Suspensos pelo SUS, exames para HIV e hepatite já haviam caído pela metade durante pandemia
A empresa que realizava a genotipagem do HIV e dos vírus que causam hepatites não teve o contrato com o SUS renovado
atualizado
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O Ministério da Saúde deixou vencer um contrato e suspendeu os exames de genotipagem no Sistema Único de Saúde (SUS) para pessoas que vivem com HIV, Aids e hepatites virais. Em 7 de novembro, o governo federal passou a não oferecer esse teste – que define qual é o melhor tratamento para pessoas infectadas por essas doenças – e, com isso, milhares de pessoas vão ser afetadas.
De janeiro de 2018 até setembro deste ano, já foram realizados 26,5 mil exames do tipo. No ano passado, o governo contabilizou 10,6 mil análises, média de 877 por mês.
Em 2020, esse número caiu por causa da pandemia de coronavírus. Foram 4,3 mil exames, média de 481 por mês. As informações são do Tabnet, serviço de consulta a estatísticas de saúde do Datasus, e foram analisadas pelo (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles.
A genotipagem é necessária para todos os pacientes que desenvolvem algum tipo de resistência a algum medicamento utilizado no seu tratamento. “O exame é fundamental na estratégia para o tratamento do HIV e da hepatite C, pois quando a pessoa está resistente e necessita da genotipagem para iniciar nova combinação encontra-se num estado de extrema vulnerabilidade às infecções oportunistas e não pode ser prejudicada pela demora ocasionada por entraves meramente burocráticos”, explicou, em nota, a Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+Brasil).
De acordo com a rede, a pandemia de coronavírus torna a situação ainda mais grave. “Não podemos aceitar que isso prejudique o tratamento das pessoas, pois sabemos que 2021 será o ano em que veremos os impactos da Covid-19, tanto nos pacientes de HIV como nos de hepatite C. A falta desses exames pode agravar ainda mais esse cenário”, apontou.
O contrato que possibilitava a realização do serviço venceu no início de novembro e ainda não foi substituído pelo Ministério da Saúde. Questionada a respeito do impacto que a falta de exames poderia causar, a pasta se limitou a responder com uma nota oficial sobre o assunto: “O contrato com o Centro de Análise e Tipagem de Genomas, para realização de exames de genotipagem, terminou em novembro de 2020”.
Ainda de acordo com a nota, um novo pregão para contratação de empresa que fornecerá o serviço ao SUS seria realizado nessa terça-feira (8/12). “A previsão é de que o serviço seja retomado ainda em novembro. Neste momento, estão garantidos exames para gestantes e crianças”, concluiu.
Caso a demanda pelos testes neste ano seja igual a de 2019, até 1,8 mil pessoas terão de postergar o início do tratamento. Esse é o total de pacientes que fizeram a genotipagem em novembro e dezembro do ano passado.
Com a pandemia de coronavírus, é improvável que a demanda se repita. Neste ano, depois de atingir o ponto mais baixo em maio, com apenas 259 exames realizados, a oferta do serviço cresceu ininterruptamente até setembro, último mês com informações disponíveis, quando chegou a 617.
O gráfico abaixo mostra a quantidade de exames do tipo realizados entre janeiro de 2018 e setembro deste ano.