“Sumiço” de jet ski cria versões contraditórias no núcleo bolsonarista
Flávio diz que teria ido devolver embarcação enquanto PF estava na casa do pai. Advogado dá outra versão
atualizado
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O retorno tardio do senador Flávio Bolsonaro à casa da família em Angra dos Reis, no dia em que foi deflagrada nova fase da Operação First Mile, fez com que representantes do clã – e o próprio parlamentar – viessem a público tentar minimizar o episódio, que entrou na mira da Polícia Federal (PF) por uma suspeita de ocultação de provas.
Como o Metrópoles noticiou na manhã de quarta-feira (31/1), dois jet skis saíram para o mar, por volta das 6h40 da segunda-feira (29/1), após os Bolsonaros supostamente tomarem conhecimento da ação policial. No entanto, apenas um dos veículos aquáticos voltou para a residência em Mambucaba, enquanto os investigadores estavam no local.
Flávio não retornou com o ex-presidente Jair Bolsonaro, acompanhando o irmão Carlos Bolsonaro, único alvo oficial das autoridades. Há a suspeita, dentro da PF, de que a saída de jet ski foi uma estratégia para ganhar tempo. E que o sumiço temporário do senador possa ter servido para transportar e esconder provas ou materiais incriminatórios.
Em coletiva nesta quarta (31/1), Flávio criticou a divulgação das suspeitas da PF, mas confirmou as informações publicadas. “Eu não voltei porque estava em um jet ski que não era meu, tive que devolver, e depois fui para um almoço. Depois do almoço, voltei”, afirmou.
O senador ainda não explicou onde teria ocorrido essa refeição. Desde ontem, o Metrópoles tenta contato com ele. De toda forma, às 12h45, o parlamentar já estava de volta à casa do pai, segundo testemunhas.
Empreiteiro de Angra
A embarcação em questão pertence a Renato Araújo, empresário do ramo da construção civil e pré-candidato à prefeitura de Angra apoiado pelo clã Bolsonaro, como antecipou o colunista Igor Gadelha. O dono do jet ski tem casa no condomínio Frade Prime, um dos mais requintados da região.
Em conversas com pessoas próximas, Renato tem dito que Flávio não teria devolvido o jet ski no dia da operação.
Mais uma informação divergente surgiu nesta quarta. Em postagem nas redes sociais, o advogado Fábio Wajngarten, ex-chefe da Secretaria de Comunicação no governo Bolsonaro, disse que o jet ski usado por Flávio retornou “posteriormente” para a casa em Mambucaba.
Ou seja, a publicação dá a entender que não houve a devolução da moto aquática, como declarou o senador. O ex-secretário de comunicação postou, inclusive, uma foto da embarcação no imóvel de Jair.
Questão de horas
Essa não é a única incoerência entre os Bolsonaros dentro do tema. No dia da operação, para supostamente abafar “fake news”, Wajngarten disse que o clã teria saído para pescar às 5h. Depois, o horário passou para 5h50.
Os horários ventilados, no entanto, jamais passam das 6h, quando a PF chegou aos endereços na capital do Rio. Autoridades suspeitam que Carlos teria ficado sabendo que era alvo da PF.
Agentes da corporação acreditam que a versão serve para afastar a hipótese de que os Bolsonaros saíram do local após terem notícia da deflagração da operação, o que daria margem para uma acusação por obstrução à investigação, crime considerado grave pela Justiça e passível de prisão preventiva a curto prazo.
Apesar de Carlos ser o único alvo do mandado de busca e apreensão entre o clã, todos são investigados, direta ou indiretamente, dentro da operação que tenta desbaratar os criminosos por trás da chamada “Abin Paralela”, rede de monitoramento ilegal de pessoas e inimigos, com ferramentas de Estado.