Susto e desespero: moradores ficam desorientadores durante evacuação
Os mineiros se assustaram com uma sirene alertando sobre a possibilidade de uma nova barragem romper
atualizado
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Enviada especial a Brumadinho — Os moradores de Brumadinho (MG) se assustaram na manhã deste domingo (27/1) com uma sirene disparada às 5h30. Um homem com um alto-falante alertava os moradores a saírem de suas casas. “Atenção! Evacuação geral da área. Procure o local mais alto da cidade”, dizia a voz. As pessoas saíram batendo na porta dos vizinhos sem nenhuma informação sobre qual a rota mais segura. Algumas pessoas se desesperaram porque achavam que uma nova barragem havia estourado.
Ao Metrópoles, o mineiro Jonathan Wilker contou que as pessoas correram para o ponto mais alto, mas após duas horas fora de casa os moradores se irritaram com a falta de orientação. “Parece que eles não tão acreditando”, disse. Apenas às 9h30, os bombeiros fizeram uma coletiva de imprensa anunciando os pontos de encontro seguros: a Igreja Matriz, o quartel da Polícia Militar e o Morro da Querosene.
Os moradores estão indignados com as informações desencontradas. Segundo policiais militares da região, as orientações são passadas pelo rádio interno da corporação. Após receber as recomendações, as equipes percorrem as ruas alertando a população. A Vale também está divulgando comunicados oficiais nas rádios da cidade.
Os moradores, entretanto, continuam confusos e céticos com o desencontro de informações. Principalmente porque falsas listas de vítimas fatais estão sendo disparadas no WhatsApp. Alguns funcionários da Vale estavam de folga em casa e tiveram o nome publicado na relação de desaparecidos.
Aflito com a falta de notícias da família que mora em Brumadinho, o encarregado de manutenção elétrica Antônio Carlos Barreiras, 49 anos, tentou chegar até o centro da cidade, mas foi impedido pela polícia militar de prosseguir viagem. Por volta das 10h, as autoridades fecharam o centro do município mineiro.
“Minhas duas cunhadas trabalhavam no restaurante da Vale. Elas estão desaparecidas e, infelizmente, não temos esperança de encontrá-las com vida”, disse. “Quando soube do novo alerta quis ver como a minha família estava, mas não consegui chegar até a casa deles”, completou.
Antônio Carlos lembra que a cidade já sofreu com uma enchente há muito anos. Mas nada com essa proporção. “A Vale alimenta a economia da cidade. Muitos moradores trabalhavam lá. Com essa tragédia, estamos tendo danos irreparáveis. Nossa família foi levada pela lama, pessoas que amamos. Não sei como serão os próximos dias. O sentimento é de pavor”, desabafou.
A Vale acionou o alarme de risco de rompimento de barragem na região da Mina Córrego do Feijão logo cedo porque a empresa detectou o aumento dos níveis de água nos instrumentos que monitoram as Barragem VI.
Desde sexta-feira (25), a Vale estava monitorando a quantidade de água dentro do complexo. Mas nesta madrugada, o volume triplicou e por isso a sirene foi acionada. Os resgates de vítimas havia sido interrompido às 20h de sábado (26) para intensificar o trabalho de drenagem. “Vamos continuar monitorando a situação, juntamente com a Defesa Civil”, comunicou a empresa em nota.
Segundo o tenente Pedro Aihara, porta-voz da corporação, 24 mil pessoas precisaram ser evacuadas. “Moradores do Centro de Brumadinho, do Parque Cachoreira, dos bairros de Pires e Novo Progresso devem sair de casa imediatamente devido ao risco iminente de rompimento de uma nova barragem”, disse o militar.
Desastre
A barragem Mina Feijão, em Brumadinho (MG), rompeu-se por volta das 13h de sexta-feira (25/1). O vazamento de lama fez com que uma outra barragem da Vale transbordasse. O restaurante da companhia foi soterrado. O prédio administrativo também foi atingido.
A lama se espalhou pela cidade e moradores precisaram deixar as casas. Equipes de bombeiros e da Defesa Civil foram mobilizadas para a área e estão em busca de vítimas. Tanto o governo federal quanto o local montaram gabinetes de crise e deslocaram autoridades para a região.
O presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), e o governador de Minas, Romeu Zema (Novo), sobrevoaram a localidade da tragédia na manhã de sábado (26).