Suzano: “Reabilitação será a longo prazo”, diz psicóloga sobre vítimas
Escola Raul Brasil reabriu as portas nesta segunda-feira (18/3) após o massacre que deixou 10 pessoas mortas
atualizado
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Enviado especial a Suzano (SP) – A movimentação silenciosa nos arredores do Colégio Estadual Raul Brasil, em Suzano, após o massacre, chama atenção. A escola abriu as portas pela primeira vez desde o tiroteio da última quarta-feira (13/3). Quem participa do trabalho de acolhimento de alunos, pais e professores é categórico: a reabilitação será demorada.
A barbárie resultou na morte de cinco estudantes e duas funcionárias dentro da instituição de ensino, além de um comerciante da região. O ataque foi cometido por uma dupla de ex-alunos da Raul Brasil. Os assassinos também morreram após os crimes: um deles atirou na cabeça do colega e se matou em seguida.
A coordenadora dos programas de Cidadania, da Secretaria de Justiça de São Paulo, Eliana Passarinho, explicou como vão funcionar os atendimentos. “Teremos conversas isoladas e em grupo, acolhimento psicológico e atividades de terapia. Dessa forma, conseguiremos traçar um diagnóstico da situação da escola”, detalhou.
A partir desse trabalho, o governo vai decidir quando as aulas retornam. Inicialmente, seria na próxima segunda-feira (25), mas a escolha precisou ser revista. “Qualquer decisão tem que ser tomada com a avaliação dos profissionais de saúde, dos alunos, dos professores e da comunidade escolar. É preciso tempo e reflexão neste momento”, concluiu Eliana.
A psicóloga Luciana Inocêncio vai participar do trabalho de acolhimento e alerta que será um tratamento de reabilitação a longo prazo. “Devido à violência e à brutalidade do que aconteceu, podemos concluir que o trauma é muito grande. Por isso, o trabalho será demorado, sem contar que cada um reage de uma forma”, destacou.
Ela estudou no colégio e contou como tem vivido o trauma. “Desde domingo (17) estou pensando como seria entrar por esse portão e encontrar toda essa situação. É difícil voltar ao local onde aconteceu uma coisa como essa”, explicou.
Chegada
Muitos funcionários e professores chegam consternados ao colégio. A Secretaria Municipal de Educação convocou todos os professores da Raul Brasil para estarem presentes nessa primeira reunião. A pasta, no entanto, não sabe precisar quantos vão comparecer.
A funcionária da limpeza Edmar Pereira Baião trabalha há quatro anos no colégio. Retornou ao local pela primeira nesta segunda. Na entrada, chorou. “A gente pede força para Deus. Estamos sentindo a dor desses pais. Por isso, pedimos mais segurança, não podemos ficar aqui desamparados depois do que aconteceu”, reclamou.
Ela se emocionou ao lembrar das vítimas. “Eu conhecia esses meninos que morreram. É muito triste ver o que aconteceu, uma lembrança que não tem como apagar”, completou.
Nesta segunda, a escola começou a devolver os materiais deixados pelos alunos durante a correria do tiroteio. Danielle Letícia de Queiroz, de 16 anos, estudante do terceiro ano, voltou ao colégio para pegar os pertences. “É difícil voltar, lembrar de tudo, reviver a história. Eu estava caminhando com os amigos e só me salvei porque me escondi na cantina. Só acreditei no que estava acontecendo quando vi um dos atiradores vindo na minha direção”, recordou.
A menina estava acompanhada da mãe, a empregada doméstica Janaína de Oliveira, de 42 anos. A mulher agradeceu a atitude de funcionários e de professores na tentativa de salvar os alunos. “Se hoje eu estou com ela, devo isso a eles, foram heróis e evitaram mais mortes. Fico feliz por estar com a minha filha, mas ao mesmo tempo, triste por todas as mortes”, lamentou.