“Surpreendente”: Santos Cruz defende investigação sobre joias sauditas
Ao Metrópoles, Santos Cruz diz que não enxerga participação militar no caso das joias. Ele chefiou a Secretaria de Governo de Bolsonaro
atualizado
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Ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência no início da gestão de Jair Bolsonaro (PL), o general da reserva Santos Cruz (Podemos) classificou o caso das joias sauditas como “surpreendente”. Ao Metrópoles ele também pregou cautela sobre o caso e defendeu investigação para que os fatos sejam apurados. A tentativa do governo anterior, de entrar ilegalmente com presentes milionários da Arábia Saudita no Brasil, foi revelada pelo Estadão.
Santos Cruz avaliou que o caso nada tem relação com militares, a despeito do uso de avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para tentativa de reaver os bens detidos pela Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, pouco antes do fim do governo Bolsonaro. O então presidente, no fim do ano passado, também ordenou que um ajudante de ordens, o primeiro-sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva, que atuava sob o guarda-chuva do então chefe da Ajudância de Ordens, tenente-coronel Mauro Cid, tentasse recuperar as joias no aeroporto.
“Precisamos de inquérito, mas não tem nada a ver essa questão militar. Acredito que qualquer investigação, se houver algum crime, vai ter de classificar a irregularidade. Só uma investigação vai esclarecer tudo. É uma área que não tinha nada a ver [com militares], era uma coisa direta do gabinete. A principio, é uma coisa surpreendente, mas vamos esperar a investigação para ver o que aconteceu”, disse Santos Cruz.
Flávio Dino (PSB-MA), ministro da Justiça, já afirmou que o caso será investigado pela Polícia Federal (PF).
O general Santos Cruz também acrescentou ter visto caso parecido enquanto esteve na gestão de Bolsonaro. Ele foi ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência por cinco meses, até junho de 2019, quando deixou o cargo, após desgastes com representantes da chamada “ala ideológica” do governo. Ele enfrentava atritos com o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), um dos filhos do presidente, e com o escritor Olavo de Carvalho, que morreu em janeiro de 2022.
Após deixar o governo, o militar teceu críticas a Bolsonaro e aos avanços da politização dos quartéis, promovida pelo bolsonarismo. Ele chegou a colocar o nome à disposição do Podemos para disputar a eleição presidencial do ano passado, mas, em agosto, foi convocado para chefiar uma missão da ONU a fim de investigar a explosão de um centro de detenção em Olenivka, em Donetsk, na Ucrânia.
Entenda o caso
Como revelou o Estadão, o governo Bolsonaro tentou trazer ao Brasil, ilegalmente, diversas joias avaliadas em mais de R$ 16 milhões. Os objetos seriam presente do governo da Arábia Saudita para a então primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que visitou o país árabe em outubro de 2021, acompanhando a comitiva presidencial. Tratam-se de anel, colar, relógio e brincos de diamante.
O pacote de joias foi apreendido no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, na mochila de um assessor de Bento Albuquerque, então ministro de Minas e Energia. No Brasil, a lei determina que todo bem com valor acima de US$ 1 mil seja declarado à Receita Federal. Dessa forma, o agente do órgão reteve os diamantes.
O governo Bolsonaro teria tentado recuperar as joias acionando três ministérios: Economia, Minas e Energia e Relações Exteriores. Numa quarta movimentação para reaver os objetos, realizada a três dias de o então presidente deixar o governo, um funcionário público utilizou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para se deslocar a Guarulhos. O homem teria se identificado como “Jairo” e argumentado que nenhum objeto do governo anterior poderia ficar para o próximo.