Sumiço de cobras raras do Zoo de Goiânia segue sem solução após 5 anos
Nove serpentes exóticas sumiram do zoológico misteriosamente. Suspeita é que elas tenham sido furtadas. Mas polícia não descobriu autoria
atualizado
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Goiânia – Um crime inusitado que aconteceu dentro do parque Zoológico da capital de Goiás segue sem solução após mais de cinco anos e nem deve ser desvendado, já que a investigação foi arquivada. Trata-se do sumiço misterioso de nove cobras raras.
A principal suspeita é que elas foram furtadas e foram parar em um esquema de tráfico de animais silvestres.
As serpentes foram desaparecendo em diferentes momentos do mês de dezembro de 2016. Eram quatro filhotes da espécie salamanta, outras três salamantas adultas, sendo uma vermelha, uma cobra-cachorra e uma corn-snake.
Veja imagens atuais e da época:
Na época, a polícia calculou que o conjunto de cobras valeria por volta de R$ 33 mil no mercado ilegal. A corn-snake (cobra-do-milho), por exemplo, não é natural do Brasil e costuma ser encontrada em certas regiões dos Estados Unidos. Ela é uma espécie comum entre colecionadores de répteis.
Furtos seguidos
Essas nove cobras desapareceram em três dias diferentes. O primeiro caso foi em 5 de dezembro de 2016. A suspeita é que o criminoso (ou os criminosos) levou os quatro filhotes e a serpente adulta, todas do tipo salamanta, que ficavam em terrários no serpentário do zoológico.
Já no dia 13 de dezembro, foi a vez de três serpentes adultas, que ficavam nos recintos de exposição do zoológico. Ainda teve mais um sumiço no dia 19 daquele mês. Nos dois primeiros casos, as cobras “desapareceram” sem que nem um cadeado fosse quebrado.
Já no último desaparecimento daquele mês, aí sim houve arrombamento.
Desde o início da investigação, a delegada Lara Menezes, da Delegacia de Meio Ambiente (Dema), suspeitou que o caso envolvia furtos praticados por pessoas que conheciam de serpentes e que conheciam o serpentário do zoológico. Por conta disso, os investigadores começaram a ouvir funcionários e ex-funcionários da instituição.
Acontece que, mesmo com a divulgação do caso na imprensa e com a investigação em andamento, ainda houve uma tentativa de furto de uma serpente píton albina em 5 de junho de 2017. A cobra foi flagrada solta na área de visitação do serpentário, onde não era para que ela estivesse. A tela em que ela estava havia sido cortada.
Em busca de traficantes
Durante as investigações, a polícia chegou a realizar várias interceptações telefônicas, mas o resultado foi infrutífero. Na época, não havia câmeras de monitoramento no local.
Em abril de 2017, os investigadores conseguiram apreender 59 animais silvestres e exóticos na casa de um jovem, sendo que 20 desses animais eram serpentes. Uma das cobras era uma salamanta vermelha, do mesmo tipo que tinha sumido do zoológico.
Uma curiosidade é que, um ano depois, esse mesmo jovem foi preso pela PM em um terminal de ônibus de Goiânia com uma cobra dentro de uma bolsa.
Quando a polícia questionou o jovem sobre a cobra salamanta vermelha, ele disse que comprou essa serpente e uma outra do tipo cobra-cachorra de um adolescente, sendo que a última morreu poucos dias depois.
Os policiais então descobriram que esse adolescente, que teria vendido as cobras, era filho de uma ex-funcionária do zoológico que já teve um relacionamento amoroso com um homem “amplamente conhecido como traficante de animais silvestres no Estado de Goiás”. Um outro ex-funcionário do zoológico também seria conhecido desse traficante de animais.
Falta de provas e arquivamento
Apesar dessas relações suspeitas, a polícia não conseguiu comprovar a autoria dos furtos das cobras e a investigação foi remetida ao Ministério Público sem essa definição. O caso acabou sendo arquivado por decisão judicial em novembro de 2019.
Na sentença, o juiz Ricardo Prata resume a investigação e explica que faz isso “diante da impossibilidade de identificar com a certeza necessária a identidade do autor dos crimes”. “Apesar de comprovada a materialidade do crime, a autoria não restou evidenciada”, afirmou o magistrado.
Além disso, o juiz escreveu que pelo que foi apresentado na investigação, “não existe vínculo entre o adolescente e um conhecido traficante de animais, que por sua vez conhecia um ex-funcionário do zoológico”.
Monitoramento
O sumiço das cobras à época despertou interesse popular, de um lado, e preocupação entre ambientalistas, de outro. A falta de solução do inquérito mantém esse alerta no ar. Afinal, se é possível desaparecer com espécimes de um local teoricamente sob vigília como um parque zoológico, então isso poderia indicar que não há limites para o tráfico de animais.
O atual presidente da Agetul, órgão municipal responsável pelo zoológico, Valdery José da Silva Júnior, disse que hoje em dia o Zoológico de Goiânia é todo monitorado, com servidores concursados e uma equipe da Guarda Civil hospedada dentro do local, medidas que reforçam a segurança.
O indicativo é que a experiência de 2016 tenha surtido efeito prático em relação ao tema.
Não se sabe sobre a ocorrência de outros sumiços numerosos de animais no local desde aquele rumoroso caso para cá.
O Metrópoles tentou contato com a delegada Lara Menezes para saber a respeito do caso, mas foi informado que ela está de férias.