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STJ apura suposta propina de R$ 1,5 mi a juízes do caso padre Robson

Justiça goiana pode perder o poder de julgar o caso, se confirmada corrupção de desembargadores por parte da instância superior

atualizado

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Arquivo/Afipe
Padre Robson de Oliveira
1 de 1 Padre Robson de Oliveira - Foto: Arquivo/Afipe

Goiânia – O Superior Tribunal de Justiça (STJ) deve terminar de receber do Judiciário goiano, ainda nesta terça-feira (9/3), centenas de interceptações telefônicas, áudios de whatsapp e demais provas  do caso padre Robson de Oliveira Pereira, réu em escândalo de suposto desvio de dinheiro de doações de fiéis em Goiás.

A corte superior vai fazer pente-fino em todas as provas e poderá, inclusive, julgar todas as denúncias. Isso ocorrerá se for retirado do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) o poder de definir os rumos dos processos, de forma definitiva. A possibilidade aconteceria em possível confirmação de pagamento de propina de R$ 1,5 milhão a desembargadores que proferiram decisão favorável ao pároco.

Em entrevista ao Metrópoles, a juíza Placidina Pires disse, nesta terça-feira (9/3), que está cumprindo a ordem do ministro Benedito Gonçalves, do STJ. Ela é a responsável pelas ordens judiciais proferidas no âmbito da Operação Vendilhões, deflagrada contra o religioso pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO), em agosto de 2020.

“Os processos já remetemos”, afirmou a juíza, que é titular da 1ª Vara dos Feitos Relativos a Delitos Praticados por Organização Criminosa e de Lavagem ou Ocultação de Bens, Direitos e Valores da comarca de Goiânia.

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Padre Robson e advogado Cláudio Pinho: suspeitos de envolvimento em suposto pagamento de propina a desembargadores
Projeto está orçado, atualmente, em torno de R$ 1,4 bilhão. Valor divulgado no início da obra foi de R$ 100 milhões
Foto divulgada pela Afipe, anos atrás, mostra o maior sino suspenso do mundo, produzido na Polônia e que será instalado na nova igreja em Trindade
Maquete eletrônica do projeto do novo Santuário do Divino Pai Eterno, cuja obra se arrasta há 12 anos
Santuário atual do Divino Pai Eterno, que atraía cerca de 3 milhões de pessoas, durante os dias de festa, entre junho e julho
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Antes de ser investigado pelo Ministério Público de Goiás por suspeita de desvio de R$ 120 milhões, padre Robson tinha fama e prestígio

Reprodução/Instagram
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Padre Robson e advogado Cláudio Pinho: suspeitos de envolvimento em suposto pagamento de propina a desembargadores

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Projeto está orçado, atualmente, em torno de R$ 1,4 bilhão. Valor divulgado no início da obra foi de R$ 100 milhões

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Foto divulgada pela Afipe, anos atrás, mostra o maior sino suspenso do mundo, produzido na Polônia e que será instalado na nova igreja em Trindade

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Maquete eletrônica do projeto do novo Santuário do Divino Pai Eterno, cuja obra se arrasta há 12 anos

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Santuário atual do Divino Pai Eterno, que atraía cerca de 3 milhões de pessoas, durante os dias de festa, entre junho e julho

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Obra do novo Santuário do Divino Pai Eterno começou em 2012, mas até 2021 havia avançado apenas 17%

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“Inúmeras provas”

O cartório vinculado à vara judicial vai precisa até de apoio da equipe de informática do TJGO para conseguir encaminhar ao STJ a grande quantidade de provas do caso. “Ontem [segunda-feira], estávamos com problemas para remeter as mídias”, explicou a juíza.

“[São] as mídias audiovisuais. O resultado das interceptações, dos espelhamentos dos celulares e de outros equipamentos eletrônicos”, afirmou ela. “Muito material. Inúmeras mídias”, asseverou.

As centenas de arquivos contêm provas sobre o suposto desvio de dinheiro de doações de fiéis para a Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), destinadas à construção do novo Santuário Basílica de Trindade. Iniciada em 2012, a obra tem apenas 17% do projeto executado.

“Estão indo”

De acordo com a juíza, nem o malote digital suportou os arquivos extensos de provas. “Mas estão sendo remetidas, estão indo. Estamos procurando a melhor forma. Hoje espero resolver essa questão”, afirmou ela.

Com a remessa dos processos e do imenso acervo de provas, o STJ assume ainda mais responsabilidade sobre o andamento do caso na Justiça e não fica limitado apenas ao julgamento de recurso no âmbito de ação criminal contra o padre.

 

Propina

Agora, o STJ também começa, de vez, a apurar a suposta propina a desembargadores, revelada em conversa gravada entre o padre e o advogado Cláudio Pinho, um de seus defensores.

“Se constatado o suposto envolvimento dos desembargadores em corrupção nas decisões da Vendilhões, a competência se deslocará para o STJ julgar todo o caso”, acentuou a juíza. “Só se houver provas de corrupção na própria Vendilhões, haverá conexão que justifique a mudança da competência”, continuou.

Os processos, de acordo com a magistrada, devem voltar para o Judiciário goiano se os indícios de corrupção se restringirem ao caso da fazenda.

Alvos da investigação

Um dia depois de o Ministério Público Federal (MPF) pedir ao STJ que investigasse a suposta propina, o presidente do TJGO, desembargador Carlos Alberto França, instaurou, em 24/2, sindicância contra os desembargadores Orloff Neves Rocha e Amélia Martins de Araújo, além do juiz substituto em segundo grau Roberto Horácio de Rezende.

Em 2019, o padre conseguiu reverter uma sentença desfavorável à Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe) até então presidida pelo padre, em julgamento de recurso na 1ª Câmara Cível do TJGO.

Os desembargadores reformaram decisão favorável a um empresário que vendeu uma grande fazenda para a associação, em Goiás, mas, em seguida, ele reclamou ter levado um calote de R$ 15 milhões.

Negociação de propina

Em conversa gravada e divulgada pelo Fantástico em fevereiro, o advogado aparece negociando suposta propina para desembargadores em reunião com o pároco e o então diretor jurídico da Afipe, Anderson Reiner Fernandes.

A gravação foi feita pelo próprio padre, em data não divulgada pelos investigadores, e flagrada no celular apreendido dele. Perícia técnica já constatou que os áudios não foram alterados e que a voz é mesmo do padre.

“É assim que funciona”

Na conversa, o pároco concorda com a proposta do advogado para pagamento de propina, que eles chamam de “apoio”, para conseguirem decisão favorável.

“Preciso ter elemento de negociação para eu, eventualmente, subcontratar apoios no Tribunal de Justiça. É assim que funciona. Eventualmente, você tem que conversar com um desembargador, identificar quais são os sub-apoios, e isso eles olham muito, o tipo de contratação que você tem”, disse o advogado.

O advogado segue com a explicação. “A gente apalavrou que colocaríamos (sic) R$ 1,5 milhão, tá? E pagos na decisão da segunda instância de duas formas: se a gente ganhasse tudo, anulasse tudo, isso em julho de 2019, pagava R$ 1,5 milhão. Se a gente anulasse a sentença e voltasse para que o julgamento fosse com todos os outros processos, pagava R$ 250 mil, só”, continuou Pinho.

Outro lado

Em nota, a diretoria da Associação dos Magistrados do Estado de Goiás (Asmego) informou que o encaminhamento da investigação ao STJ é procedimento natural, já que a corte é o órgão competente.

A Asmego disse, ainda, que a abertura de sindicância dentro do próprio Tribunal de Justiça de Goiás demonstra que a instituição busca a clareza dos fatos, de forma ágil, transparente e ética.

O TJGO informou que o andamento da sindicância é sigiloso e, por isso, não deu mais detalhes da investigação contra os desembargadores.

A reportagem tentou contato com promotores de Justiça responsáveis pela Operação Vendilhões, mas não obteve respostas até a conclusão desta reportagem.

A reportagem não obteve retorno do advogado Cláudio Pinho, que também é alvo de investigação na Ordem dos Advogados do Brasil em Goiás (OABGO).

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