uma diminuição espantosa do valor da receita, nossa despesa triplicou com advogados e outras decorrentes da injusta prisão. Quem puder, será ótimo! Mas quem não puder, entendo! Solidariedade é um sentimento de identificação em relação ao sofrimento dos outros.”
A seguidora, então, pediu maior clareza nos pedidos de doação: “Mariana, acho justo, sim! Só um apelo que faço: especifique que o dinheiro é para ajudar com custas de advogados, pois a oposição, os isentos vêm nos questionar. Espero em Deus que vocês consigam se estabelecer e viver em paz”.
Veja a íntegra da nota de Mariana Naime, publicada nas redes sociais:
“As pessoas são muito maldosas e têm tentado a todo custo manchar e destruir nossa reputação! O momento em que pedi apoio financeiro foi quando o Naime, ainda preso, teve suspenso seu salário, única fonte de renda que tínhamos para pagar despesas de casa como um todo, tratamento de saúde dos nossos filhos, medicações, alimentação, advogados, empréstimos e por aí vai.
Sou MUITO grata a TODOS que nos apoiaram… e continuam nos apoiando com palavras e ações . Quem teve oportunidade ou quis, veio aqui em casa e pôde ver de perto a nossa realidade, o nosso sofrimento. Muitas pessoas nos abençoaram com mantimentos, com depósitos e orações em todo tempo.
Temos vivido um verdadeiro pesadelo e uma perseguição sem fim! Mas não conseguem provar nada contra nós. Apenas narrativas mentirosas e uma tortura desproporcional.
Sobre a “reforma”, foi apenas a troca do telhado da nossa área do fundo, somente APÓS a soltura do Naime e com o DINHEIRO do acerto da aposentadoria que a PMDF devia a ele, pelo trabalho prestado de 31 anos e por inúmeras férias que nunca tinham sido tiradas.
Nosso telhado estava podre e com inúmeras infiltrações, mas durante todo o período que o Naime esteve preso não conseguia fazer nada além do essencial, para manter nossa subsistência e inúmeros custos decorrentes da prisão.
Portanto, após a liberdade provisória e o recebimento dos seus proventos, o Naime decidiu dar manutenção em nossa casa, do que já existia há mais de 20 anos, para termos um mínimo de dignidade .
É muito curioso que a matéria não cita a data das fotos e leva as pessoas a acreditarem que os valores recebidos para nossas despesas no ano passado resultaram em uma troca de telhado que está acontecendo AGORA .
Por que a reforma não iniciou no ano passado, se os valores foram recebidos no ano passado?”
Quem é coronel Naime
Coronel Naime era chefe do Departamento de Operações (DOP) da PMDF, em janeiro de 2023, mas não estava no cargo quando a Praça dos Três Poderes foi invadida por extremistas no início do ano passado, dias após a posse de Lula.
O coronel estava de licença-recompensa à época e foi acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de omissão, diante do ocorrido. Naime foi o primeiro militar da alta cúpula da PMDF a ser preso no âmbito do inquérito do 8 de Janeiro, e teve o salário suspenso pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em agosto de 2023.
Ele ficou 461 dias preso, antes de ser solto em maio deste ano, e se tornou um símbolo da direita. Enquanto esteve detido, Naime recebeu apoio público de diversos parlamentares da direita. Em julho de 2023, por exemplo, um grupo de 19 senadores e deputados federais apresentou requerimentos à CPMI dos Atos Antidemocráticos solicitando a soltura do coronel.
Coronel Naime segue réu e responde ao processo em liberdade provisória. O processo está em fase de diligências para coleta de provas. Em seguida, deve passar para a fase de alegações finais e, posteriormente, da sentença. Além de Naime, outros seis PMs do DF respondem ao mesmo inquérito.