“Tá caindo, tá caindo”, alertou moradora de prédio que desabou no Rio
Vizinha ouviu gritos antes da tragédia, que matou pelo menos duas pessoas. Até o meio-dia, 17 moradores estavam desaparecidos
atualizado
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Juliana Carvalho Moura mora na casa em frente aos dois prédios que desabaram na zona oeste do Rio de Janeiro, nesta sexta-feira (12/4). Ela contou que a moradora do primeiro andar de uma das construções chegou a gritar para tentar alertar os vizinhos do desmoronamento iminente. Pelo menos duas pessoas morreram, sete estão feridas e 17 desaparecidas.
“Eram umas 6h30, e dava pra ouvir muitos estalos, barulho, e a mulher começou a gritar “tá caindo, tá caindo, sai, vai cair”. Achei que era a ribanceira que estava caindo, mas era o prédio”, contou.
Segundo Juliana, quando ela saiu de casa e chegou na rua os dois prédios já tinham desabado. “Era uma nuvem branca de poeira, enorme, não dava pra enxergar nada”, disse. Segundo ela, algumas pessoas podem ter conseguido escapar do desabamento saindo dos prédios por trás, pela mata.
Veja imagens do local:
O porteiro José Carlos de Souza, de 49 anos, sua mulher e a filha de 12 anos escaparam do desabamento dos prédios porque resolveram passar a noite em Ipanema, na zina sul, no prédio onde ele trabalha.
“A gente resolveu ficar por lá porque aqui estava tudo com muita lama desde a tempestade”, explicou Souza, que comprou o apartamento por R$ 60 mil para poder sair da Rocinha, onde morava, muito afetada pela violência. Ele contou que comprou o imóvel ainda na construção e se mudou há três meses.
“Mas eu tive sorte, muita sorte. Melhor que ter ganhado um prêmio. Porque a minha família estava comigo. O prêmio maior é a vida, né?”, afirmou. “De perda material foi tudo, praticamente tudo. Sai da Rocinha por causa da violência, vim pra cá achando que era melhor. A gente vê o prédio pronto, bonito, mas não sabe como é a estrutura.”
Mortes
Pelo menos duas pessoas morreram, um homem e uma criança, e outras três ficaram feridas após o desabamento nesta sexta-feira (12/4), de dois edifícios residenciais na comunidade da Muzema, na zona oeste do Rio de Janeiro.
O Corpo de Bombeiros trabalha incessantemente nos escombros com uma lista de 17 nomes de pessoas que estariam desaparecidas. Eles isolaram a área da tragédia porque outros prédios do entorno estariam em risco iminente de desmoronamento. Cães farejadores estão no local.
A Secretaria Municipal de Saúde do Rio informou que uma mulher de 35 anos chegou ao Hospital Municipal Lourenço Jorge com um trauma no abdômen e está em procedimento cirúrgico. No início, os órgãos de socorro tinham informado que um homem havia sido resgatado pelos vizinhos e que o mesmo foi levado para um hospital próximo.
Milícias
A comunidade da Muzema é uma área sob o domínio de milícias, grupos paramilitares formados por PMs, militares, agentes penitenciários e civis, que exploram ilegalmente vários negócios Um dos mais conhecidos seria o da construção irregular.
A prefeitura do Rio de Janeiro, que espera divulgar nas próximas horas um balanço inicial sobre vítimas e danos materiais, comunicou que cerca de 60 edifícios da região foram construídos de maneira “irregular” em zonas de “alto risco de desmoronamento”.
Os apartamentos nos prédios irregulares construídos e comercializados por milicianos são vendidos a preços abaixo do mercado. Unidades de dois quartos, com garagem, estavam sendo vendidos por valores que iam de R$ 40 mil a R$ 100 mil. Moradores contam que sabiam que os imóveis eram irregulares, mas que comprá-los era a forma encontrada para conseguir ter um lugar para morar.
O Complexo da Muzema é formado por duas comunidades, a do Cambalacho e a da Muzema. De acordo com o Instituto Pereira Passos (IPP) na favela da Muzema moram pelo menos 4 mil pessoas em 1.528 domicílios. Os números, no entanto, são do Censo de 2010.
Com a expansão da milícia e as construções irregulares, a expectativa é de que a população seja atualmente muito maior. A área ocupada pela comunidade é de 90 mil metros quadrados, segundo registro de 2018.