“Teatro facilitou processo de aceitação”, diz policial civil travesti
Para a investigadora Fernanda Aleixo, de 33 anos, o curso de teatro teve papel importante na descoberta de sua relação com a sexualidade
atualizado
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Fernanda Aleixo, 33 anos, sofreu preconceito durante a infância por ser considerada uma criança afeminada, sendo um menino. Hoje, ela se orgulha por ter se assumido como travesti e conseguido o direito de usar o nome social para exercer sua função como investigadora da Polícia Civil de Minas Gerais.
O processo de aceitação da própria sexualidade foi longo, mas teve como aliados a independência financeira, a aceitação da família e as experiência que teve a partir da formação como atriz, segundo contou em entrevista ao G1.
Fernanda atua na Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM) de Juiz de Fora. A investigadora tomou a decisão de solicitar o uso do nome social nos documentos pessoais em setembro de 2022. Dois meses depois, viu seu novo nome na tela da TV, enquanto concedia entrevista em uma coletiva de imprensa da Polícia Civil em Juiz de Fora.
Investigadora e atriz
A travesti natural de Inhapim, no Vale do Aço, foi aprovada no concurso público para investigadora da Polícia Civil aos 18 anos – ainda como Fernando – seis meses após entrar no curso de artes cênicas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
Ela acredita que a independência financeira que conseguiu com o cargo e o as experiências com o universo do teatro facilitaram todo o processo para se assumir como gay para a família e, posteriormente, como travesti. Mas o caminho foi longo.
“Desde que passei no concurso, eu me banco. Mesmo que a família me apoie, essa independência me facilitou. Sem falar na faculdade de artes cênicas, que mudou a minha vida. O ambiente de arte, de música, de teatro, de performance. Faz você encontrar pessoas à frente do tempo”, conta.
Depois de se formar, quando já morava em Juiz de Fora, Fernanda subiu aos palcos para viver uma travesti. A personagem foi crucial em seu processo de autoconhecimento.
“Em 2018, fiz uma peça de teatro, com o pessoal do OAndarDeBaixo. Nessa peça eu era uma travesti de cabaré, de barba e cabelo curto. Pedi uma amiga para gravar o ensaio, onde eu dublava uma música da Christina Aguilera. À noite, assisti ao vídeo e vi. Descobri a minha travesti interna”, conta.
Como Policial Civil, Fernanda conta que, embora perceba olhares e comentários maldosos em algumas operações que faz na rua, ela se sente aceita pela equipe e segura no dia a dia.
“Há as pessoas que ficam de longe debochando, mas as que se aproximam e conversam reagem bem. Quem tem coragem de chegar até mim, elogia minha coragem”, confirma.